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O quinto episódio da segunda temporada de A Casa do Dragão (House of the Dragon), intitulado O Regente, deixa um pouco de lado as batalhas épicas entre dragões mostradas na semana passada para focar nos movimentos estratégicos e políticos arquitetados nos bastidores. Por um lado, acompanhamos o reposicionamento do time preto após a morte trágica de Rhaenys e seu dragão Meleys, e por outro, o time verde tendo que lidar com os graves ferimentos de Aegon II, a perda de Sunfyre e a escolha de um substituto para o trono.
AVISO: atenção, este texto contém SPOILERS do episódio. Recomenda-se que você assista a ele, antes de continuar a leitura.
O Regente
Esse episódio tem como foco as consequências do início da guerra civil. É mostrado o estado físico que Aegon II (Tom Glynn-Carney) ficou depois da traição do próprio irmão Aemond (Ewan Mitchell), a iniciativa de Jacaerys (Harry Collett) em ser útil para a guerra e ajudar a mãe nisso tudo, a participação maior de Baela (Bethany Antonia) e a diplomacia de Rhaena (Phoebe Campbell). Ou seja, a nova geração está respondendo pelos impasses dos mais velhos e arcando com uma guerra que não é deles.
As consequências de Batalha de Pouso de Gralhas
Sem hesitação, o plano do time Verde (lê-se principalmente de Sor Criston Cole e Aemond) era escancarar a Batalha de Pouso de Gralhas de modo que beneficiasse a imagem do reino diante a população de Porto Real. Portanto, como se estivessem em um desfile, Cole exibe a cabeça do dragão Meleys, da falecida Rhaenys, e grita aos quatro cantos que aquela tinha sido uma conquista do Rei Aegon II.
Porém, essa atitude teve o efeito contrário. Já irritada com a falta de alimento e angustiada pelo enforcamento em massa, a população se inconformou mais ainda com o exibicionismo. Isso porque os dragões são o principal símbolo dos Targaryen e trazem um grande significado. Eles são os elementos que aproximam as pessoas dos deuses, são criaturas vistas como invencíveis. Esse show que Sor Criston Cole (Fabien Frankel) proporcionou, como Mysaria (Sonoya Mizuno) diz, pode ser considerado um mau presságio aos olhos do povo.
Inclusive, a cena da manifestação do povo e um pequeno protagonismo para uma família em específico foram muito boas, pois imerge os espectadores na história pela perspectiva de pessoas “reais” que estão sofrendo e lutando por suas sobrevivências enquanto famílias poderosas estão organizando guerras densas para disputar o trono – uma cadeira de ferro, se pensarmos pelo lado mais simplista. Foi muito bom ter visto a crescente claustrofóbica do povo nas ruas em busca de algo mais enquanto Aemond ordenava que os portões de Porto Real fossem fechados.
Nesse meio tempo, com a cabeça de dragão servindo como uma cortina de fumaça, Aegon II foi transportado de forma camuflada praticamente dentro de um caixão. Assim que chega em seu quarto e é transportado para a cama, conseguimos ver o estrago. Metade do seu corpo está queimado. O dragão derreteu a armadura até a pele e dá para ver que o metal grudou nela. Além disso, Aegon II está com a perna quebrada e transita entre o consciente e inconsciente, conseguindo no máximo sussurrar um “mamãe”.
Essa é uma tentativa de humanizar Aegon II, que foi apresentado na primeira temporada como um tirano em potencial. Agora na segunda temporada, ele é uma figura que claramente não conquistou o respeito que esperava e dá ordens impulsivas só porque pode. Neste quinto episódio, a mudança radical em sua posição apela para a empatia de quem assiste, mas tudo o que ele consegue obter é pena.
Por outro lado, Aemond não esconde mais sua sede por poder e pelo trono. É assustador o fato de que assim que ele decidiu agir, tudo saiu conforme o planejado. Isso só mostra o potencial que ele tem e que faltou de alguma forma ao seu irmão – que ironicamente o agredia e o fazia de chacota. Ao contrário de Daemon (Matt Smith) em relação ao Viserys (Paddy Considine), Aemond provou que seria capaz de matar o próprio irmão pelo trono. Alicent e Cole, cada um a seu modo, compreende na prática o perigo que Aemond representa e isso é assustador.
Com Aegon incapacitado e o patriarcado reinando, ainda que Alicent tentasse se impor para representar o filho durante esse momento, sua vontade foi ignorada. Sem muitas dúvidas, o pequeno conselho elege Aemond ao poder. Essa cena inteira exala o desconforto e a agonia de Alicent, tanto por ser desrespeitada como pelo medo visível do que pode vir acontecer com ele no poder. A negociação pela paz já não é mais uma opção.
