Oppenheimer

CRÍTICA: Oppenheimer é de tirar o fôlego 

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A nova superprodução de Christopher Nolan traz às telas um dos mais importantes acontecimentos históricos em mais de três intensas horas de duração; confira nossa crítica

Oppenheimer traz às telas do cinema a trajetória de vida de uma das figuras mais controversas da História moderna em um filme longo, mas de ritmo frenético, temperado por efeitos especiais de tirar o fôlego e uma trilha sonora magnífica. 

Para fins puramente de crítica, tocamos em alguns pontos da trama do filme neste texto, mas fazemos o máximo para não estragar a sua experiência no cinema, caso queira ir assistir ao filme livre de possíveis spoilers

Oppenheimer
Cillian Murphy interpreta o infame físico que dá nome ao filme. (Imagem: Divulgação)

O homem por trás da bomba

De todos os filmes que Christopher Nolan escreveu e dirigiu até hoje, Oppenheimer é o que mais tem os pés no chão, visto que é uma obra baseada na mais pura realidade, a vida do homem sobre cujos ombros recai todo o crédito pelas bombas atômicas que pontuaram o final da Segunda Guerra Mundial. 

Mas há mais sobre essa figura histórica, muito além do que a própria História veio a dizer sobre ele e, de várias maneiras, a nova produção de Nolan expõe muito bem não só o lado dele e suas razões, mas também toda a podridão da gigantesca conspiração política que, junto de toda sua culpa, veio a atormentá-lo pelo resto de sua vida.

A alegoria que o filme utiliza para dar início às suas 3 horas e 9 minutos de duração é a de Prometeu, o titã que trouxe à humanidade o fogo, e que por isso acabou condenado por Zeus a passar a eternidade atormentado. A comparação da figura mitológica com um homem cuja fama acaba condizente com sua influência, já que sua criação, como o filme mesmo diz, mudou o rumo do planeta para sempre. 

Julius Robert Oppenheimer, o físico quântico americano que se tornou infame por ter sido um dos principais nomes por trás da criação da bomba atômica, é interpretado por Cillian Murphy (da excelente série Peaky Blinders) no filme. Oppenheimer narra sua vida desde o começo de sua carreira em Cambridge, onde tem o fatídico encontro com Niels Bohr (Kenneth Branagh, de Tenet), que o coloca em uma jornada que eventualmente leva a torná-lo conhecido mundo afora. 

Apesar do talento na área, no filme, Oppenheimer é mostrado como alguém cujo intelecto vai além da perigosa posição política em que se encontrou devido à sua criação, e como ela eventualmente é usada para assegurar a posição dos Estados Unidos na corrida armamentista contra a Alemanha na Segunda Guerra Mundial e, eventualmente, seu antigo aliado, a União Soviética.

Oppenheimer
Robert Downey Jr, no papel do ardiloso Lewis Strauss, é um dos destaques do filme. (Imagem: Divulgação)

Uma grande maquinação política  

É exatamente esse o ponto de contenção que coloca o personagem de Murphy na mira do ambicioso político Lewis Strauss (Robert Downey Jr). Strauss o coloca como peça central da Comissão de Energia Atômica, na qual o físico atuou e foi influente, como a obra de Nolan mostra muito bem, até que seu papel nela passou a ir contra os interesses do influente candidato ao Senado, que é totalmente contrário ao posicionamento moderado de Oppenheimer quanto ao papel de armas de destruição em massa no cenário mundial.

O posicionamento abertamente esquerdista de Oppenheimer o deixou em maus lençóis com os membros do governo da época, mais efetivamente durante a caça às bruxas do pós-Guerra. Mesmo ele nunca tendo formalmente se ligado ao Partido Comunista, desde sua época de professor de faculdade, apoiou movimentos de sindicalização dentro do campus, sem falar de sua conexão a pessoas que eram declaradamente comunistas. 

Dentre os perseguidores, em especial, está Strauss, com quem Oppenheimer em muitos momentos da trama do filme se desentende e troca farpas, dando munição para a eventual vingança de cunho pessoal do político, que maquina, nos bastidores, toda uma jogada com a qual ele espera arruinar o físico, cuja cara veio a estampar capas de revistas como a Time, pelo seu papel no final da guerra e na corrida armamentista.   

Alvo do Macarthismo, o chamado “pai da bomba” se vê, no filme, enquadrado em uma conspiração política em busca de simpatizantes do regime soviético, partindo de dentro de seu próprio complexo de pesquisa em Los Alamos, no Novo México, criado para o desenvolvimento em segredo da poderosa arma sob a corpulenta vista do General Groves (Matt Damon). 

Essa arapuca vem a atormentá-lo e sua esposa, Kitty (Emily Blunt), por décadas, muito após o final da Grande Guerra e adentro à Guerra Fria, com o advento da sucessora de sua arma, a chamada “Super”, a Bomba-H. Oppenheimer se coloca publicamente contra o desenvolvimento dela, depois de ver como seu projeto acabou sendo usado. Ele vê o uso de armas como a sua como um meio de colocar o mundo em uma espécie de paz, movida pelo princípio de deterência nuclear entre as superpotências. 

