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A série Invasão Secreta segue sua trama morna, com um episódio ainda mais curto que o anterior em “Amado”, cheio de cenas desconexas, diálogos frouxos e uma pitada de ação remetente a outros momentos mais emocionantes do MCU.
Um passo adiante, cinco para trás
O quarto episódio de Invasão Secreta abre alguns momentos antes do final do anterior, com a fuga de G’iah da comuna, mostrando que ela utilizou a máquina de Gravik para se tornar uma Super Skrull. Toda tensão que deveria ser gerada pelo final do capítulo passado, com a morte dela, é jogada fora, pois ela se levanta e sacode o pó, revivendo depois de ter sido aparentemente eliminada por Gravik.
De volta a Paris, em 2012, Fury se encontra com Priscilla e eles conversam sobre o papel de Fury logo após a Batalha de Manhattan, em que o Capitão América e seus amigos rechaçaram a invasão alienígena, uma referência ao primeiro Os Vingadores.
Priscila comenta sobre o caráter do personagem de Samuel L. Jackson, e sobre perigos vindos de fora, como eles como pessoas com a capacidade para tal, têm que proteger seu lar e os fracos e oprimidos. Como easter egg, sobre a mesa está um jornal, em francês, falando da vitória dos heróis em Nova York.
Toda a conversa acaba tendo um ponto extremamente forçado e piegas com relação a um poema de Raymond Carver, O Último Fragmento, com o qual o episódio estabelece uma conexão entre a força de uma relação. Ela é estabelecida pelas estrofes lidas pelos dois em voz alta, representando, a duras penas, o amor entre Fury e Priscilla.
Isso acaba soando como uma alegoria sem nenhum do peso com o qual os roteiristas de Invasão Secreta tentam, sem sucesso, nos fazer importar com esse casamento do caolho com uma pessoa da qual nunca tínhamos tido pista alguma até o momento e que foi apresentada de maneira tão fuleira.
Nos dias atuais, em uma igreja, Priscilla senta para ouvir a apresentação de um coral ao se encontrar com Rhodey. O tema central da conversa é a demissão de Fury e a missão de Gravik, novamente nos confirmando que o assistente do presidente é mesmo um Skrull, membro de toda a conspiração de invasão do “grande” vilão da série.
O que é para ser a grande surpresa é que Fury ouvia tudo, enquanto que ambos falam da antiga presença do agora ex-líder da mais poderosa agência da Terra e da fraqueza da atual versão do personagem. Priscilla tenta, em vão, salvar Fury da ira dos Skrulls; “Rhodey” ordena a execução de seu marido mesmo assim.
Enquanto isso…
Os subordinados de Gravik questionam a eliminação de G’iah, sem saber que ela sobreviveu, por ter usado a misteriosa máquina em seu quartel-general. Gravik desvia das perguntas, sem muita cerimônia, em uma curta cena sem pé nem cabeça, enquanto eles embarcam em um avião rumo ao que depois revela ser a Inglaterra. G’iah se encontra com seu pai, Talos, que lamenta o sacrifício da filha ao se submeter ao que quer que a máquina tenha feito a ela.
G’iah só quer que seu pai conte seu plano em relação ao conflito atual com os rebeldes. Talos revela, sem mais nem menos, que sua ideia é de algum modo acabar com a insurreição e utilizar isso como moeda de barganha com o presidente dos EUA.
Sua esperança é com isso conseguir uma anistia para os Skrulls, dando tudo a entender que ele quer manter o status quo deles como meros empregados da humanidade em troca da proteção por parte dos terráqueos, um desenvolvimento ridículo, considerando todo o sofrimento que sua raça vem passando desde Capitã Marvel.
Segundo Talos, eles precisam se mostrar úteis à causa dos humanos para que os Skrulls continuem a existir. G’iah, por outro lado, compreensivelmente, não acredita nisso e crê que, ao se transformar com a máquina, ela está ainda mais distante do sonho do pai em se aliar aos humanos. E como vemos logo a seguir, ela tem razão, mas não vamos colocar o carro na frente dos bois.
De volta ao lar dos Fury, Priscilla se dá conta de que Nick se esqueceu de colocar sua aliança de casamento enquanto os dois se sentam para ter mais uma conversa. Ele lamenta ter se envolvido com ela: segundo ele, a união dos dois foi o maior erro que ele já cometeu na vida.
Na parte da cena em que a esposa de Fury mexe na mesa de canto, pode ser claramente visto um livro com o título de “Decodificando o Gene Superhumano”, um easter egg sobre a existência dos mutantes no MCU, algo que já foi confirmado em Ms. Marvel, quando a adolescente se revelou como homo superior.
