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Baseado no livro homônimo de Blake Crouch de 2016, Matéria Escura — ou Dark Matter — chegou no começo do mês exclusivamente na Apple TV+, com o próprio autor atuando como o showrunner e roteirista do seriado. O sci-fi logo chamou atenção dos assinantes pela proposta mais sombria, misturando os clássicos elementos narrativos do multiverso com a pegada de suspense e drama, sendo cravado como uma das produções mais promissoras do ano.
A distopia original da Apple TV+ tem episódios lançados semanalmente às quartas-feiras, estendendo sua trama até o dia 26 de junho por meio do nono episódio. Antes de maratonar os atuais três episódios liberados pelo serviço de streaming, venha conferir se a série Matéria Escura é boa.
Crítica de Matéria Escura
Antes de seguirmos com a crítica de Matéria Escura, destaco que as impressões serão sem spoilers, a fim de não estragar sua experiência inicial, e que todas as informações expressas por este artigo já foram mostradas em sinopses, trailers e materiais de divulgação pela própria Apple. Separamos, por ora, alguns pilares avaliativos entre roteiro, atuação e direção.
Com a brasileira Alice Braga no elenco, a narrativa de Matéria Escura conta sobre o professor de física Jason (Joel Edgerton), que vive sua vida feliz ao lado de sua esposa curadora de artes (Jennifer Connelly) e de seu filho de 15 anos (Oakes Fegley) em Chicago, mas sente que deveria viver mais experiências. Em uma noite, após comemorar em um bar com seu amigo cientista Ryan (Jimmi Simpson) suas conquistas acadêmicas, Jason é sequestrado e dopado por um homem mascarado, que o obriga a tirar seus pertences e a trocar de roupa com o sequestrador.
Após desmaiar, Jason percebe que não é mais casado com sua esposa e tampouco tem um filho; trata-se de uma realidade onde Jason é um cientista prestigiado e líder de uma pesquisa que utiliza os conceitos trazidos pela ideia da Caixa de Schrödinger e da mecânica quântica para deslocar-se em realidades paralelas. E não só isso: o sequestrador é ele mesmo. Agora cabe ao professor de física tentar voltar ao seu mundo; e ao cientista renomado Jason fazer de tudo para se manter na realidade do seu “outro eu”.
A explicação de um multiverso mais científico e sombrio
Um dos pontos que trouxeram mais holofotes à trama foi o conceito do multiverso — novamente usado pelas grandes produtoras — sem fantasias ou elementos abstratos, como vimos nos filmes da Marvel Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, Loki, Homem-Aranha Sem Volta para Casa e As Marvels e no vencedor do Oscar Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo.
Matéria Escura bebe bastante da famosa ideia do cientista austríaco e vencedor do Nobel, Erwin Schrödinger, a qual aponta que por meio das leis da física quântica sobre formas de manifestação da radioatividade, inclusive por partículas — e seu conhecimento por essa forma poder sim ocupar dois lugares ao mesmo tempo –, uma caixa contendo um gato, um material radioativo e um contador Geiger, terá, ao mesmo tempo, tanto o evento da exposição do gato ao material radioativo quanto a não exposição simultaneamente. Isso só não é percebido, pois a mínima interferência, como uma luz, faria com que essas duas realidades, ambas subatômicas, entrassem em colapso.
Na trama, uma grande caixa com isolamento de luz e som é criada por Jason (da versão cientista renomado): por meio de uma droga injetável que altera a química cerebral do córtex pré-frontal, torna-se possível um humano estar em superposição e acessar diferentes realidades subatômicas existentes de sua própria versão. O conceito, difícil, é bem explicado ao longo do enredo com o tempo.
Para um público mais leigo ou minimamente inteirado, como é a maioria do público-alvo da série, são conceitos muito complexos de serem entendidos — até hoje, após décadas, pouco se sabe sobre mecânica quântica e seu campo de estudo. Portanto, é uma escolha sábia e certeira usar todo esse raciocínio como complemento, sem tanto holofote.
Pelo contrário, Matéria Escura usa muito bem o recurso nas cenas de diálogo, em momentos picotados, para criar uma atmosfera de tensão e suspense em busca de respostas lógicas para o que aconteceu. O espectador fica imerso no desenrolar da história e ajuda a ligar os pontos faltando.
Trabalho cênico não rende boas cenas e se salva pelo roteiro
Quanto à atuação, Matéria Escura deve um pouco. Dramas costumam realçar o talento dos artistas cênicos, mas não é o que eu presenciei no seriado. Você compreende os motivos das personagens, mas não as entende; não gera vínculo, não desencadeia emoções ou picos, o que é uma pena pela força que carrega sua proposta.
