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Quando Martin McDonagh fez ‘Na Mira do Chefe‘ (2008), ele fez questão de deixar seus astros o mais confortável possível. O resultado foi a ótima química entre Colin Farrell e Brendan Gleeson na tela. 15 anos depois, o cineasta repete a dose no delicioso ‘Os Banshees de Inisherin‘, um dos principais filmes do Oscar deste ano.
O seu premiado último filme, ‘Três Anúncios Para Um Crime‘, com Frances McDormand, investigava um acontecimento no interior dos Estados Unidos. Quase como uma válvula de escape, Martin viaja quilômetros — e décadas — para a fictícia ilha de Inisherin, na Irlanda, onde dois personagens vão entrar em conflito por um motivo não aparente.
O fim de uma amizade
No filme, Pádraic (Colin Farrell) vive com sua irmã Siobhán (Kerry Condon) em uma pequena casa na vila de Inisherin, onde cresceram juntos. Todo dia, ele visita Colm (Brendan Gleeson), amigo de longa data, para irem juntos ao bar local. Certo dia, Colm recusa o convite e diz não querer manter contato com Pádraic. Isso o desconcerta e ele busca entender o que aconteceu para chegar nessa atitude drástica.
Martin McDonagh já é conhecido pelos seus roteiros interessantes, mas aqui ele torna esses dois personagens tão cativantes que o espectador não cansa de acompanhá-los. Pádraic é um sujeito comum, que gosta de ter uma vida pequena nessa ilha simplória, assim como Colm, ou pelo menos era o que o personagem de Colin achava. À medida que assistimos ao desenrolar da trama, também conhecemos Inisherin, um local vasto e lindo, mas também isolado e de poucas oportunidades.
Inclusive, a forma como o diretor apresenta essa ilha marca o ritmo de toda narrativa. Os personagens estão em constante movimento, indo de um lugar para outro, resolvendo pendências ou se isolando de atritos. Com sua beleza peculiar, Inisherin integra a doçura e acoberta uma guerra silenciosa que começa a tomar maiores proporções ao longo do filme.
Uma guerra de fundo
Quando Pádraic se desloca para a casa de Colm, ele passa do lado da praia da ilha, onde é possível ouvir tiros e explosões do outro lado da terra firme. O longa se situa na época da Guerra Civil da Irlanda, resultado de um longo movimento para a independência do país sobre o Reino Unido. Em 1922, irlandeses entraram em conflito entre si por conta da assinatura de um tratado que criava um Estado Livre, mas ainda mantinha vínculos com os britânicos. A guerra se estendeu até 1923, com um grande saldo de vidas perdidas.
Martin McDonagh usa esse acontecimento histórico muito bem durante o filme. Ele não é muito falado, mas está presente como um fato oculto. Enquanto uma guerra física acontece do outro lado do oceano, uma espécie de guerra fria entre dois ex-amigos se estabelece. E o motivo é o que fica no ar. Quanto mais Pádraic insiste em uma explicação, mais Colm resiste em sua defesa.
A partir disso, o filme começa a sair da comédia e entra no absurdo. Situações drásticas começam a eclodir e tudo isso a custo de uma amizade mal resolvida. O resultado é a perda da inocência.
Vale mencionar o belíssimo trabalho de Kerry Condon como a irmã de Pádraic, uma figura empenhada e assertiva em suas ações, e de Barry Keoghan, que faz Dominic, um jovem que vive à beira da marginalidade. Ele, em especial, tem um gancho muito importante para a história. Nem sempre o estado crítico de uma situação está frente aos olhos, e obviamente Pádraic está muito ocupado tentando resgatar a atenção de Colm para perceber isso. Além disso, claro, toda a cidadezinha segue seus rituais sem muito tato para aquilo que não está à espreita.
Vale a pena assistir a ‘Os Banshees de Inisherin’?
Com tudo o que acontece e deixa de acontecer no filme, o saldo de ‘Os Banshees de Inisherin’ é bem positivo. Não só grandes atores conseguem entregar personagens completos e divertidos, como o diretor tem a capacidade de transitar entre tons narrativos de maneira bem competente. Filmagens belíssimas e uma trilha sonora marcante completam a experiência. Este é um daqueles filmes que justificam seu hype.
Quais as chances no Oscar 2023?
‘Os Banshees de Inisherin‘ está concorrendo a nove categorias no Oscar: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante (2x), Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Edição.
Infelizmente, mesmo com desempenhos brilhantes, as categorias de atuação estão sendo mais disputadas por outros concorrentes, como Brendan Fraser e Austin Butler em Melhor Ator e Angela Bassett em Melhor Atriz Coadjuvante. Salvo o caso de Daniel Kaluuya em ‘Judas e o Messias Negro‘, ter dois indicados do mesmo filme em atuação costuma dividir votos, o que prejudica tanto Brendan Gleeson quanto Barry Keoghan.
Melhor Direção também é uma categoria difícil neste ano. Provavelmente será entregue a Steven Spielberg por ‘Os Fabelmans‘, mas nunca se sabe. Já Trilha Sonora e Edição também estão vigiadas por outros filmes — ‘Babilônia‘ e ‘Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo‘, respectivamente. A maior chance deste filme no Oscar é em ‘Roteiro Original’, devido à ótima escrita de Martin. Esperamos que ele saia da cerimônia em março com, ao menos, uma estatueta.
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Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim
CRÍTICA: Os Banshees de Inisherin
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