Os fantasmas de Daemon Targaryen
Seguimos acompanhando Daemon enlouquecer lentamente com influência de Harrenhal e da bruxa Aly Rivers (Gayle Rankin) que se infiltra sorrateiramente em seus sonhos por meio de magia antiga.
Por mais que ele se esforce, nada está saindo como o planejado. As alucinações estão se intensificando, Harrenhal não tem tanta relevância quanto ele achava que tinha e no começo, em vez de padecerem ao medo do dragão de Daemon, os Brackens deixam claro que prefeririam morrer a jurar lealdade a ele. Tudo piora quando eles descobrem que Daemon tentou usar os Blackwoods para “persuadi-los”. Eles simplesmente saquearam os Brackens e instalaram o terror por lá, acabando com os planos do Targaryen. Mais uma vez sua brutalidade atrapalhou em vez de resolver algo.
Depois de falhar na vida real, Daemon sonha acordado com uma bela jovem que claramente é uma Targaryen. Eles se envolvem sexualmente até ele notar que tem sangue em suas mãos. Assim que ela diz a seguinte frase “Se ao menos você tivesse nascido primeiro, meu filho favorito”, entende-se que ela é Alyssa Targaryen, mãe de Viserys e Daemon, esposa de seu irmão Baelon, filha de Jaehaerys I. Sim, Daemon teve uma alucinação incestuosa com a própria mãe.
Vemos Daemon cada vez mais rodeado pelas mulheres de sua vida por meio das alucinações. A Rhaenyra quando jovem, sua esposa falecida Laenar Velaryon e agora a própria mãe, Alyssa Targaryen. Existe uma mensagem que ainda estamos por decifrar.
O luto e a decisão de Corlys Velaryon
Esse é um momento de lamento e luto de Corlys Velaryon, a Serpente do Mar, pela morte de sua esposa, Rhaenys, a Rainha que Nunca Foi. Os dois formavam um dos casais mais íntegros e leais da série. Apesar dos deslizes de Corlys, era visível o afeto e a cumplicidade entre os dois.
Só que a série não dá muita margem para explorar o sofrimento de Corlys. Logo sua neta Baela surge a pedido de Rhaenyra para convidá-lo a ser Mão do Rei (Rainha, no caso). Os dois protagonizam um diálogo reflexivo e, por mais que ele esteja tentado a abandonar tudo depois de perder o amor de sua vida, Baela o faz repensar algumas coisas.
Jacaerys decide agir
Revoltado com as restrições de sua mãe, Jacaerys está decidido a agir a qualquer custo, ainda que a preocupação de Rhaenyra seja justificável, já que o trauma pela morte de Lucerys ainda paira no ar.
Jace consegue se sair muito bem na negociação com os Frey e essa é a primeira vez que o público pode enxergar um destaque no personagem e o potencial de desenvolvimento pelos próximos três episódios. Ele promete algo que nem sabe se vai conseguir cumprir, mas como retorno consegue a promessa de apoio que precisava e um pouco mais.
O encontro dele com Rhaenyra traz certa esperança. Ela finalmente o enxerga com certa valorização e, ainda que contrariada, mostra orgulho do filho por toda a movimentação com êxito. Esse momento mostra um pequeno alívio em meio a tanta violência que presenciamos no episódio passado e ainda vamos presenciar. Juntos, eles pensam em alternativas para prosseguir nesse combate. Talvez a solução esteja nos outros filhos dos Targaryen, aqueles que nasceram em outras famílias mas que ainda assim carregam o sangue deles.
Quem é Lady Jeyne Arryn, a Donzela do Vale?
Neste quinto episódio da segunda temporada, conhecemos Jeyne Arryn (Amanda Collin), que declara apoio à Rhaenyra ao abrigar Rhaena e os três filhos mais novos de Rhaenyra, o que a torna uma aliada valiosa, já que detém o poder no Vale.
Antes mesmo de ser apresentada, é dito que Jace negociou com ela para ter seu apoio na guerra. Jeyne ofereceu cavaleiros em troca de um dragão para proteger seu castelo. Agora, na segunda temporada, para cumprir o acordo, Rhaenyra envia Joffrey (Oscar Eskinazi) e seu dragão Tyraxes. Entretanto, Jeyne entende que o acordo não foi cumprido. Isso porque Tyraxes ainda é um dragão jovem, fator que torna a proteção muito fraca para as necessidades do Vale. Ela entra em um embate com Rhaena, mas não a manda embora. Ainda vamos ver muita história desenrolar aqui.
