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No último dia 1 de fevereiro, chegou aos cinemas brasileiros um dos filmes mais aguardados do ano. Com distribuição da Searchlight Pictures, Pobres Criaturas (Poor Things, no original) surgiu causando os mais variados debates sobre os temas polêmicos que propõe ao longo de sua trama. No entanto, o que parece ser unanimidade é a qualidade técnica da obra que faturou um total de 11 indicações ao Oscar 2024, principal premiação no mundo para o universo da sétima arte.
Estrelado por Emma Stone (La La Land, 2016), Willem Dafoe (O Farol, 2019) e Mark Ruffalo (Spotlight: Segredos Revelados, 2015), o filme conta com direção de Yorgos Lanthimos (A Favorita, 2018) e roteiro de Tony McNamara (Cruella, 2021).
A trama de Pobres Criaturas
Em um puro ato de paixão pela ciência, o Dr. Godwin Baxter (Williem Dafoe) traz de volta à vida aquela que na sequência começou a criar como sua filha: Bella Baxter (Emma Stone). Com um cérebro ainda pouco desenvolvido, a criação de God, como é carinhosamente chamado pela moça, começa a se questionar sobre as mais diversas dúvidas que movem o mundo, com o forte desejo de explorar a realidade fora de sua casa.
Destinada a ir atrás de respostas sobre a existência humana e os seus desejos, Bella parte em uma viagem de descobrimento por alguns dos lugares mais simbólicos do planeta, experimentando as dores e as delícias de ser mulher em um mundo feito, em sua maioria, para os homens. Livre dos preconceitos de sua época, a protagonista passar a entender os significados de igualdade e libertação.
Destaques
Logo no início do filme, a primeira coisa da qual você se pergunta é: “Meu Deus! Ao que eu estou assistindo?” Pobres Criaturas começa em um ritmo envolvente já logo de cara. O principal efeito para isso são as imagens em preto e branco, os diálogos mirabolantes, enquanto o espectador busca entender o que acontece em cena, uma vez que a cada novo corte ele é responsável por absorver uma informação completamente diferente, que teoricamente pouco combinaria com o contexto.
Com o seu decorrer, a obra te faz entender melhor a situação na qual você está presenciando, e é aí que vem uma das maiores mágicas do longa-metragem de Yorgos Lanthimos: ele torna a sua visão comum perante à estranheza.
A primeira peça a influenciar tal ação é o personagem do Doutor Godwin Baxter, interpretado por ninguém menos que Willem Dafoe. Falar que o profissional responsável por papeis marcante do cinema está muito bem neste, é chover no molhado, além de um elogio pequeno demais. Dafoe é a alma de Pobres Criaturas.
De fato, uma constatação bastante ousada, uma vez que o seu personagem busca basear as suas decisões de vida em resultados científicos, evitando deixar que seus sentimentos influenciem no que faz ou deixa de fazer. Em uma das maiores decisões de sua carreira, God, como é propositalmente chamado ao longo da trama, já que a palavra em inglês significa “Deus”, dá vida àquela que tem a função de guiar o filme até o seu final: a pobre criatura Bella Baxter, interpretada por Emma Stone.
Elenco
“Bizarra” talvez seja a palavra que melhor descreve a atuação de Emma Stone em Pobres Criaturas. Desde o momento em que aparece em tela fica perceptível que aquele filme foi feito para ela. A personagem Bella Baxter, desenvolvida pelo roteirista Tony McNamara, foi explorada da melhor forma possível pela atriz, em todos os seus traços de personalidade, até a sua grande evolução.
Stone começa fazendo uma Bella completamente inocente, com a real mente de uma criança. O seu primeiro grande desafio se dá a partir desse momento. Com vasta experiência na carreira cinematográfica, Emma assume todos os trejeitos de uma menina desengonçada e birrenta que está determinada a conhecer o mundo do qual é cerceada. O trabalho da atriz impressiona tanto ao ponto de te deixar irritado com a manha da personagem. Tudo feito com uma maestria de tirar o chapéu.
