O destino de uma nação 005

Crítica – O Destino de uma Nação

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Veja nossa crítica sobre o filme O Destino de uma Nação. Será que vale a pena assistir no cinema?

O Destino de uma Nação (Darkest Hour, 2017) é um filme que conta a história de Winston Churchill dias antes de ser nomeado 1º Primeiro Ministro da Inglaterra, bem como a quase impossível tarefa de salvar o país da derrota iminente perante Hitler. Ele foi dirigido por Joe Wright, que tem no currículo ótimos filmes, como Orgulho&Preconceito (Pride&Prejudice, 2005) e Desejo e Reparação (Atonement, 2007).

No último final de semana, o filme conquistou o prêmio de Melhor Ator de filme – Drama no Globo de Ouro (Clique aqui para ver todos os ganhadores), que ficou merecidamente com Gary Oldman, que fez um trabalho esplendoroso ao interpretar o maior britânico de todos os tempos, segundo a própria população inglesa. Mas vamos ver se o filme como um todo também é bom.

Enredo

Se você já conhece um pouca da história da segunda guerra mundial ou assistiu alguns filmes relacionados, O Destino de uma Nação se torna ainda mais interessante. Receio que para o público que desconhece essa parte da história, o primeiro ato possa ser um pouco monótono e também confuso, já que Joe Wright, junto com o roteirista Anthony McCarten, pressupõem que você já conhece o contexto histórico.

Mas, para resumir: estamos em 1940 e Hitler está conquistando a Europa com toda a sua voracidade e violência. A França está prestes a cair e, para ajudá-los, a Inglaterra envia centenas de milhares de homens. Porém, o rápido e eficaz avanço do exército nazista encurrala mais de 400 mil soldados britânicos, franceses e belgas na praia de Dunquerque, onde ficam totalmente à mercê dos tanques e stukas alemães. Em outras palavras, com uma ordem de Hitler, a Inglaterra perderia todo seu exército.

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Com a derrota iminente, o governo britânico exige a renúncia do então Primeiro Ministro, Neville Chamberlain. Em seu lugar, entra Winston Churchill, mas sob muita desconfiança e longe de ser uma unanimidade entre os seus pares. Churchill era tido como inteligente, porém arrogante e sem bom senso. Além disso, sua experiência como Primeiro Lorde do Almirantado, durante a Primeira Guerra Mundial foi desastrosa, já que a Batalha de Gallipoli rendeu mais de 160 mil mortes e um enorme gasto financeiro.

Outro fator que contribuía para a desconfiança dos parlamentares era que Winston Churchill já havia trocado de partido duas vezes. Isso mostrava que ele era um homem mais preocupado com as próprias ambições do que com os partidos. Além disso, ele se recusava a negociar os termos de paz com Hitler, o quê, na época, parecia ser a única saída. Esse é apenas um pouco do contexto histórico, que ajuda a entender melhor o primeiro ato do filme.

Cinematografia

A execução do longa é muito bem feita. Algo que me chamou atenção ao longo de toda a projeção foi a forma como a fotografia e os planos de câmera conversam com a narrativa. Um exemplo bem claro é quando os políticos do departamento de guerra estão conversando sobre os rumos que ela tomará. Nesse ponto são mostrados algumas poucas cenas do front de batalha. O detalhe é que elas são mostradas por um plano superior, ou seja, a câmera filma de cima, numa clara alusão de que aqueles políticos viam a guerra por um patamar superior.

Quando o diretor decidia mostrar a cidade e seus cidadãos, também sempre o fazia de cima, com o mesmo objetivo. Os parlamentares e a realeza estava acima do povo, daí aquela perspectiva.

Outro exemplo bem interessante de como os planos escolhidos pelo diretor conversam com a narrativa é quando Winston Churchill vai para um cômodo reservado e liga para o presidente americano Franklin Roosevelt, em busca de ajuda. Nesse momento o Primeiro Ministro já está quase desesperado, sem saber como tirar seus homens de Dunquerque. A câmera, lentamente, se aproxima do rosto do ator, dando a impressão de que as paredes estão se fechando e d que Churchill está sendo esmagado pelo desespero. Esses são apenas alguns exemplos dos ótimos planos de câmera escolhidos pelo diretor.

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A fotografia também merece destaque. Ela ficou à cargo de Bruno Delbonnel, que também têm ótimos trabalhos, como O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d’Amélie Poulain, 2001) e Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum (Inside Llewyn Davis, 2013). Em O Destino de uma Nação ele escolheu usar uma fotografia bem escura, eu diria até sombria e tenebrosa.

