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Depois de dois anos de espera, Maxxxine, desfecho da aclamada trilogia slasher X chega às telonas, sendo protagonizado, mais uma vez, por Mia Goth, e dirigido por TI West. O diretor esteve à frente de outros filmes de terror, como V/H/S (2012) e A Cabana do Inferno 2 (2009), mas foram X – A Marca da Morte (2022) e Pearl (2022) que o concederam a marca de queridinho do gênero e, de quebra, a responsabilidade de segurar a barra de muitas expectativas sobre a trilogia de filmes.
Sem mais delongas, será que Maxxxine é bom? O novo filme da Mia Goth atendeu às expectativas dos fãs entusiasmados pela conclusão da trilogia? Confira na nossa crítica de Maxxxine!
História
Como sair imune de traumas após ser a única sobrevivente de um massacre, onde todos seus amigos foram assassinados, e de ter que fazer justiça com as próprias mãos para conseguir escapar? Não acho que exista uma forma disso acontecer, e Maxine (Mia Goth) com certeza concorda.
Alguns anos depois desse evento “turbulento”, a personagem reaparece lutando para conseguir o lugar ao Sol que tanto almeja. Nessa altura de sua trajetória, ela já construiu um caminho sólido como atriz de filmes adultos, e é até reconhecida na rua por fãs alvoroçados com suas performances. Mas, como a própria Maxine diz, ela não vai aceitar uma vida que não merece, e claro, ela merece mais.
“Qual grande atriz começou sua carreira em filmes de terror?” ela pergunta ao amigo Leon (Moses Sumney) logo após receber a notícia de que protagonizará seu primeiro trabalho fora da indústria pornô, o filme de terror A Puritana 2. Essa cena, assim como muitas outras que acontecem nos bastidores da produção fictícia, homenageiam a relevância do filme de terror na indústria cinematográfica, que por muitas vezes foi diminuído, e até ridicularizado.
Elizabeth Bender (Elizabeth Debicki), diretora de A Puritana 2, que dentro da trama também dirigiu a prequel, se firma como artista diversas vezes, jogando de lado a falsa ideia de que estar atrelada a filmes de terror é para amadores. O cenário de um desses diálogos é estacionamento de Bates Motel, eternizado em Psicose, clássico que revolucionou o terror em 1960.
Mas nem tudo são flores. Mesmo que esteja festejando a conquista, os fantasmas do passado não deixam Maxine em paz. As lembranças sangrentas a atormentam nos momentos mais inoportunos, atrapalhando sua relação com si mesma e com seu novo trabalho. Até mesmo para a jovem, que alcançou o sonho de estrelar em Hollywood, viver sem sentir calafrios com os terrores que presenciou parece impossível.
A metalinguagem vai além da relação entre o filme de terror que assistimos, e aquele que está acontecendo dentro da própria tela. Maxine protagonizou um horror de verdade, e agora, tendo que interpretar um, parece que a ficção está se misturando com a realidade em sua cabeça.
Mas será que a abominação estaria limitada apenas aos seus pensamentos? Como um pesadelo inexplicável que escolheu a pior hora para ganhar vida, um serial killer aterroriza a cidade, assassinando jovens mulheres e deixando marcas no dia a dia da população, incluindo Maxine.
O que o intitulado Night Stalker teria a ver com Maxine? Ela não sabe, entretanto, a polícia já reparou que o rastro de sangue sempre acaba apontando para a moça. E a protagonista, em meio a isso tudo, se vê dividida entre sua carreira, os traumas que a assombram, e o perigo à espreita do novo assassino da cidade.
Será que Maxine está envolvida nos assassinatos? Ela conseguirá lidar com seus traumas e finalmente virar uma grande estrela do cinema?
Crítica
O novo filme da A24 busca explorar a vida da protagonista e quem ela se tornou após vivenciar os horrores de X. Aqui, ela está mais madura, reservada e cautelosa, buscando não se envolver em problemas, e deixar o passado em seu lugar: enterrado a sete palmos do chão.
O ritmo do filme pode causar estranheza por conta disso. Não sabemos se Maxine está arquitetando alguma coisa ou apenas se encontra entorpecida, e em alguns aspectos essa dúvida caiu como uma luva, mas em outros momentos a reticência passou do ponto e amornou a temperatura do suspense. Isso não é necessariamente ruim, mas é um aspecto diferente dos filmes anteriores e causa certo estranhamento para quem se impressionou positivamente com o ritmo de X e Pearl.
Em questão de desenvolvimento, o filme se sai bem, mas sem fatores excepcionais. A ambientação oitentista e o estilo neo-noir foram divertidos de acompanhar, dando um contraste bem-vindo com as cenas ultra sanguinolentas e gore. Os elementos clássicos como os enquadramentos “esquisitos”, a fotografia contrastante fazendo interessantes jogos de sombra, e a trilha sonora imersiva também estão presentes.
Até aí tudo bem, a aura misteriosa faz parte dos filmes neo-noir, e a própria dualidade dos personagens tornam as obras mais atraente. Nunca sabemos o que estão pensando de fato, o que estão sentindo e o que farão logo em seguida, suas atitudes também podem ser duvidosas e difíceis de compreender.