Conforme vai descobrindo o mundo, Bella Baxter demonstra um forte desenvolvimento do seu pensamento sobre o mesmo. De tanto perguntar e deixar a sua curiosidade fluir, a personagem faz o próprio público se questionar sobre regras sociais banais do dia a dia, ao ponto de em alguns momentos você pensar: “É verdade, por que isso é assim?”. Ao passo em que Baxter descobre como a vida funciona, os espectadores são instigados a aprender junto com ela.
Acontece que a evolução da personagem só é possível porque a atriz evoluiu o seu trabalho em relação a mesma. É nítido o quanto Emma se entregou para o papel desde o primeiro momento. Passou da criança inocente para a mulher segura de si mesma e das decisões que tomou ao longo de sua trajetória.
Em Pobres Criaturas, o diretor Yorgos Lanthimos deixa clara a importância que tinha para ele fazer um filme que não fugisse dos debates e das cenas de sexo. Isso, inclusive, limitaria o potencial de Bella Baxter a um nível bastante raso. É recompensador demais saber que Emma Stone não só topou o desafio como também se jogou de cabeça na ideia. Com uma quantidade de cenas tão intensas ao longo da trama, é hipnotizante ver a atriz se entregando de corpo e alma ao trabalho que pode lhe render mais um Oscar. Não à toa, é a favorita para vencer o prêmio este ano.
Aspectos técnicos
Não é exagero afirmar que Pobres Criaturas eleva o patamar do cinema. Afinal, o longa-metragem dá uma aula de como usar, além da protagonista, personagens coadjuvantes que dão o ritmo ideal para a trama. Quando aparecem em cena, Willem Dafoe e Mark Ruffalo dão o tom da situação. A dupla brinca de atuar, completamente soltos em tela, para fazerem o que sabem de melhor.
O segundo aparece mais, é verdade. Até porque, acompanha Bella durante a grande maioria da história, muitas vezes servindo como o contraponto à curiosidade da protagonista. Mas Dafoe não deixa nada a desejar, fazendo o espectador esperar algo diferente toda vez que aparece em cena.
Mas a qualidade de Pobres Criaturas não está na apenas na atuação ou nos enquadramentos um tanto quanto singulares, que acompanham os momentos de estranheza e encantam ainda mais o público. Aliás, uma trabalho impecável de design de produção e fotografia, resultando em cenários que, ao primeiro momento, parecem desenhados à mão para cada cena. Outro destaque importante fica por conta da montagem do filme. Não deve ter sido nada fácil encaixar tão bem todo o conteúdo em um corte capaz de amplificar o grande trabalho de atuação, direção e roteiro.
Mas, ainda assim, Pobres Criaturas vai além disso tudo. A obra eleva o patamar do cinema ao mostrar que é possível sim falar sobre assuntos que são considerados tabus sociais de forma natural. Ao apresentar o sexo como ponto central, o filme oferece uma série de questionamentos e debates sobre as relações sexuais entre as pessoas e todo os “rituais” que envolvem a prática.
O desejo, a vontade e o prazer não devem ser suprimidos por regras moralmente aceitas, mesmo quando é comum a todos os seres humanos. É isso o que Pobres Criaturas também quer explicar. É a jornada pelo descobrimento daquilo que muitas vezes é escondido. De fato, abrindo portas para que outras obras possam fazer o mesmo ou se aprofundar ainda mais, futuramente.
Conclusão
Desde que chegou às telonas brasileiras, em 1 de fevereiro, Pobres Criaturas tem gerado uma porção debates sobre a sua história. Não é para menos. O filme desperta o sentimento de incômodo, de estranheza e de uma série de coisas fora de lugar.
A questão é que essa é a proposta do diretor Yorgos Lanthimos. A ideia do longa-metragem é instigar o espectador a se aventurar em uma viagem pelo descobrimento humano junto a uma das personagens mais carismáticas do cinema nos últimos anos.
Onde assistir
O filme da Searchlight Pictures recebeu um total de 11 indicações ao Oscar 2024, incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção. A obra tem aprovação de 92% da crítica especializada no site Rotten Tomatoes.
O longa-metragem está nesse momento em cartaz nos cinemas do país. Portanto, depois dessa crítica de Pobres Criaturas, aproveite para comprar o seu ingresso e não perca essa bizarra, mas marcante, experiência.
Assista ao trailer de Pobres Criaturas
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Fonte: Searchlight Pictures
Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim
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