Apesar de todos os sinais e instintos dizendo-o para cair fora da situação, Fury mostrou-se resistente à razão ao se casar com Priscilla, e agora, com todas as cartas e armas na mesa, ele conversa com seu antigo amor sobre as intenções de Gravik ao mandá-la matá-lo.
Priscilla revela mais sobre a humana cuja identidade ela pegou emprestada, com quem Fury se casou. A Priscilla verdadeira estava doente, e às portas da morte, a Skrull pediu permissão para assumir seu papel, prometendo a ela não machucar seu marido.
É aí que o episódio remete ao seu início piegas ao extremo, com o poema de Carver. Se Fury pergunta se ela conseguiu o que queria na vida, encontrar alguém que a amasse antes dos dois trocarem tiros. Ambos erram, claro. Eles chegam à mesma conclusão de que o amor acabou e partem em seus próprios caminhos, com Priscilla aparentemente deixando para trás tanto seu casamento forjado e seu papel na causa rebelde de Gravik.
O que já era óbvio fica ainda mais
Se antes alguém ainda não tinha certeza, agora confirmado 200%, com um Skrull saindo do banho e assumindo a identidade de Rhodey. Fury está à sua espera, com uma garrafa de whisky especial para compartilhar com seu “amigo”. Sua visita vai muito além de colocar a rixa entre os dois de lado; Fury deixa claro que sabe do segredo do Skrull, propondo uma barganha com o falso conselheiro do presidente: devolver seu emprego e seus poderes a fim de manter o segredo a salvo.
Rhodey faz uma referência à conversa igualmente regada a álcool que os dois tiveram no episódio dois, só que agora é ele que está preocupado em ser envenenado, o que Fury usa como brincadeira ao dizer que seria mais útil utilizar-se de nano-máquinas, uma cutucada da tecnologia há muito presente no MCU, especialmente entre os heróis e seus trajes, como os do Homem Formiga e Tony Stark.
O grande trunfo de seu antigo amigo é a gravação em que Fury aparece claramente na praça durante o atentado do primeiro episódio, deixando muito claro que ele a usará para enterrar de vez o veterano da S.H.I.E.L.D, colocando um ponto final da conversa entre os dois.
Em Londres, o presidente chega para tratar com os russos quanto aos ataques, que segundo ele é a negociação mais importante que a Crise dos Mísseis de Cuba. O conselheiro sugere ao seu chefe ser duro nas negociações, citando Lênin e até a WWE, em uma tentativa em vão de humor.
Agora a bordo de um helicóptero, Gravik ataca a comitiva norte-americana, alvejando o veículo no qual está o presidente, que sobrevive, apesar de estar preso nas ferragens. Um grande tiroteio acontece, com o próprio Gravik, junto de seus agentes, lutando contra os agentes federais incumbidos de proteger o comandante supremo dos Estados Unidos.
A batalha é bastante violenta, de longe a mais movimentada de toda a série até então, enquanto helicópteros são abatidos a mísseis e tiros voam para tudo quanto é lado. Um calmíssimo Rhodes espera pacientemente dentro de seu veículo pelo final do conflito enquanto Fury e Talos chegam ao local.
Fica claro que Gravik armou o conflito para que os EUA acreditassem ser algo perpetrado pelos russos, falando a língua enquanto alveja diversos agentes da comitiva presidencial. Fury e Talos, armados até os dentes, se juntam ao conflito, enquanto Ritson continua preso dentro de seu veículo blindado, ainda vivo. Sua participação na batalha lembra muito a luta de Nick, em plena perseguição em seu furgão, durante Capitão América 2: O Soldado Invernal, onde também fez uso de uma bazuca para defender-se.
Ao perceber a presença de Fury, Gravik começa a utilizar os poderes de Super Skrull para matar agentes americanos, esticando seu braço do mesmo modo que Groot, confirmando o easter egg do episódio passado com o material genético do Guardião da Galáxia. Reforços finalmente chegam, e Talos tenta tirar o líder dos EUA de dentro do carro, mas é alvejado por Gravik no processo.
Mostrando sua identidade Skrull ao perder seu controle sobre seu disfarce humano, Talos finalmente consegue quebrar o vidro reforçado do carro, de onde Fury consegue puxar o presidente desacordado. Seu cambaleante amigo Skrull é ajudado por alguém que até o momento parecia ser um agente britânico, mas Fury logo percebe o engodo, colocando-o sob sua mira. O agente revela ser ninguém menos que Gravik, que não perde tempo ao esfaquear, no coração, seu inimigo mortal.