E isso condiz com o título original do filme, Darkest Hour, que numa tradução literal significa “A hora mais escura”. Os ambientes são, em sua maioria, fechados e soturnos. A iluminação sempre é fraca e o diretor de fotografia escolheu escurecer ainda mais o filme na edição.

Em algumas cenas ele brinca com esse conceito. Em uma delas Winston Churcill está subindo em um elevador. Tudo em volta está preto, apenas o elevador está iluminado. Em outro momento, a câmera se afasta do protagonista e vai para detrás de uma porta. Novamente, tudo em volta fica preto e vemos apenas o rosto de Churchill por uma pequena janela de vidro na porta. Tudo remete a escuridão que ronda a Inglaterra nesse período.

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Enfim, a cinematografia de O Destino de uma Nação é simplesmente maravilhosa e um dos pontos altos do filme.

Atuações

Porém, a grande estrela do filme é mesmo Gary Oldman. Parece que esse filme foi feito para ele. Podemos fazer um paralelo com Daniel Day-Lewis no filme Lincoln (2012). E isso não acontece simplesmente por que Winston Churcill é o protagonista da trama, mas por que Gary Oldman fez um trabalho absolutamente impecável na sua construção do Primeiro Ministro.

O trabalho feito pela maquiagem também foi espledoronso, já que eles conseguiram mudar totalmente o rosto do ator. Colocaram uma careca, uma papada sob o queixo e todas as outras características de Churchill. Embora a maquiagem tenha seus méritos, Gary Oldman não a usou como uma muleta.

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A forma como ele fala, o modo como ele anda, a corcunda que ele cria, os trejeitos e os tiques do personagem, especialmente os movimentos que ele faz com a boca, tudo isso demonstra o quão magistral foi a interpretação do ator. E o diretor não tem medo de dar closes no rosto de Gary Oldman, pois ele sabe que até a feição e o olhar do personagem querem dizer muita coisa.

O interessante é que o ator muda até o jeito de falar, dependendo da situação. Quando está discursando no parlamento ele é mais eloquente, quando está irritado usa outro tom e volume da voz, quando está pedindo ajuda ao presidente norte-americano já vemos outra entonação e também quando ele diante do Rei George VI. Como você deve saber, George VI era gago, como foi muito bem demonstrado no filme O Discurso do Rei (The King’s Speech, 2010).

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E sempre que Winston Churchill estava falando com o Rei, ele falava de uma forma mais lenta, quase gaga e isso gera ótimas cenas de sarcasmo. De fato, a atuação de Gary Oldman está impecável, em todos os sentidos. Eu não sei quem serão os outros indicados ao Oscar de Melhor Ator, mas, em minha opinião, Gary Oldman merece levar a estatueta.

Erros e defeitos

Óbvio que O Destino de uma Nação não é perfeito. Embora seja um ótimo filme, ele tem seus erros e defeitos. O que mais me incomodou foi o revisionismo histórico que ele apresenta no segundo ato e, especialmente, no terceiro. Quem conhece um pouco da história de Churchill sabe que ele era um homem que seguia as ideias de seu tempo, como por exemplo a proibição do voto feminino e a esterilização de deficientes.

Ele também acreditava que os europeus eram superiores aos demais povos e, por isso, tinham o direito de colonizá-los e explorá-los. Sabemos também que ele não era muito chegado aos negros e não ligava para os direitos das mulheres.

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Porém, no filme, vemos um Churchill que concede privilégios especiais a uma secretária e aceita ideias de um homem comum, negro e pobre. Entendo que essas atitudes estão de acordo com a consciência que temos hoje enquanto sociedade, mas não era assim que as coisas eram na época. Acho que essa faceta devia ser explorada com mais fidelidade.

Outro ponto que não curti tanto foi a atuação de Ben Mendelsohn como o Rei George VI. Talvez eu esteja muito apegado à interpretação de Colin Firth no já citado O Discurso do Rei, que inclusive ganhou o Oscar de Melhor Ator naquele ano. Em minha humilde opinião, Ben nos entrega um rei sem carisma e que falha até em sua característica mais preponderante: a gagueira.

Conclusão

Para finalizar, O Destino de uma Nação é um filme sombrio, pesado, mas que em seu final consegue ser empolgante e motivador, em especial nas cenas dos icônicos discursos de Churchill, como o Sangue, Suor e Lágrimas, que é feito quando ele assume o cargo de Primeiro Ministro e o Lutaremos nas Praias, que é feito via rádio depois do sucesso do resgate dos soldados encurralados em Dunquerque.

A direção e fotografia do filme são um deleite para os amantes da sétima arte e a atuação de Gary Oldman com certeza paga o ingresso! Sem dúvida nenhuma, é um ótimo filme!

Nota: 8/10

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