Crítica: triângulo da tristeza satiriza o privilégio e ri de todos

CRÍTICA: Triângulo da Tristeza satiriza o privilégio e ri de todos

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Vencedor da Palma de Ouro de 2022, novo filme de Ruben Östlund expõe classe alta e seus padrões sociais ao ridículo. Leia a crítica

Hollywood descobriu um novo fetiche: filmes cujo tópico seja a banalidade ou a estupidez dos integrantes da classe alta. A discussão desses temas já é antiga por meio de muitas vertentes da cultura, mas, falando especificamente em mídia audiovisual, diretores e produtores de grandes estúdios encontraram um assunto para explorar até onde der.

Triângulo da Tristeza é mais uma dessas produções que reúne uma série de personagens que representam diversos estereótipos e os colocam em uma situação absurda — ou, no caso da trama de Ruben Östlund, vários absurdos — para vê-los em ação. Funciona quase como um zoológico do privilégio, onde ricos disputam entre si quem concentra mais poder.

The White Lotus, por exemplo, é um sucesso por discutir esse mesmo nicho. Enquanto a série é premiada pelo Emmy, Triângulo da Tristeza levou o maior prêmio do Festival de Cannes do ano passado — a Palma de Ouro, similar ao Melhor Filme do Oscar. Mas por quê? Talvez a conveniência do tema em alta com o prestígio do diretor tenha ajudado nisso.

Quem deve pagar a conta?

Crítica: triângulo da tristeza satiriza o privilégio e ri de todos
Em Triangle of Sadness, uma crítica ácida à superficialidade da classe econômica dominante. (Imagem: Diamond Filmes/Divulgação)

O filme situa um casal de modelos, Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean), que foram convidados para um cruzeiro de luxo, onde outros membros da classe A estão a bordo. Ela, influencer, ganhou o passeio de seus seguidores. Um acontecimento abala o destino dessa viagem e exige uma mudança de atitude de seus passageiros.

Triângulo da Tristeza começa com uma cena em que Carl faz um teste em uma agência de modelos para uma campanha publicitária. É dito em um dos diálogos que se a marca é cara, um bom modelo deve fazer uma cara séria. Caso seja de uma companhia barata, o mesmo precisa entrega uma feição sorridente. É neste nível de estupidez que o espectador vai se deparar. E piora.

O próximo cenário é um jantar caro em que o casal — já pedindo socorro por um término — discute sobre quem deveria pagar a conta. São 20 minutos de debate sobre este tópico como se esse fosse um dos maiores dilemas de suas vidas enfrentados nos últimos meses. O diretor Ruben Östlund, conhecido pelo também premiado The Square: A Arte da Discórdia, faz isso de propósito, e ainda ri de todas as situações.

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Elenco estelar brilha no conforto de ser estúpido. (Imagem: Diamond Filmes/Divulgação)

A lógica do absurdo passa por diversos momentos do longa, que é dividido em três atos. O mais longo se passa no navio comandado pelo capitão, interpretado por Woody Harrelson. É nesta parte também em que uma sequência extremamente escatológica acontece. Embora seu foco seja o humor escrachado, não há como não notar na qualidade técnica da filmagem, já que é tudo muito similar ao real.

De qualquer forma, a proposta aqui é evidenciar a hipocrisia e a falta de senso daqueles com complexo de superioridade apenas por estarem uma classe acima da maioria. O terceiro ato vai castigá-los veementemente.

Com quantos ricos se faz um pensamento lógico?

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Tripulantes de cruzeiro são postos à prova. (Imagem: Diamond Filmes/Divulgação)

Para contemplar alguns estereótipos, o diretor cria personagens que vão desde o fundador de uma empresa de tecnologia cujas atitudes beiram à subcultura dos incels até um casal de idosos simpáticos que lucram a partir de vendas de granadas de mão para guerra.

O elenco foi muito bem escolhidos e, apesar de algumas figuras aparecem e terem mais desenvolvimento que outras, o saldo é positivo. Além dos protagonistas, os destaques são Vicki Berlin, que faz a chefe do time a bordo, Zlatko Buric, um mafioso que ostenta uma “esposa-troféu”, e Dolly De Leon, líder da equipe de limpeza do navio que acaba desempenhando um papel importante no ato 3.

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Filme levou a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2022. (Imagem: Diamond Filmes/Divulgação)

Depois de todas as situações absurdas exploradas por Ruben, seus personagens estão ali para exemplificar o desespero pelo poder e a maneira como todos, humildes ou arrogantes milionários, perdem a inocência e gentileza pelo status, mesmo que estejam sob uma mesma situação caótica.

Vale a pena assistir a Triângulo da Tristeza?

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Recomendado para quem ama o novo gênero das produções hollywoodianas: zoológico de ricos. (Imagem: Diamond Filmes/Divulgação)

O premiado longa tem alguns fatores interessantes, mas não revoluciona como sua divulgação promete. A construção da narrativa acaba não dando espaço para desenvolver melhor os personagens. O filme, inclusive, é anticlimático. A tentativa de provocação na última cena deixa mais um espaço vazio para o público do que prolonga o raciocínio da sua crítica.

Ainda vale conferir o filme para cumprir a checklist do Oscar ou se você simplesmente curte ver o “circo pegando fogo”, principalmente se os palhaços do espetáculo forem os ricos. O título está em cartaz nos cinemas e disponível no Prime Video.

Quais as chances no Oscar 2023?

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Filme de Ruben Östlund pode sair do Oscar de mãos vazias. (Imagem: Diamond Filmes/Divulgação)

Triângulo da Tristeza está indicado a três categorias: Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original. É até curioso o longa não computar em nenhuma outra categoria técnica ou até mesmo de atuação (talvez de Dolly De Leon como coadjuvante), mas também não surpreende já que a premiação deste ano está bem concorrida.

A melhor chance do filme está em Melhor Roteiro Original. Talvez a sátira de Ruben tenha arrancada risadas o suficiente para entregar a estatueta a ele. Em relação aos dois prêmios restantes, a situação é improvável. O foco está em outros longas. Seria uma surpresa grande se este aqui levasse alguma dessas categorias.

E você, está torcendo pelo título? Não deixe de comentar abaixo o que achou.

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Acesse também outros conteúdos relacionados no Showmetech. Leia a nossa crítica de Os Banshees de Inisherin, um dos principais filmes desta temporada do Oscar.

Revisado por Glauco Vital em 9/3/23.

CRÍTICA: Triângulo da Tristeza satiriza o privilégio e ri de todos

CRÍTICA: Triângulo da Tristeza
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Vencedor da Palma de Ouro de 2022, novo filme de Ruben Östlund expõe classe alta e seus padrões sociais ao ridículo.
Vencedor da Palma de Ouro de 2022, novo filme de Ruben Östlund expõe classe alta e seus padrões sociais ao ridículo.
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