A série ainda não trouxe muitas informações sobre ela, mas a personagem possui uma importância considerável na história. Além disso, uma curiosidade é que no livro Fogo & Sangue é mencionado o boato de que Jeyne preferia mulheres a homens. Ainda assim, Jessamyn Redfort era mencionada como uma querida companheira – mas é fácil ler nas entrelinhas o relacionamento delas. Para reforçar a teoria, Jeyne nunca teve um marido e passou seu trono para um primo distante. Essa é uma parte da história que seria interessante ver em tela de forma adaptada e mais clara.
Personagens e atuações
Convenhamos que o elenco de A Casa do Dragão é gigantesco, então, naturalmente, não tem como um episódio só focar em todos ao mesmo tempo, então espera-se que cada um, pelo menos dos principais, consiga se destacar ao longo da temporada.
Dessa vez, Jacaerys consegue um destaque maior ao se impor e mostrar seu valor para a mãe – que por sua vez, está mais apagada por agora. Daemon também está conquistando seu espaço com as visões bizarras que anda tendo por Harrenhal com as mulheres de sua vida. Inclusive, é visível que Matt Smith está se divertindo na pele de um personagem tão arrogante e, ao mesmo tempo, tão vulnerável.
Outro personagem que merece atenção é Corlys Velaryon (Steve Toussaint), pois sua cena com sua neta Baela (Bethany Antonia) foi construída a partir de um diálogo doloroso e necessário após a morte de Rhaenys (Eve Best).
Ainda nesse núcleo, foi muito bom ver mais de Baela e Rhaena e como elas estão atuando de formas distintas no meio da guerra. Enquanto Baela está convivendo com a família, tem seu dragão e uma boa dinâmica com Jace, Rhaena (Phoebe Campbell) foi enviada para o Vale como representante de Rhaenyra, mas ainda assim tenta se impor no meio disso e mostrar que também tem suas vontades e ambições.
Todos serviram uma boa dose de drama, principalmente Ewan Mitchell e Olivia Cooke na dinâmica entre Alicent e Aemond. São trabalhos que sustentam cenas que poderiam ser muito arrastadas ou monótonas caso não tivesse tanta tensão emocional.
Aspectos técnicos
Muitas camadas envolvendo a fotografia da série merecem destaque. Desde o desfile dos Verdes com a cabeça de Meleys até o enquadramento da visita de Jace aos Frey, é tudo muito bonito de assistir.
Mas o destaque mesmo está no trabalho da diretora do episódio, Clare Kilner, na cena que o Pequeno Conselho entra em um embate com Alicent em prol da eleição de Aemond para o trono. O trabalho de câmera com foco na Olivia Cooke, atriz que dá vida a Alicent, desperta uma variedade de sentimentos. Desconforto, angústia, raiva, tensão, frustração. Nela e nos espectadores. A trilha sonora sinistra de Ramin Djawadi dá o toque final. Muito bom.
Conclusão
Esse foi um episódio que recuou das batalhas em campo para poder trabalhar fortemente seus personagens de forma intrigante. Dois dragões já foram perdidos, agora entende-se que é preciso agir com mais prudência.
Com foco na política de ambas as partes, O Regente foi um episódio denso, cheio de personagens com várias histórias paralelas acontecendo – e que, de alguma forma, conseguem se conectar no final. Então, sim, é muita informação para absorver, mas ao mesmo tempo não é tão difícil de acompanhar. A narrativa se desenrola numa cadência que interliga todos os pontos – ou pelo menos quase todos eles. Para quem esperava uma crescente nas cenas de ação, esse é um capítulo frustrante. Mas no geral, revelou-se primordial para os próximos passos que estão por vir.
Além disso, as assombrações de Daemon Targaryen ainda não perderam a graça, pelo contrário, ficam cada vez mais bizarras numa atmosfera estranha. Esse plot consegue se desenvolver bem quando abordado, ainda mais agora que Daemon está escancarando suas verdadeiras intenções egoístas e seu desinteresse em ajoelhar-se para Rhaenyra. Sua loucura somada a sua impulsividade podem causar grandes estragos.
Onde assistir
Os cinco primeiros episódios da segunda temporada de A Casa do Dragão estão disponíveis na Max. Serão oito episódios no total, cada um lançado todo domingo às 22h.
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Veredito
Veredito-
Roteiro10/10 ExcelenteFoi acertado mostrar o lado da população de Porto Real frente a todos os acontecimentos entre as casas rivais. Enquanto o trono é disputado, o povo passa fome e enxerga um mau presságio.
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Personagens10/10 ExcelenteMuitos núcleos foram mostrados e ainda assim conseguiram ser bem explorados. Destaque para Alicent no pequeno Conselho e a virada de chave de Jacaerys e Aemond.
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Ritmo do episódio8/10 ÓtimoÉ um pouco mais lento, despeja muitas informações importantes, mas ainda assim não perde a cadência.
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