CRÍTICA: Resistência é um fantástico filme de ficção científica sobre uma brutal guerra contra robôs

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Resistência (2023) é um belíssimo conto de muita luta e esperança sobre o futuro da humanidade em convivência com robôs, não perdendo certa conexão com conflitos bastante realistas.

O mesmo diretor de Rogue One: Uma História Star Wars (2016), Gareth Edwards, cria um mundo distópico e conflituoso em sua nova empreitada dos cinemas, Resistência (2023)The Creator, no título original. Ele imagina um mundo em que homens e máquinas têm uma relação muito profunda e filosófica, além de belicosa. 

O novo título surpreende e deixa a marca do diretor estampada nas telonas. Será difícil deixar passar despercebida a obra de ficção científica, sendo que ela não demanda conhecimento prévio e trata de imaginários bem tangíveis para a contemporaneidade, fazendo-se interessante para todos os públicos.

Veja a seguir o que o Showmetech achou do filme que tem estreia marcada para dia 28 de setembro, somente nos cinemas.

Narrativa de tirar o fôlego

Imagem de resistência (2023) - nomad é uma nave que orbita o planeta e a maior e mais importante arma dos eua. Com ela, o país imperialista vai aterrorizar vilarejos e templos orientais por muito tempo (imagem: imdb)
NOMAD é uma nave que orbita o planeta e a maior e mais importante arma dos EUA. Com ela, o país imperialista vai aterrorizar vilarejos e templos orientais por muito tempo (Imagem: IMDb)

Num planeta Terra futurista, as máquinas evoluíram e ganharam forma humanoide, além de avançadíssima tecnologia de inteligência artificial (IA) de cientistas da área. Elas, em forma de robôs humanoides, passaram a substituir e apoiar nas mais diversas profissões, inclusive na medicina. Além disso, aos poucos foram ganhando peles e olhos sintéticos, imitando perfeitamente seres humanos e sendo conhecidos como simulantes. 

Tudo ia bem e a robótica avançava de modo a incluir verdadeiros familiares dentro de nossas casas. Até que… uma falha na inteligência artificial dos EUA faz com que uma bomba atômica seja detonada em Los Angeles (!), por ordem de um único robô com falhas, matando milhares de pessoas. 

Desde o acontecimento, os EUA decidem proibir os robôs no ocidente, ainda imaginando-se num futuro em que fossem grandiosos e influentes neste lado da geopolítica internacional. Entretanto, os países do Oriente não adotam tal postura e continuam convivendo com seus parceiros e parceiras de metal, levando os políticos estadunidenses a entrarem em uma brutal guerra que assombrará tais territórios, impondo sua vontade. 

A premissa de Resistência é simples e nada original em seu roteiro, mas faz o básico e instiga até o final, com tramas muito bem construídas. Um ótimo filme para assistir de forma descompromissada. 

Efeitos (super) especiais

Imagem de resistência (2023) - a cgi está muito impressionante e convence sobre o futurismo do filme inteiro em todos os seus momentos (imagem: imdb)
A CGI está muito impressionante e convence sobre o futurismo do filme inteiro em todos os seus momentos (Imagem: IMDb)

Resistência é um show à parte em efeitos especiais. Tiros, muitas explosões, robôs minuciosamente desenhados digitalmente, aeronaves futuristas, entre outros elementos ganham as cenas. A obra parece se apoiar tanto neste recurso, tão desenvolvido atualmente e tão surpreendente, que chega a inflá-la, de forma exagerada, e até em cenas em que não é tão necessário, muito embora sejam poucas.

Apesar do exagero de CGIs, é possível sair completamente convencido(a) de cada cena de Resistência. É muito satisfatório como cada robô e suas particularidades são representados no universo que o diretor cria. O futuro distópico ali imaginado ganha asas e proporciona muito deleite visual graças a essas tecnologias, que alcançam o suprassumo da atualidade.

Não só o prazer visual da obra é muito impressionante, mas os efeitos sonoros e a trilha sonora (que conta com clássicas como Fly Me To The Moon e Clair de Lune, além de uma de autoria do Radiohead) ajudam a ambientar as pessoas espectadoras neste lugar único que somente obras de ficção científica conseguem fazer. São pontos extremamente positivos do filme e valem a ida ao cinema somente por si só.

Uma guerra sem nome

Imagem de resistência (2023) - alphie (madeleine yuna voyles), a criança simulante do filme, é a maior arma que todos os robôs do mundo podem possuir (imagem: imdb)
Alphie (Madeleine Yuna Voyles), a criança simulante do filme, é a maior arma que todos os robôs do mundo podem possuir (Imagem: IMDb)

Em Resistência, uma profunda e poética narrativa asimoviana ganha forma num mundo repleto de robôs, que possuem consciência e sentimentos e tentam conviver com os humanos da melhor forma possível em meio a uma cruel guerra que pretende aniquilá-los a todo custo. A força militar enorme do ocidente (lê-se os EUA, unicamente, já que a imaginação da obra gira em torno de um desastre em uma de suas principais cidades) contra povoados rurais e templares de diversos territórios orientais, sugerindo a região da atual Indonésia e evidenciando toda uma desigualdade em poderio militar.

Vários cenários distópicos são imaginados neste mundo castigado por uma máquina de guerra gigantesca, muito inspirados em Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982), inclusive, com máquinas e cidades opressivas. A beleza desses visuais, unidos a uma ótima direção de arte, dá um charme e um visual único ao filme inteiro.

Não só toda a questão futurista de robôs ganhando consciência e muita verossimilhança a seres humanos como até mesmo um aspecto religioso que eles chegam a expressar em sociedade. Apesar de pouco explorada, ela tem relação forte com a “arma” poderosa criada por esta civilização como resposta à guerra trazida pelos EUA. As características humanas em robôs são muito bem colocadas em cenas específicas, validando a ideia de que eles são, sim, seres bondosos e de boa convivência entre os humanos. Desde o início.

