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Ano passado, a tecnologia VR (Realidade Virtual, em português) estava repleta de esperanças, mas este ano já notamos um freio. A Sony, que vendeu mais de um milhão de unidades do PlayStation VR, apresentou menos de cinco jogos para a plataforma na E3 2017, sendo um deles de pesca. Ainda na E3 2017, pela primeira vez a empresa Oculus não esteve no evento.
O mercado não perde tempo e começa a investir em outra “realidade”, a AR (Realidade Aumentada, em português). Em 2017, está havendo um crescimento no interesse desse tipo de interação. Até a Apple anunciou apoio à Realidade Aumentada e pretende tomar a dianteira dessa tecnologia ainda tão pouco explorada. Porém, a Maçã não está sozinha, acompanhada do Google e da Microsoft. Já temos indícios prematuros de competição. É nesse cenário que perguntamos o que cada empresa está fazendo com o AR e como isso deve melhorar o mundo no futuro.
Google e Tango
Como a Apple, Google e Microsoft estão construindo um futuro AR. Entre as três grandes empresas, a primeira a anunciar planos AR foi a Google. A iniciativa se chama Tango. A tecnologia funciona com um smartphone, a tela será uma janela para um mundo AR. Apesar do projeto ter sido apresentado em 2014, ele só chegou ao mercado em setembro de 2016 com o Lenovo Phab2 Pro.
Para usar o AR da Google é necessário um dispositivo Android, mas não qualquer um. O aparelho precisa ter três câmeras e sensores especiais, tudo para interpretar o ambiente. Atualmente, só o Lenovo Phab2 Pro suporta o Tango.
Esse é o maior problema do Google Tango, pois ele depende bastante de outras fabricantes, além de uma aceitação do público. O único próximo smartphone pronto para o Tango é o ASUS ZenFone AR, que deve ser lançado ainda esse ano. Os mais atuais aparelhos Android, S8 e G6, não suportam o Tango; e nem mesmo o suposto próximo Pixel XL da Google deve apoiar. Se o projeto demorou dois anos para receber um único smartphone com suporte, talvez seja preciso mais tempo para surgir pelo menos mais opções para o consumidor.
A Google destaca alguns aplicativos para o Tango, mas eles não são muito chamativos. “Domino World” apresenta um dominó com personalizações, isso é: ovnis, dinossauros, vacas em pastos. Ok… Há outros aplicativos mais úteis, como o da loja americana Lowe’s, ele permite que o consumidor visualize virtualmente alguns produtos no mundo real. É possível selecionar uma mesa, apontar para onde deseja colocá-la na casa e ver se ficará bom. Há também o jogo de terror PHANTOGEIST, em que o jogador enfrenta criaturas extraterrestres. Entretanto, a variedade de apps é pouca. São muitos programas com o mesmo objetivo; outros são diferentes mas pouco úteis, exemplo de um para mapear a cobertura Wi-Fi dentro de casa. A biblioteca da Play Store para o Tango está bastante fraca.
A Google fez parceria com alguns museus para suportarem Tango. Apontar para um fóssil com o celular pode revelar mais informação detalhadas em pontos específicos. A empresa também pretende ajudar escolas a tornarem o ensino mais intuitivo. Já pensou em viajar pelo sistema solar dentro da sala de aula? Seria realmente muito bom ter experiências assim.
É inegável, o Tango da Google precisa de mais um bom tempo até que se torne atraente de verdade. No momento é uma tecnologia que pede celulares caros para oferecem uma experiência AR de pouca utilidade.
Apple e ARKit
A Apple demorou, mas anunciou sua proposta AR na WWDC 2017. O SDK ARKit é uma ferramenta para desenvolvedores produzirem apps de realidade aumentada. A grande sacada que abalará fortemente o Tango da Google é que qualquer iPhone e iPad com A9 ou A10 e iOS 11 poderá ter experiências AR. Mesmo com somente uma câmera e sem sensores especiais, os dispositivos da Apple também poderão ter noção de profundidade e interpretar o ambiente.
A Apple é adorada por desenvolvedores e eles estão curtindo o ARKit. Existem vários vídeos no YouTube de projetos AR com iPhone e iPad. Assim como o Tango, o ARKit não tem muitos aplicativos realmente interessantes hoje. É algo natural. No começo da App Store um dos apps mais populares não era o Facebook, mas sim o iBeer. Vergonha do passado, eu sei.
Enquanto a Google está há anos trabalhando publicamente no Tango, a Apple se aproveitou justo da maior fraqueza da oponente lançando o ARKit. Isso é ótimo, pois a partir de agora devemos ver a corrida da Google para tentar compensar seus pontos fracos. As duas gigantes dos sistemas operacionais móveis já começam a competir, e no final quem deve ganhar mesmo somos nós com grandes experiências AR.
