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Paypal, Tesla Motors e SpaceX tem um ponto em comum: Elon Musk. O empreendedor nascido na África do Sul e hoje também cidadão americano e canadense é quem idealizou a estratégia e proposta das empresas, em especial, da Tesla e da SpaceX.
A ‘Muskonomics‘, isto é, a estratégia econômica de Musk, tem pontos que num primeiro momento parecem na contra-mão da tendência moderna da indústria. Mas o sucesso que as empresas têm alcançado e a imagem de negócios disruptivos e inovadores dão conta do contrário.
Integração Vertical e otimização: A base da Muskonomics
A indústria, em especial a automotiva e a aeronáutica, são altamente baseadas na existência de um grande parque de fornecedores. O produto final que sai das linhas de montagem possui peças projetadas e fabricadas por outras empresas nos mais diversos locais do mundo.
E ainda, num segundo nível (e outros mais), os próprios componentes usados para montar um carro, por exemplo, são fruto de outros insumos fabricados por outros fornecedores. É um modelo horizontal em que cada empresa busca o local com menores custos de produção e a montagem final acontece por meio de uma extensa cadeia logística global.
No caso da Tesla Motors e SpaceX, a abordagem é exatamente o contrário. Afim de diminuir o custo de seus insumos e componentes, as empresas apostam na verticalização, isto é, em produzir não só o produto final, mas também os componentes que o constituem.
No caso da Tesla, a imagem acima mostra a percentagem de componentes fabricados pela própria empresa. De 5300 itens necessários para construir um carro da Telsa, 80% são feitos dentro de casa. O objetivo de dominar a maior parte da cadeia de produção é a possibilidade de diminuir significativamente o preço dos componentes.
Qual mais barato? Componentes próprios ou de fornecedores?
Quando se compra de um fornecedor, o preço do componente, além dos custos de pesquisa, projeto, trabalhistas e etc, contém também a margem de lucro do fornecedor principal e de todos os outros subfornecedores. No caso da SpaceX, os rádios, caso comprados externamente, sairiam a um custo de 50-100 mil dólares cada. Desenvolvendo e produzindo internamente, o custo cai para apenas 5 mil dólares.
Interessantemente, um dos insumos principais dos carros da Tesla, as baterias, ainda não são fabricadas pela própria companhia. Historicamente são fornecidas à Tesla pela Panasonic, ao preço de 200 dólares por kWh.
Com o objetivo de abaixar o custo desse componente, uma super fábrica está em construção em conjunto com a fabricante Japonesa. Por meio da joint-venture, a Tesla pretende diminuir o preço em até 30%, mirando, no longo prazo, trazer o custo do kWh para menos de 100 dólares.
Mesmo no caso de um componente mais complexo e com poucos fornecedores globais competitivos (caso das baterias), a estratégia é de internalizar a produção e fazê-la parte da cadeia integrada da Tesla.
Otimização, automação e novas estratégias na Muskonomics
Para que a verticalização realmente funcione sem tornar os processos burocráticos e inchados, é necessário um foco fundamental em otimização de gestão, processos e produção. Esse é um dos objetivos de Elon Musk ao manter as suas plantas industriais nos EUA.
Na contramão do êxodo industrial que povoou a Ásia e outras regiões com custos trabalhistas e ambientais mais favoráveis, a Tesla e SpaceX se mantêm em solo americano (vide mapa acima). O motivo: aproximar o máximo possível os escritórios, laboratórios e chão-de-fábrica. Assim, as decisões gerenciais são implementadas mais rapidamente nas fábricas e as diferentes áreas das empresas são integradas de forma mais eficiente.
Além disso, o aspecto inovador e disruptivo das empresas também conta a favor da Muskonomics e da competitividade. Talvez o melhor exemplo seja a nova estratégia inaugurada pela SpaceX de fabricar foguetes reutilizáveis.
O principal custo de um lançamento de foguete é o próprio foguete, cujo valor é muitas vezes maior que a do combustível gasto no lançamento. Assim, a grande razão dos altos custos de lançamentos tradicionais é o fato de o foguete ser perdido depois de colocar a carga útil em órbita.
Por conta disso, a SpaceX tem se esforçado para lançar foguetes reutilizáveis (o que foi feito pela primeira vez em março/2017), de forma a não ter que a arcar com o pesado custo de um novo foguete para cada lançamento. Daí a queda dramática no preço de lançamento pela SpaceX em comparação com concorrentes tradicionais, como a ULA -United Launch Alliance (vide imagem abaixo).
Pontos negativos da ‘Muskonomics‘
Produzir seus próprios componentes também tem desvantagens. Pesquisa, projeto e mão-de-obra para desenvolver insumos próprios também custam bastante dinheiro.
Balancear os custos extras para manter pessoal e desenvolver componentes próprios, ter uma escala que justifique o desenvolvimento interno e conseguir manter tudo integrado e otimizado a ponto de trazer o custo para baixo pode ser desafiador.
Felizmente para os entusiastas dos carros elétricos e da exploração espacial a Tesla e a SpaceX têm sido bem sucedidas na empreitada de derrubar preços e tornar serviços e produtos que antes eram futuristas em possibilidades factíveis.