Semelhante à ideia de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Matéria Escura aborda sobre o poder das decisões que tomamos diariamente. Atos que parecem tão simples na hora carregam um peso significativo na nossa vida e nos moldam da maneira que somos hoje. Todos já fizemos essa mesma pergunta para nós mesmos: “E se eu tivesse feito diferente?“.
“As pessoas não ficam acordadas à noite pensando no Multiverso, elas ficam acordadas à noite pensando se se casaram com a pessoa certa, se deveriam ter tido filhos, e se tivessem aproveitado a chance que não aproveitaram há 20 anos. Não se trata de ficção científica, isso é apenas o disfarce”, como bem disse Blake Crouch ao Omelete, enxergando um ponto tão natural e instintivo do que somos e pensamos. Um mundo onde cada vez mais comparações são feitas e analisadas, mais cobranças e desvalidações são presentes… uma reflexão que não sai das nossas cabeças e nos puxam para baixo, como âncoras. Afinal, “a vida é uma só”, não?
E com Jason não seria diferente. A escolha de uma carreira renomada na ciência ou a criação de uma família é o catalisador que distingue o Jason 1 e o Jason 2 e os colocam em posições totalmente opostas, socio, financeira e mentalmente.
Falar de amor, independente do seu tipo — sexual, platônico, fraterno familiar ou profissional –, é poderoso por ser uma língua universal. Um pouco mais de tato e trabalho de química entre os atores ou detalhes mais emocionais e intensos on screen seriam muito importantes — o que ficou só nos diálogos. Dito isso, Jimmi Simpson foi uma grata surpresa e Alice Braga termina com destaque nos episódios iniciais, podendo esbanjar mais seu talento nas telas.
Falta de mais ritmo peca o storytelling
O roteiro é bom, mas se autocondena pela lentidão dos eventos. Para justamente levar o seriado ao lado emocional, Matéria Escura prolonga os episódios, deixando todo o clímax e movimentação a partir do terceiro. Levando em consideração que cada episódio contém em média 50 minutos, fica cansativo para o espectador cenas que não movimentam o principal arco da trama: a jornada do professor de física Jason em busca de sua verdadeira casa.
Crítica Internacional
Matéria Escura não chega com louvor, segundo os grandes sites de crítica internacional, como o Rotten Tomatoes e o IMDB, porém segue com uma margem positiva considerável. No Rotten, a série de Blake Crouch chega com 79% de aprovação dos especialistas – o que seria uma nota 6,8 de 10 – e 72% de aprovação do público. No IMDB, o caso foi mais positivo, classificando o original da Apple TV+ em 7,4, com mais de 3,8 mil notas postadas no site.
Conclusão
Matéria Escura é um bom adendo para a lista, trazendo uma pegada interessante entre maior lógica científica por trás do nicho do Multiverso e Realidades Alternativas e uma aposta num suspense dramático recheada de pesos emocionais que são “eventos canônicos” na vida de qualquer pessoa. Mas tira o cavalinho da chuva, a produção não é inovadora por si só e te cansa nos dois primeiros episódios, até chegar o terceiro e botar mais ordem e interesse nos espectadores.
Para terminar, é uma opção a considerar, tanto para amantes de drama e suspense, quanto para interessados em tramas ligados ao Multiverso e em ficções centíficas mais pés no chão.
O que esperar do resto da série?
[AVISO DE SPOILERS]
O episódio três de Matéria Escura trás Amanda (Alice Braga) e Jason (Joel Edgerton) num “hall” cheio de caminhos para infinitas realidades alternativas. Logo, espera-se que mais realidades tenham tempo de tela, além de um protagonismo maior da personagem de Alice Braga, apresentada de forma tardia na série em relação aos demais personagens principais, e sua química com Jason.
No trailer da primeira temporada, vimos já algumas amostras desses outros mundos em que uma versão diferente do Jason viveu. Uma cidade aparentemente abandonada e em ruínas e até uma cidade coberta por neve são vistas em cena no teaser.
Em resumo, o tom da série se destoará bastante, passando por aventuras que podem lembrar até The Last of Us em ritmo de sobrevivência e saltos entre universos paralelos através da Caixa criada por Jason cientista. Como toda produção que ouse contar enredos deste tipo, claro que podemos também aguardar com cenas de ação envolvendo vários Jasons lutando ou interagindo com o Jason professor de física.
Onde ver Matéria Escura?
A série Matéria Escura (Dark Matter) pode ser vista exclusivamente na Apple TV+. Seus episódios são lançados todas às quartas feiras, com previsão para nove episódios na primeira temporada — ou seja, o término oficial da primeira parte está marcado para o dia 26 de junho.
Veja também
Fonte: Apple TV+, Omelete, Rotten Tomatoes, IMDB
Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim
Essa série me lembrou a mesma temática de Sliders – Dimensões Paralelas (1995-2000), onde um grupo saltava em diferentes dimensões paralelas, por meio de um vórtice. Diferenciando pelo suspense e drama.