Série de heartstopper é irresistivelmente encantadora

Heartstopper é irresistivelmente encantadora

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Adaptação do quadrinho de Alice Oseman, a série de Heartstppper é a prova que clichês são bem-vindos quando bem utlizados

Ao mesmo tempo que parece confortável trabalhar com o clichê, se utilizar de uma estrutura narrativa com caminhos tão óbvios pode ser um grande desafio, principalmente em séries, onde o espectador geralmente dedica mais tempo a obra do que em um filme. Felizmente, a série de Heartstopper é um dos raros casos que o clichê lhe cai bem e acerta em cheio. Com uma história irresistivelmente efetuosa e encantadora, a nova produção original da Netflix é certamente uma das mais “maratonáveis” da plataforma.

História

A trama principal foca no meigo Charlie (Joe Locke) e no astro do rúgbi Nick (Kit Connor) se conhecendo no colégio. Mas logo essa amizade improvável começa a se transformar em romance. A partir daí, a dupla e seu círculo de amigos precisam encarar essa jornada de autodescoberta e aceitação, apoiando uns aos outros e aprendendo a ser eles mesmos.

Série de heartstopper é irresistivelmente encantadora
Alice Oseman criadora da HQ, também é roteirista da atação da série de Heartstopper (Imagem: Heartstopper / HQ)

A produção, uma adaptação quase literal da graphic novel homônima de Alice Oseman, se mostra uma grata surpresa ao levantar temas como bullying e aceitação dentro de um formato convidativo, gentil e quase didático.

Amor descomplicado

Se afastando de muitas produções recentes voltadas ao público adolescente – ao menos no mainstream – que pesam a mão na hora de retratar suas angústias, dramas e seu cotidiano com a desculpa de buscar um retrato realista da juventude, é revigorante ver a chegada da série de Heartstopper ao catálogo da Netflix, que prova ser possível criar uma narrativa que não ignora os problemas adolescentes (principalmente ao público LGBTQIA+), mas os aborda de maneira saudável e otimista.

Aliás, Heartstopper faz o simples como não víamos há tempos em comédias românticas: aqui o importante são os primeiros sentimentos caóticos e insanos, que se manifestam através de pequenos gestos e ações. Sem grandes provas de amor, aqui são os detalhes é que importam.

Série de heartstopper é irresistivelmente encantadora
Série foca nos detalhes da paixão adolescente, sem grandes dilemas ou provas de amor(Imagem: Reprodução)

Certamente, essa essência só foi capaz justamente por contar com a criação de Oseman, que além de uma excelente quadrinhista, ela foi muito competente roteirizando em uma nova mídia. Aliás, estar por trás das câmeras como roteirista e produtora, dá aos fãs esperança para que as possíveis futuras temporadas sigam o mesmo nível de excelência da 1.ª temporada.

Personagens

Charlie é o clássico desajustado do ensino médio. Ele é nerd, anda com os esquisitões, gosta de músicas alternativas. E ainda por cima, é gay. Claro que ele iria se apaixonar por Nick Nelson, praticamente o seu oposto: jogador de rúgbi bonitão e gentil, que por trás da postura popular, guarda uma faceta sensível e introvertida, que ainda está se descobrindo no mundo.

Série de heartstopper é irresistivelmente encantadora
Participação pontual de Olivia Colman em Heartstopper traz alguns dos moemtos mais tocantes da temporada (Imagem: Reprodução)

Os papéis de Harry Greene (Cormac Hyde-Corrin) e Ben Hope (Sebastian Croft) são daqueles que se encaixam no clichê da rejeição e homofobia sofrida dentro das escolas, mas ambos são funcionais. Bem como a pequena participação da mãe de Nick, interpretada por Olivia Colman, entrega alguns dos momentos mais tocantes da temporada.

Tao (William Gao) e Elle (Yasmin Finney), os melhores amigos de Charlie são bem mais que suporte emocional do protagonista, a dupla também passa por problemas pessoais, como o bullying sofrido por Tao e a transição de Elle para uma mulher trans, o que a obrigou a trocar de colégio.

Adaptação

Como citado acima, a série de Heartstopper é quase uma adaptação literal das HQs, as alterações das páginas para a série foram mínimas, mas não se esquecendo de trazer pérolas como o “62% de homossexualidade”, o resultado aqui é mais do que satisfatório e se torna uma tarefa difícil até para os mais exigentes criticarem.

Série de heartstopper é irresistivelmente encantadora
Adaptação da HQ é quase literal, tanto em texto, quanto na estrutura narrativa (Colagem: Showmetech)

Os traços simples e a cuidadosa utilização das cores dos quadrinhos foram muito bem adaptados na escolha de elenco, sobretudo ao casal protagonista, como pela composição das paletas da série. Embora não seja tão inspirada quanto o material original (por exemplo, quando Oseman usa cores predominantemente frias em momentos de insegurança ou quentes quando o amor entre o casal protagonista se floresce), é notório que a produção buscou transpor em tela as sensações imagéticas da obra original.

Trilha sonora

Assim como quase todas as séries teens, as trilhas incidentais não são marcantes, na verdade, os recursos de som são bastante discretos e funcionais para a trama. Entretanto, a playlist de músicas tocadas na série chama a atenção pelas bandas e artistas mais undergrounds, se aproximando muito do que seria uma mixtape selecionada música por música pelo próprio Charlie.

Entre os destaques ficam com as canções “Colours of You”, ‘Want Me”, “Dover Beach” e “Buzzkill”, todas da cantora Baby Queen; “Sappho”, da banda Frankie Cosmos e “Moment in the Sun”, da Sunflower Bean. Se você gosta de festas indies, essa é a playlist se encaixa perfeitamente.

Conclusão

Heartstopper é uma ótima obra referencial por diversas características que, de modo algum, são conflitantes. É um romance teen e isso de nenhum modo o torna menos atrativo para públicos mais velhos, pois possui um roteiro bem amarrado e convidativo, personagens carismáticos e uma mensagem de compreensão universal.

Aos que escondem opiniões homofóbicas travestidas de críticas, Heartstopper é do tipo de obra que se sustenta muito bem sozinha, que levante a bandeira da representatividade, mas nunca é dependente dela. Além disso, sua estrutura narrativa e de montagem, com oito episódios curtos, é ideal para quem adora maratonar séries.

Oseman deu sua mensagem, em duas mídias diferentes, e com o poder popular da Netflix, talvez ela pode ser difundida para um público maior: traumas não precisam ser expostos de maneira gráfica e também está tudo bem ser simples e se utilizar de clichês, basta colocar o coração no lugar certo.

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