Essa cadência demora um pouco para engatar, mas quando engata, funciona bem. No meio do filme o cinema inteiro já estava segurando a mão de Maxine, com sobrancelha descolorida e tudo.
[PODE CONTER REVELAÇÕES DA TRAMA A PARTIR DAQUI]
Mas o terceiro ato muda tudo. A conclusão para a problemática foi dada repentinamente, e explicada “de qualquer jeito”. Foi inserida de supetão, numa rajada que não fazia jus ao andar do filme até então. A impressão foi que investiram tanto tempo e desenvolvimento intelectual na nova Maxine, que esqueceram que o filme precisava de um desfecho à altura.
Quando o trailer foi anunciado, o gancho de misturar true crime com ficção pareceu muito atraente e promissor. “Caramba, eles vão mandar muito bem nessa“, pensei. Já estava arquitetando as possíveis conexões entre o Night Stalker verdadeiro e a Maxine fictícia. Nesse texto aqui, até elaborei uma teoria de que Maxine poderia ser uma das vítimas do assassino, já que uma das primeiras mulheres a sofrer na mão do serial killer também se chamava Maxine.
Um fato tragicômico sobre Maxxxine foi que, na sala de cinema, o rolo de exibição teve uma sequência de “engasgues”, justamente quando o filme começou a desgringolar. Eu, e pessoas ao meu redor, já estávamos pensando que aquilo fazia parte da produção. “Pronto, essa é a resposta, tudo não passava de uma enganação do próprio filme! Espertos demais!“. E não, não era. Foi apenas um erro mesmo. Entre muitos desse desfecho.
Maxxxine, no fim das contas, foi uma montanha-russa com muitas voltas emocionantes, que, logo antes do último looping, sofreu uma falha técnica que fez o carrinho enguiçar, e obrigou todo mundo a terminar o percurso a pé.
Atuações
Tivemos grandes nomes no elenco, como Kevin Bacon, Lily Collins, Halsey, Michelle Monaghan e Bobby Cannavale. Porém, outros integrantes do elenco tiveram mais destaque — e tempo de tela.
Mia Goth
A neta da atriz brasileira Maria Gladys é um acontecimento na trilogia X. Mia Goth criou sua marca ao interpretar Maxine em X e Pearl, e a tal dualidade do neo-noir foi muito bem executada por ela em Maxxxine. Entretanto, mesmo que a atriz seja uma figura bem certeira dos filmes de terror psicológico, seu talento não foi suficiente para salvar a execução do filme.
Ela conseguiu reluzir em algumas partes, mas o resto do roteiro não a contemplou como poderia.
Elizabeth Debicki
Elizabeth Debicki interpretou a princesa Diana na aclamada série The Crown (2016), e sua participação no filme deixou muitos fãs entusiasmados. Sua personagem, diretora do filme que Maxine iria protagonizar, não a beneficiou muito. Mesmo que Elizabeth tenha interpretado a diretora, também chamada de Elizabeth, com a altivez necessária, faltou profundidade.
Giancarlo Esposito
Giancarlo Esposito deu vida a Teddy, agente de Maxine, um personagem muito aquém de suas habilidades. Ele foi um alívio cômico extremamente cativante, mas dispensável para a história. De qualquer forma, todo carisma foi mérito de Esposito, que depois de Breaking Bad, Better Call Saul e The Boys, já se firmou como um ator capaz de envolver qualquer público.
Trilha sonora
A trilha sonora foi produzida pela A24 Music, e composta por Tyler Bates, o mesmo que compôs a trilha de X, Pearl, John Wick 4: Baba Yaga, e esteve envolvido na trilha do grande ícone das soundtracks de cinema, Guardiões da Galáxia.
A trilha sonora mistura sons ambientes profundos e intensos para acentuar o suspense noir com músicas oitentistas agradáveis e animadas. O toque perfeito para situar a trama da protagonista perdida e imersa no caos, ao mesmo tempo que ressalta a loucura dos anos 80, com festas regadas a álcool, drogas e promiscuidade.
Conclusão
O hype gerado por X e Pearl infelizmente influenciou negativamente Maxxxine. Talvez, sem as altas expectativas dos filmes anteriores, Maxxxine pudesse ter mais espaço para brilhar. Pode-se dizer que foi um grande acerto de TI West nos dois primeiros filmes, ou um grande erro no último.
Concluindo, Maxxxine é um bom filme para se apreciar com a mente vazia. Estamos falando de um lançamento da A24, portanto, mesmo com pé atrás, sabemos que é quase impossível que um filme da produtora seja ruim, principalmente com Mia Goth no elenco.
Onde assistir
Maxxxine estreia dia 11/07/2024 em todos os cinemas nacionais. Ainda não há previsão de lançamento nas plataformas de streaming.
Leia também: Veja os lançamentos do cinema em julho de 2024
Maxxxine não empolga
Maxxxine não empolga-
Roteiro5/10 Indiferente
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Direção6/10 Normal
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Trilha Sonora8/10 Ótimo
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Desenvolvimento6/10 Normal
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Atuação8/10 Ótimo
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