Entretanto, em decorrência de cenas muito frequentes de ação, o debate pouco se aprofunda a respeito disso, fazendo pouca referência a obras mais clássicas do gênero e enfraquecendo seu lado poético. Com esta realidade, há um desperdício claro ao não nomear inimigos e despersonificar – ou até anonimizar – políticos dos EUA, que sempre seguiram uma geopolítica grotesca, cruel e sanguinária do imperialismo, aliada ao militarismo.

Além disso, fica o sentimento grande de desesperança, ou de pouquíssima esperança, para o futuro. A obra carrega consigo uma atmosfera bastante triste e sufocante o tempo inteiro. Não que isso seja ruim, é claro, sua mensagem final é muito bela.

Mas qual a crítica? Às vezes, Edwards parece se perder do fio principal que tenta criar e esvazia uma crítica tão interessante que ele tenta construir em Resistência. Talvez um filme mais longo ou uma versão estendida daria chances para um ajuste neste ponto, mas por muitas vezes o foco principal parece residir no romance dos protagonistas e no espetáculo audiovisual do que na presença de um sentido crítico, mesmo com um poder reflexivo grande.

Humanos, robôs e atores/atrizes

Imagem de resistência (2023) - o filho de denzel washington, john david, interpreta um ex-espião melancólico em cenários conflituosos e se sai muito bem em sua atuação (imagem: imdb)
O filho de Denzel Washington, John David, interpreta um ex-espião melancólico em cenários conflituosos e se sai muito bem em sua atuação em Resistência (Imagem: IMDb)

Por último e não menos importante, um excelente elenco foi selecionado para o filme. Principalmente os protagonistas, Joshua (John David Washington), Alphie (Madeleine Yuna Voyles) e a Coronel Howell (Allison Janney), entregam muito em sua atuação e reforçam todo o imaginário criado para a obra. É em ambientes pesados e opressivos que o carisma dessas pessoas se encontra, corroborando todo o sentimento do filme.

Alívios cômicos são encaixados em algumas cenas com muita precisão, nas horas certas, e todos os atores e atrizes ajudam a tirar boas risadas dos espectadores(as), principalmente na primeira metade do filme. Coadjuvantes participam de forma incisiva também e conquistam a maior simpatia do público por menor tempo de tela que tenham. Seu carisma e toda a ação sufocante da situação belicosa da história faz com que eles extraiam o melhor da atuação nas telonas.

Conclusão

Embora o filme deixe a desejar nas questões levantadas antes, o que ainda pode ser um efeito da Marvel nos cinemas (para o bem e para o mal), Resistência traz questões muito interessantes que podem ser imaginadas de um jeito único num futuro distópico em que existe uma relação de amor e ódio autêntica entre humanos e robôs (ou simulantes). Trata-se, afinal, de uma questão muito em voga e nos leva a pensar em como será o futuro do planeta com o avanço irrefreável da IA como conhecemos hoje.

O diretor, Gareth Edwards, também deixa seu toque especial em todas as cenas e consegue expressar bem suas ideias, sem deixar muitos pontos abertos no final e sabendo extrair o melhor de cada ator e atriz presente em cena. Mesmo consciente de que não será seu estado da arte, a narrativa e o imaginário construídos por ele geram um debate a respeito da convivência entre humanos e máquinas bem elegante e interessante.

Para quem gosta deste tipo de filme ou do gênero em si (ficção científica), é quase que obrigatório ir aos cinemas dar uma conferida e tirar suas próprias conclusões. E mesmo para quem pretende e espera ver algo mais casual, Resistência entrega – e muito – como um desses transmitidos num domingo à tarde na TV aberta. Mais que recomendado a todas as pessoas!

Veja também:

Fontes: IMDb, Regency

Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim (28/09/23)

9/10
Total Score
  • Direção
    10/10 Excelente
    Gareth Edwards consegue consolidar sua pegada forte em ficção científica no cinema. Com mais Resistência (2023) no currículo, ele caminha para entrar no hall de diretores gigantescos de Hollywood e a prova disso está neste seu último filme. Atinge diretamente o coração de fãs de sci-fi e de um público mais casual, mesmo com alguns pontos a melhorar ainda.
  • Roteiro
    8/10 Ótimo
    Não deixa a desejar como uma história bem contada e personagens bem construídos e colocados nos momentos certos. Suas tramas não são as coisas mais originais que você verá por aí, mas deixa a assinatura bem feita, muito bem reconhecida das últimas obras de Gareth Edwards e Chris Weitz.
  • Fotografia
    9/10 Incrível
    As imagens do filme são belíssimas e carregam um ar muito futurista, capaz de expor materiais e CGIs muito bem feitos, também manifestando as expressões de talentosíssimos(as) profissionais da atuação.
  • Trilha Sonora
    7/10 Bom
    Constrói uma atmosfera moderna e entrega o básico ao tensionar em partes de ação e ao emocionar nos momentos de expressões mais emotivas dos personagens. Possui músicas próprias, mas fica muito dependente de faixas de artistas diversos, o que a enfraquece muito, de certa forma.
  • Atuação
    10/10 Excelente
    John David Washington e Madeleine Yuna Voyles estão lá para brilhar! São peças essenciais para o enredo e sempre se complementam em horas de plot twist e de momentos decisivos. A atuação é um dos pontos fortes do filme, mesmo ele sendo um pouco mediano para o gênero. Allison Janney e Gemma Chan, que interpreta Maya, também dão o seu máximo e entregam muito talento em cena

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