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“Ressuscitando” uma história escrita na época de seu primeiro filme, Zack Snyder faz sua estreia na Netflix com Army of the Dead: Invasão em Las Vegas. Com altas doses de ação, comédia e violência, o longa é uma homenagem aos clássicos de zumbi e não tem medo de apostar em clichês em troca da diversão. Assistimos e contamos aqui (sem spoilers, claro) se Army of the Dead deve valer duas horas e meia do seu tempo.
Onze Homens e Uma Horda Zumbi
Recém-casados flertam em uma viagem de carro e causam um acidente com um comboio militar. Como resultado, temos a fuga de uma violenta criatura, gerando um apocalipse na cidade do pecado. Las Vegas então é tomada por zumbis. Anos depois, o protagonista Scott Ward (Dave Bautista) recebe a proposta de um dono de cassino para pegar uma parte dos 200 milhões de dólares no cofre rodeado por mortos-vivos. Scott monta sua equipe de mercenários e parte para a aventura. Esta pode ser uma forma de resumir o que é Army of the Dead, um verdadeiro “filme de assalto a banco, com zumbis”.
Pela primeira vez vemos Dave Bautista em um papel carregado de drama onde ainda há espaço para brutalidade. A estreia de Army of the Dead chega dias após a notícia de que ele deixará o universo Marvel depois de sua atuação em Guardiões da Galáxia 3, que será lançado em 2023, franquia responsável por alavancar a carreira do ex-lutador de MMA. Dado o porte físico, Dave frequentemente é chamado para trabalhos que condizem com o estereótipo “durão com coração”, mas em Army temos a responsabilidade familiar acima de esmurrar mortos-vivos – e foi bom ter um gostinho da versatilidade do ator.
É fácil supor que Army of the Dead não trará nada de novo à fórmula genérica de terror zumbi, porém, fica a surpresa: o medo é substituído pela adrenalina. Temos uma corrida contra o tempo, afinal, Las Vegas será alvo de uma bomba nuclear. Por isso, raras vezes o filme perde o compasso, o que deixa mais bem cadenciado quando mudamos o ponto de vista (dentre cada grupo de mercenários). A proposta foi arriscada, mas felizmente isso funciona. Snyder consegue entregar um filme de ação com zumbis digno de cinema.
Há cenas gore e desmembramentos, mas estes momentos são justificados pela “diversão” que remete até mesmo aos jogos de zumbi mais modernos. A obrigação de matar os mortos-vivos é somente mais um obstáculo dos protagonistas. Temos quebras de ritmo (e de foco) ao longo das duas horas e meia e, mesmo assim, uma das poucas consistências é o aparente prazer em dar headshots certeiros e acabar com qualquer um que vier pela frente.
Cérebros… cérebros…
Um ótimo contraponto aos clichês é a divisão dos zumbis, pois temos o casal superior (alpha) e os inferiores (todos os outros). Criaturas inteligentes estão longe de ser novidade no gênero, porém, os alphas são introduzidos como seres pensantes com habilidades físicas muito superiores ao resto – podem correr rápido e parecem apreciar mais a morte de humanos. Foi interessante esta casta ser estabelecida desde o início, resultando na genuína curiosidade do espectador para entender os limites da inteligência dos monstros.
Uma pena que, com exceção da dupla principal, nota-se falta de personalidade aos zumbis de Army of the Dead. Considerando que uma das linhas do tempo que acompanhamos é dedicada exclusivamente a mostrar o lado deles ao longo destes dias (pré explosão nuclear), termos personagens descartáveis não pareceu ser uma escolha proposital de Snyder. Pelo menos isso é recompensado no núcleo amoroso dos alphas, com direito a uma grande revelação no segundo ato.
Madrugada dos Mortos e inspiração em George Romero
Zack Snyder escreveu Army of the Dead enquanto gravava Madrugada dos Mortos, de 2004, o primeiro longa dele que é um remake do clássico Despertar dos Mortos, do renomado diretor George A. Romero. Por sinal, em inglês ambos são Dawn of the Dead – com a tradução alterada para facilitar a vida do brasileiro que quiser distingui-los sem precisar citar o ano.
Romero é tido por muitos como o “vovô” dos filmes de zumbi, tendo escrito, dirigido, filmado e editado a eterna referência no gênero A Noite dos Mortos-Vivos, em 1968. Nele, por incrível que pareça (na época do cinema americano), temos um exemplo de representatividade acidental, carregada de crítica social: o protagonista negro é um dos únicos a sobreviver ao ataque das criaturas, morrendo a tiros nas mãos de humanos (vivos) que o confundem com um zumbi.
O filme independente serviu como portfólio para fundar o que seria a “quadrilogia dos Mortos” de Romero, que continuou com Despertar dos Mortos alguns anos depois. Dario Argento, renomado cineasta italiano, financiou o projeto e acredita-se que, sem a ajuda dele, o gênero de zumbis poderia não ter vingado. Logo depois, Dia dos Mortos explorou temas como sociedade, tragédia e humanidade, dando uma guinada do terror dos antecessores.
Depois disso tivemos Terra dos Mortos, o mais recente, que “encerra” a quadrilogia com seus zumbis inteligentes – forte inspiração para o atual Army of the Dead. Romero decide então partir para o found footage (terror onde os personagens seguram a câmera, assim como REC e A Bruxa de Blair) com Diário dos Mortos. Seguindo a história de Diário, temos o mais obscuro A Ilha dos Mortos, “pastelão” de baixo orçamento, que foi o último de Romero antes de sua morte.
O amadurecimento do gênero serviu como base para o filme de Snyder, que nada seria sem os longas citados acima. Com o projeto anunciado há mais de uma década, por sorte a Netflix adquiriu os direitos de Army of the Dead da Warner Bros. – quem sabe as complicações de Liga da Justiça imagina o que poderia dar errado com Snyder por lá. Dentre entrevistas e imagens dos bastidores, o cineasta parece confortável com a sua liberdade para dirigir e (aparentemente) ter total controle sobre sua obra. Zack torna-se mais um diretor “independente” que conseguiu mostrar sua visão única de um filme de zumbis.
Bastidores de Army of the Dead (também na Netflix)
Falando em bastidores, a Netflix também lançou simultâneo a Army of the Dead um especial de making of do filme. Em pouco menos de meia hora, temos respostas a tudo o que você deve ter se perguntado sobre o longa. Um exemplo é a recriação de Las Vegas, pois a equipe utilizou imagens capturadas por drones (e gruas com câmeras) para fotografar a real locação. Foram feitos poucos cenários reais e o restante foi uma ambientação virtual, algo que pode passar despercebido em certas cenas de ambiente externo.
Lembrando que o universo de Snyder não acaba por aí: ainda em 2021 teremos uma expansão de Army of the Dead com o spin-off Army of Thieves, dirigido e protagonizado por Matthias Schweighöfer. Thieves foi divulgado como sendo similar ao popular Uma Saída de Mestre, que é “aquele filme de assalto com MINI Coopers“. Além disso, ainda sem data confirmada, o anime Army of the Dead: Lost Vegas irá retratar os acontecimentos antes de Invasão em Las Vegas, voltando com os mesmos atores em seus respectivos papéis.
Army of the Dead: Invasão em Las Vegas está em exibição na Netflix. E aí, o que achou do novo filme de zumbi do Zack Snyder? Conte para a gente nos comentários abaixo!
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