Você pode não saber, mas se você usa as últimas versões do Photoshop, After Effects, Dimensions ou outros programas do pacote Adobe Creative Cloud, há uma IA (Inteligência Artificial) ajudando discretamente no seu trabalho. O nome da tecnologia é Sensei e ela basicamente traz o poder do reconhecimento de imagens para os programas que designers, ilustradores e fotógrafos estão acostumados a usar.
“A Adobe já vem utilizando tecnologias de reconhecimento de imagens desde 2008, quando a ferramenta de content aware foi lançada”, diz Ana Laura Gomes, consultora da Adobe. “Hoje isso é conhecido como Inteligência Artificial, mas na época chamávamos de mágica”.
Ana Laura demonstrou os truques de Sensei para uma platéia de convidados em um evento da empresa chamado Adobe Experience House. Começou apresentando o banco de imagens da Creative Cloud, o Stock, que permite escolher imagens utilizando filtros inteligentes como “imagens com fundo desfocado” ou “cores vibrantes ou pastéis”. Depois passou para o Photoshop, que agora traz recursos como Content Aware Scale, uma evolução da funcionalidade lançada em 2008, que agora permite esticar uma imagem sem que determinados elementos, como pessoas em uma foto, sejam alterados. Graças ao Sensei, a ferramenta Liquify agora reconhece rostos humanos e permite alterar facilmente expressões e características faciais.
Em programas como After Effects e Illustrator o Sensei permitiu incluir uma ferramenta que só existia no Photoshop, o Puppet Warp. Ela cria uma rede de pontos dentro da imagem que permite distorcê-la de modo natural, fazendo pessoas estáticas moverem os braços ou mudando aspectos de uma ilustração vetorial sem precisar mover os pontos que as formam.
O Dimensions, o modelador 3D da Adobe, também utiliza intensivamente o Sensei,na criação de texturas e na integração de objetos 3D com fotografias. O programa consegue interpretar a direção da luz em fotos e incluir o objeto 3D de forma natural dentro delas.
O único problema com o Sensei é que, ao compará-lo com outras tecnologias de IA, como a Vision do Google, ele é meio limitado. A principal diferença é que Sensei não aprende nada de novo. Por ser uma tecnologia embutida localmente nos programas, ele não pode ser treinado como IAs com APIs (Application Programming Interface) abertas que vivem na nuvem e têm acesso a milhões de imagens. No programa de tratamento e catalogação de imagens Lightroom, por exemplo, o Sensei consegue classificar fotos com tags como “criança”, “cachorro”, “mulher” etc. Mas não consegue colocar tags “Zé Maria” em todas as fotos do seu cunhado.
Quem quiser encontrar funções de Inteligência Artificial “de verdade” como aprendizado de máquina no Sensei vai ter que procurá-las no AEM (Adobe Experience Manager), software de gerenciamento de imagens da empresa para grandes sites de e-commerce e corporações, que custa bem mais (beeeeeeem mais) que os R$ 175 ao mês do Creative Cloud. No Brasil, ele é utilizado pela TV Globo e pelo Instituto Ayrton Senna.
Segundo Paulo Franqueira, gerente de experiência do cliente da Adobe, a utilização de ferramentas mais sofisticadas de IA nos programas da Creative Cloud é uma questão de tempo. “O AEM é o campo de testes do Sensei. Várias tecnologias que estão em uso nele serão integradas ao CC em algum momento futuro”.