Microsoft e HoloLens
A parte menos interessante do Tango da Google e ARKit da Apple é que eles se limitam ao dispositivo de mão. Imaginem uma partida de cartas em AR, são vários minutos segurando o celular como visor, o que não muito confortável. É assim que começaremos a falar do HoloLens, a aposta da Microsoft para um mundo AR.
Anunciado com grande surpresa em janeiro de 2015, o HoloLens é um óculos com design e funcionalidade dignas de ficção científica. O aparelho é equipado de diversas câmeras e sensores, possibilitando o controle através de gestos manuais no ar. O dispositivo tem alto-falantes posicionados acima das orelhas do usuário, para som espacial. O projeto é encabeçado pelo brasileiro criador do Kinect, Alex Kipman.
Um dos grandes destaques do HoloLens é sua independência, ele não precisa de conexão com computador ou celular para funcionar. Rodando Windows 10, o aparelho holográfico da Microsoft tem a capacidade de ser um dispositivo único.
O acesso à Windows Store é um dos pilares do HoloLens. Desenvolvedores podem facilmente publicar seus aplicativos para o Windows Mixed Reality (nome próprio do sistema). Hoje há uma gama de apps com suporte: Twitter, VLC, Xbox, Candy Crush e até a suíte Office. Esses programas não funcionam inteiramente em AR. Eles abrem como janela e ficam fixadas no ar ou paredes. Deixe o Edge aberto com uma receita na cozinha, o VLC com um filme pausado na sala, o escritório com janelas do Excel, OneNote e Skype. Esse é um dos modos do HoloLens mudar o mundo real com objetos virtuais.
Outros programas são especialmente desenvolvidos para o HoloLens. Minecraft possui uma versão alternativa em que os blocos tomam o mundo real. É possível até explodir as paredes de casa! O Skype para HoloLens é totalmente remodelado, com a possibilidade de anotações em chamadas de vídeo. Desenvolvedores independentes fizeram Pokémon GO para HoloLens, Yu-Gi-Oh também, além de Mario Bros em que você é o próprio encanador italiano. Hoje há cerca de 300 aplicativos na Windows Store produzidos especialmente para o AR do HoloLens.
Entretanto, o HoloLens não é um aparelho AR para o mundo atual, é para o futuro. Não, não estamos puxando o saco da Microsoft. Até o momento, só foi lançada uma versão do aparelho, especial para desenvolvedores, e ela custa US$ 3.000; além disso a venda ocorre somente em uns poucos países selecionados. Outro problema é a área de visão do HoloLens, ela não é completa como imaginado, é um retângulo no centro. Virar um pouco a cabeça faz os hologramas sumirem antes do esperado, comprometendo a imersão.
O HoloLens não é um aparelho para consumidor, não hoje. No começo, a Microsoft estava com várias apostas para o dispositivo, mas atualmente sua atuação está focada em empresas. Companhias de design, manufatura, transporte, exposições e varejistas de grande nível são as mais propícias a usar o aparelho hológrafico, assim como ricos hospitais e universidades. Levando em consideração a forte presença da Microsoft no ramo empresarial, é capaz que o HoloLens fique bastante tempo nesse ramo até passar a ser atraente para os consumidores.
Phil Spencer, chefe da divisão Xbox, diz acreditar que deve demorar de 5 a 10 anos para surgir um aparelho holográfico popular de preço acessível para consumidores. Portanto, o HoloLens é um dispositivo de grande tecnologia e potencial, mas ele corre em outra via, diferente da Google com o Tango e Apple com o ARKit.
Em agosto, os primeiros dispositivos de OEM com Windows Mixed Reality chegarão ao mercado, a partir de US$ 299. Acer e HP são as primeiras, seguidas por ASUS, Dell e Lenovo. Os dispositivos se assemelham mais à tecnologia VR, mas com uma ideia semelhante à do HoloLens. Os óculos criarão uma casa virtual interativa que pode ser customizada. Por sorte, já existe alguns aparelhos holográficos que estão em desenvolvimento e apresentação para concorrer com o HoloLens.
AR ainda é uma tecnologia crua
Os investimentos em AR estão aumentando, com o início de uma concorrência. O Tango está concorrendo com o ARKit, o HoloLens tem rivais advindos de empresas menores. O futuro do AR está chegando em passos cada vez mais largos. A Microsoft tem planos para os outros anos, a Google mostra-se paciente e a Apple está imediatista.
No momento a realidade aumentada tem poucas utilidades no cotidiano, além de um alto preço. O quanto usaremos essa tecnologia e quando, essas três empresas podem responder. Enquanto isso, a febre AR que moveu milhões de pessoas, Pokémon GO, completou um ano. Será que o futuro AR reserva outros acertos assim?
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