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Sempre tive a impressão que nos dois relançamentos do jogo The Last of Us, a DLC Left Behind, na qual a história de Ellie semanas antes de conhecer Joel é contada, deveria ter sido adicionada à campanha principal do jogo como um flashback – algo que não ocorreu, e o interessante capítulo sempre foi tratado como uma história separada acessada pelo menu principal do game.
Quase uma década depois de seu lançamento como DLC para o PS3, meu desejo sobre o capítulo extra foi alcançado: a adaptação para TV de The Last of Us coloca a passagem como um flashback de nossa pequena heroína em um dos momentos mais críticos de sua jornada – e que funciona de maneira fantástica. Confira nossa crítica ao episódio sete da adaptação:
Aviso: spoilers a seguir
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A facada que Joel levou no final do episódio 6 da série foi bem crítica, com o protagonista tentando convencer Ellie a deixá-lo e seguir sua jornada sozinha – mas a jovem, após ter vivenciado tantas coisas, não está disposta a passar por mais uma perda, com o espectador sendo apresentado a um momento semanas antes do começo da adaptação, com o tempo da esperta adolescente em uma escola em Boston.
Nessa escola, ela tem uma amiga: Riley, que está desaparecida há três semanas. Durante uma noite, a personagem retorna e vai até o dormitório de Ellie, revelando que se juntou aos Vagalumes – o que surpreende nossa protagonista e faz com que ela acompanhe sua amiga até chegar em um shopping abandonado, mas ainda com energia elétrica.
E é nesse momento que pela primeira vez em sete episódios vimos uma saturação de cores enorme na adaptação de The Last of Us: o shopping e seus neons para atrair a atenção causam uma diferença absurda na fotografia da série, remetendo a visões infantis de progresso e de lugares confortáveis – seja em lojas nas quais Ellie e Riley roubam álcool para viverem as aventuras adolescentes esperadas de pessoas nessa faixa de idade ou mesmo a magia das máquinas de fliperama ligadas e com as imagens piscantes e atraentes.
Por esses momentos, pela primeira vez, parece que Ellie realmente está vivendo momentos esperados por pessoas de sua idade – mesmo em um mundo pós-apocalíptico. É de certa forma reconfortante, principalmente considerando tudo que vimos a personagem viver nas últimas semanas, e se torna ainda melhor quando vimos que outro importante momento de sua adolescência foi vivido ali.
O despertar sexual adolescente – e a dor ao perder uma paixão
Em 2014, quando originalmente Left Behind foi lançado como DLC para PS3, muitos se surpreenderam com a revelação que Ellie era homossexual, mas, sinceramente, a história sempre abordou esse despertar sexual da personagem de maneira muito bem feita – e a série segue essa linha, mostrando de maneira empática e bem trabalhada o primeiro beijo da protagonista e a descoberta que seus sentimentos de amizade por Riley, na verdade, possuem um tempero a mais.
Convencendo Riley a ficar em Boston, tudo parece levar para um momento extremamente leve e de conforto para Ellie – de certa forma, traçando até mesmo um paralelo com a história contada no episódio 3 da série, que mostrou que amar é sobreviver neste mundo. Porém, estamos falando de uma produção em que os momentos alegres são poucos e bem esparsos, com a tragédia sempre olhando para os personagens.
E a tragédia realmente ocorre. Estragando a alegria das adolescentes, um infectado começa a atacá-las, resultando em um combate intenso e que ocorre como esperado: duas crianças que não tem nenhuma experiência de sobrevivência tentando somente aguentar o poder do mutante assustador – que é derrotado, mas não sem deixar suas marcas.
A mordida que Ellie mostra para Joel no primeiro episódio foi adquirida aqui, mas essa não é a única marca que a personagem leva para o futuro: sua amiga e paixão também foi mordida, mas diferentemente dela, não há resistência do corpo. Riley chega ao seu fim ali, assim como a ilusão de Ellie de ter uma vida normal.
O momento é forte e devastador, principalmente com a reação de Ellie, interpretada com maestria por Bella Ramsey que já mostra que tem em seu escopo o que é necessário para encarnar a Ellie do segundo jogo. Mas o que mais dói é ver como essa perda acaba tornando a jornada de Joel e da protagonista parecidas, permeadas por perdas e momentos que os fecharam.
Mas Ellie, porém, conta com a vantagem de ainda ser nova. A esperança ainda é mais palpável para ela – e isso é a força transformadora que faz o mercenário mudar pouco a pouco. Voltando ao momento atual, Ellie arranja uma agulha e começa a fechar a ferida de Joel, determinada a não sofrer mais uma perda, e assim terminando o episódio mudando completamente a balança do personagem de Pedro Pascal, que começa aos poucos a chegar em seu aguardado clímax emocional.
Mais um episódio excelente de The Last of Us
Não há como falar desse episódio sem entender que ele é talvez um dos pontos mais importantes da temporada. Entendendo o contexto e passado de Ellie antes de conhecer Joel, as jornadas de ambos os protagonistas ganham tons de semelhança impressionantes, que mostram como a convivência da dupla é transformadora para os dois.
Além disso, ver que Ellie, no momento de seu despertar sexual e afetivo, perdeu a receptora de sua paixão, é dolorido e coloca em cheque tudo que sabemos da personagem – e como mesmo ela tendo vivido evento tão traumático, ainda é de certa forma um raio de luz para a jornada de Joel, que no começo da série parecia estar perdido em uma escuridão pesada.
O fato do capítulo acabar com Ellie salvando Joel ainda torna isso mais evidente, e também combina bem com o nome do episódio. Enquanto Riley teve que ser deixada para trás, Ellie não permitirá que o mesmo ocorra com Joel – e assim, o caminho para os episódios finais é aberto, com a relação de ambos os personagens alcançando um novo nível.
The Last of Us é exibido semanalmente no HBO e no HBO Max.
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Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim
Episódio 7 de The Last of Us
Episódio 7 de The Last of Us-
Roteiro10/10 Excelente
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Fotografia10/10 Excelente
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Atuação10/10 Excelente
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Trilha Sonora10/10 Excelente
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