Mesmo com Fury acertando Gravik no rosto com um tiro, o agora Super Skrull mal reage ao ferimento, batendo em fuga com a ajuda de um de seus comparsas. Fury também foge do local, junto de Ritson, ainda inconsciente, deixando Talos, aparentemente morto, estirado no chão em meio à batalha, que continua mesmo sem a presença dos principais participantes. Mais um Skrull dado como morto marca o fim deste episódio, coincidentemente, da maneira exata que o anterior.
Conclusão
Apesar de termos recebido um episódio com uma dose cavalar de ação, pelo menos no contexto geral de Invasão Secreta, “Amado” seguiu com um ritmo bastante inconstante, munido de cenas interligadas que forçaram uma sequência de eventos sem muito nexo aparente.
Na série até o momento, desde a revelação de que Fury tinha uma esposa, havia ficado bastante claro que ele sabia que ela era de fato uma Skrull; agora, não mais, o que para um cara com a inteligência de tem, pareceu ridículo. Ainda mais, o que deveriam ser grandes revelações do quarto episódio, entrando na segunda metade da série, perdem seu impacto por terem sido indicadas sem qualquer traço de sugestão, às vezes até literalmente, nos episódios anteriores.
Esse foi o caso da revelação de que Rhodey é de fato um Skrull, algo que desde o segundo episódio de Invasão Secreta já tinha ficado mais que claro, só que para os roteiristas da série, para cimentar esse fato na mente da plateia, eles tinham que confirmá-lo nua e cruamente, algo completamente desnecessário e que mostra o quanto nós, como membros da audiência, temos nossa inteligência desmerecida por parte dos produtores da série.
Outro importante aspecto da série, o trauma de Fury quanto ao “Blip” e sua ausência ao voltar à existência, acaba sendo deixado de lado à força, numa forte guinada ao que vinha sendo construído até que bem por Invasão Secreta até agora.
Neste episódio, vemos o personagem voltar ao que sempre foi, o agente super preparado e com o amparo que sempre teve no decorrer dos filmes do MCU, sem nenhum traço das incertezas e do conflito interno que vinha sendo uma subtrama interessante de se acompanhar no desenvolvimento do Fury de hoje em dia como personagem.
Mesmo tendo uma sequência quase que sem ação até agora, finalmente ter tanto dela neste episódio acabou que por ser sem o impacto esperado, estranhamente. Isso porque todo o caos que aconteceu em tela no decorrer de mais de um quarto dos 40 e poucos minutos do episódio parece que só serviu como pano de fundo para que os personagens da série agissem como de costume, como se estivessem em qualquer lugar menos no meio de uma batalha em que mísseis acertam helicópteros e balas ricocheteiam a todo o momento a sua volta.
Até o sacrifício de Talos ao tentar salvar Ritson perdeu seu significado pela simplicidade com que foi resolvido, e mesmo havendo a revelação e enganação por parte de Gravik, o modo com o qual ele se viu livre da ameaça de seu rival, algo que deveria ter causado um grande impacto, acabou tendo o efeito contrário, dentro deste episódio tão desigual e bagunçado.
A série, que deveria trazer para as telinhas uma trama complexa e cheia de reviravoltas, como outros produtos dentro do MCU fizeram, como no caso de Capitão América 2: O Soldado Invernal e Falcão e Soldado Invernal, acaba, na prática, entregando um vai e vem sem sal que só existe por existir, sem justificar o porquê de seu ser.
As razões por trás do pai de G’iah querer uma coexistência entre os humanos mostrou-se banal, até patética, como se os Skrulls devessem sempre ser subservientes, o que, num roteiro bom, poderia até servir um certo valor à causa de Gravik nos nossos olhos, como platéia, possivelmente injetando um pouco de empatia quanto à causa dele.
Infelizmente, a oportunidade cai a solo no desenrolar da trama, já que não temos um plano claro do vilão a dois episódios da conclusão de Invasão Secreta, somente um vago objetivo, o mesmo de todos, o que o torna caricato, bidimensional.
A não ser que haja uma mudança radical no modo como a série vem sendo conduzida, não há como os últimos dois capítulos venham a resolver o problema central de Invasão Secreta. A promessa de uma conexão significativa, o elo entre as fases do MCU, que há tanto é esperada por quem vem acompanhando o desenrolar dos filmes e finalmente veríamos aqui, está em jogo.
O potencial da série continua lá, mas a cada semana, com episódios fracos como este, vamos perdendo a esperança de que irá enfim se concretizar.
Não deixe de conferir nossa crítica do episódio da semana passada caso ainda não tenha visto, aqui no Showmetech:
Fonte: Screen Rant
Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim (12/07/23)
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