No filme, essa faceta da vida dele é mostrada em forma de recortes, com vislumbres à audiência a portas fechadas na qual Oppenheimer participa e passa pela máquina paranoica encabeçada pelo FBI de J. Edgar Hoover, em um jogo de cartas marcadas no qual ele está fadado a perder. Há também pedaços do comitê de nomeação ao Senado de Strauss, onde o seu complô contra Oppenheimer eventualmente vem à tona.

Oppenheimer
O teste da bomba é um dos momentos mais tensos de Oppenheimer, pontuado pela maestria em sonografia da produção. (Imagem: Divulgação)

Tensão ao sabor de Nolan

Este não seria um filme de Nolan se não houvesse toda a bombástica apresentação pela qual o diretor e roteirista é tão conhecido; Oppenheimer a todo momento é regido por uma excelente trilha musical, composta por Ludwig Göransson, que de forma intensa e bombástica guia o filme de cena a cena, quase que ininterruptamente. 

Há também curtas pontadas da mente do personagem principal, em forma de representações visuais dos átomos, estrelas e demais elementos físicos, acompanhados de efeitos sonoros que sacodem salas equipadas de sistemas de som potentes, como o IMAX da cabine de imprensa.

Como há de se esperar, Oppenheimer conta com efeitos especiais incríveis, que se fazem presentes tanto nesses lampejos como, claro, no momento climático do filme em que é conduzido o teste da bomba em meio ao deserto de Alamogordo, no Novo México. Curiosamente, em cenas como esta e em outra, de peso similar na trama, o som é literalmente sugado pela tensão em tela, sobrando somente poucos ruídos, o que contribui para aumentar o impacto desses momentos.

Crítica: oppenheimer é de tirar o fôlego . A nova superprodução de christopher nolan traz às telas um dos mais importantes acontecimentos históricos em mais de três intensas horas de duração; confira nossa crítica
Oppenheimer conversa com Teller (Benny Safdie), com quem trava uma rivalidade no decorrer da trama. (Imagem: Divulgação)

Conclusão

Oppenheimer traz ao cinema a experiência da contação da vida de um controverso personagem da História moderna, com o pano de fundo da política da época que colocou seu nome nos ouvidos e sua fronte nos olhos do mundo, e da guinada que sua criação causou no rumo da Humanidade. 

A trama, no geral, é complexa e traz muitas reviravoltas, com a participação de diversos nomes conhecidos e desconhecidos atrelados ao período histórico do filme. Ela se serve também de presenças ilustres como a de Albert Einstein (Tom Conti, do clássico Amor e Boemia), que de certa maneira é o mentor de Oppenheimer, por exemplo, dentre inúmeras outras. 

Isso sem contar com as participações de grandes atores, como Gary Oldman (o Comissário Gordon da trilogia Batman de Nolan), quase que irreconhecível no papel do presidente americano, Harry Truman, por alguns minutos, dentre o grande elenco, que também inclui nomes da nova guarda, como os de Rami Malek e Florence Pugh. 

Oppenheimer tem um ritmo alucinante e intenso e faz muito bem uso de seus elementos de produção para conduzir essa história, mas que em alguns momentos toma um caráter de um drama de julgamento, deixando de lado, mesmo que por pouco tempo, a desenfreada corrida à conclusão da bomba e a sua entrada nos anais históricos, a qual bem sabemos, que ocorre na segunda metade do filme.    

É válido citar que o foco do filme, por ser a figura de Oppenheimer, acaba deixando um pouco de lado alguns dos outros importantes participantes do processo de desenvolvimento da bomba atômica, o que o roteiro dá um jeito de explicar, acontece devido à própria condução do Projeto Manhattan, através da “compartimentalização” de funções dentro do extenso projeto.

Visto isso, caso Oppenheimer venha a despertar seu interesse pelo assunto, a leitura do quadrinho francês “A Bomba”, de Didier Alcante e Laurent-Frédéric Bollée, é mais que recomendada. Ela traz aspectos de todo o sentimento anti-bomba dentro do grupo de cientistas responsáveis pelo desenvolvimento do revolucionário armamento, como Fermi e Szilard, que fazem somente pequenas pontas no decorrer do filme, em seu esforço contra o uso ativo das bombas atômicas. 

Oppenheimer
Cillian Murphy dá vida ao controverso ícone histórico que foi Oppenheimer (1904-1967) (Imagem: Wikipedia)

Trailer

Confira o trailer desta que é um dos melhores trabalhos do diretor, alcançando uma pontuação de 94% no Rotten Tomatoes:

Não deixe de conferir críticas da sétima arte aqui no Showmetech como esta:

Fontes: Wikipedia [1], [2]

Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim (18/07/23)

Oppenheimer

Oppenheimer
93 100 0 1
93/100
Total Score
  • Direção
    90/100 Incrível
  • Roteiro
    80/100 Ótimo
  • Edição
    100/100 Excelente
  • Elenco e atuações
    90/100 Incrível
  • Trilha sonora
    95/100 Excelente
  • Visuais e efeitos especiais
    100/100 Excelente

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