Veja como a Steam se tornou a líder dos jogos digitais

Se você faz parte do público de gamers que tem como plataforma principal o computador, certamente já ouviu falar da Steam e suas promoções. Até mesmo quem joga em outros consoles já ouviu falar dela, uma das principais plataformas de venda de jogos digitais da história. Não por acaso, há mais de 20 anos a Steam domina o mercado.

Muito mais do que apenas um lugar para comprar seus jogos favoritos, o site é um verdadeiro fenômeno que se expande para diversas áreas. Além de permitir que os usuários adquiram ou baixem seus jogos favoritos, também é uma comunidade, com fóruns específicos para cada título na plataforma! Então, vamos embarcar na máquina do tempo e ver como a Steam surgiu, seus principais projetos e também quem foram os criadores?

As mentes por trás da Steam

É impossível falar dessa plataforma sem citar os dois nomes que a idealizaram: Mike Harrington e Gabe Newell, duas figuras importantes para a indústria dos videogames que, além de lançarem grandes jogos para o mercado, também mudaram como os jogadores compram e se divertem.

Ambos eram companheiros de trabalho na Microsoft e, segundo rumores, saíram em 1996 da empresa porque queriam trabalhar com jogos eletrônicos, algo que a companhia de Bill Gates, no momento, não estava interessada – chegaram nesse mercado apenas em 2001, com o lançamento do Xbox original. Então, formaram a Valve Corporation, onde poderiam ter mais liberdade criativa e também colocar em prática suas grandes ideias.

Apesar de parecer arriscado — abandonar o trabalho em uma das maiores corporações do mundo para começar o negócio do zero —, o perigo valeu a pena e não demorou muito para que a empresa criada pela dupla se tornasse uma das maiores do mercado.

A Valve Corporation

Dois anos após a empresa ser fundada em 1996, o primeiro título criado pela dupla ainda demorou um pouco para ser lançado, já que o nível de perfeccionismo que queriam encontrar levou tempo. Então, em 1998, Half-Life chegou para os computadores, considerado até hoje um dos melhores jogos de computador da história.

Elogios não faltaram para o primeiro jogo da companhia, considerado por muitos como revolucionário para a época, já que uniu a jogabilidade fluída e imersiva com uma história interessante, em que acompanhamos a história de Gordon Freeman, um cientista da Black Mesa que precisa sobreviver após uma pesquisa sobre portais interdimensionais dar errado.

Além desses dois fatores, os gráficos avançados também conseguiam criar uma experiência única aos jogadores, gerando logo de primeira um grande impacto no mercado, em que os jogos de tiro em primeira pessoa foram popularizados e também estabeleceu a Valve como uma das principais desenvolvedoras da indústria. Até hoje, muitas empresas tentam replicar a fórmula dessa combinação única de sucesso.

Entretanto, esses pontos não foram os únicos positivos do lançamento de Half-Life, já que, com o título, a Valve também disponibilizava uma poderosa ferramenta para os jogadores criarem suas próprias modificações e experimentarem sua criatividade naquela engine, o que fez surgir outros nomes fantásticos na indústria. Team Fortress, Day of Defeat, The Ship e Garry’s Mod foram alguns dos jogos de sucessos derivados da primeira investida de Gabe Newell e Mike Harrigton no mercado, entretanto, nenhum teve o mesmo impacto que Counter-Strike.

Counter-Strike e o lançamento da Steam

É impossível falar da história da Steam sem citar o jogo que, provavelmente, foi o principal motivo para que a plataforma fosse criada: Counter-Strike, que surgiu como um mod de Half-Life criado pelo vietnamita, mas naturalizado canadense, Minh Le.

Anos antes de criar uma das maiores febres da virada do milênio, o jovem já tinha adquirido bastante experiência ao criar modificações de outros dois jogos populares do mercado: Quake. Suas alterações eram sempre baseadas em operações de guerra feitas por fuzileiros navais, onde o jogador pertencia ao exército Norte Americano e, além da jogabilidade melhorada, também adicionava novas armas, que nunca estiveram presentes na versão original.

Quando Quake 2 foi lançado, Minh Le não teve medo e também adquiriu as ferramentas de desenvolvimento para continuar criando mods para a nova versão de seu jogo favorito e, então, surgiu o que ficou conhecido como Action Quake 2. Essa criação por parte dele já o fazia ser muito parecido com o Counter-Strike que conheceríamos mais tarde e também fez tanto sucesso que a própria desenvolvedora do título o implementou em um pacote de mods oficiais.

Depois de todo esse sucesso criando a sua própria versão de seus jogos favoritos, Minh Le, agora com a parceria de Jess Cliffe, chamou a atenção da Valve, que contratou a dupla e adquiriu os direitos de Counter-Strike. O jogo foi vendido como se fosse um título novo e agradou o público, pois logo o nome da empresa se tornou ainda mais conhecido quando o assunto era jogos online. Essa reputação já estava sendo criada desde a presença de Team Fortress. Os jogos da Valve simplesmente dominaram as lan-houses do mundo nos anos 2000, animando muitos jovens. Aqui a história da Steam dá o seu primeiro e tímido passo.

O surgimento da Steam

A Valve ficou conhecida como uma das melhores empresas do ramo online, pois oferecia ótimas experiências de jogos. O número de jogadores aumentava cada dia mais e,  por isso, problemas foram mais facilmente identificados, como o fato de não possuírem algum tipo de segurança contra jogadores que usavam programas para burlar as regras e trapacear durante as partidas, o que começou a irritar os jogadores. É bastante comum que jogos possuam atualizações que buscam modificar dados. O problema é que, durante essas atualizações, grande parte dos usuários ficavam sem poder jogar. Isso acontecia por vários dias seguidos, o que acabava com a diversão e a imersão da jogatina.

A Valve não demorou para perceber a necessidade de criar uma forma de lançar todas as atualizações mais rapidamente, ao mesmo tempo em que o jogador pudesse jogar. Assim, no dia 22 de março de 2002, enquanto acontecia a Game Developers Conference (GDC) 2002, a Valve anunciou a Steam, que tinha a ajuda de 75.000 beta testers para verificar se o sistema funcionaria perfeitamente. Era algo inédito, ainda mais pelas conexões de internet serem baixas naquele período. A ideia, que ainda não era igual ao que temos atualmente, pareceu agradar alguns e gerar alianças.

Valve, suas alianças e terceirizados 

As grandes empresas da época não apoiaram o projeto da Valve Corporation, é verdade, mas a Steam conseguiu o apoio da AT & T, Acer e GameSpy Industries. Essa era uma grande oportunidade para o desenvolvimento de novos recursos.  

Para ter a atualização 1.6 de Counter-Strike, agora, era necessário instalar e estar com as contas ligadas na Steam. Isso não desanimou os jogadores, pelo contrário, a animação fez com que os servidores caíssem de tanto downloads.

Além de tudo isso, tivemos o Counter Strike: Source, em 2004, que foi o primeiro game a usar a nova engine. Essa remasterização do CS 1.6 não bombou tanto quanto o seu antecessor, mas expôs para todos o poder de alcance da biblioteca da Steam, o que levou outras empresas a entrarem em contato com a Valve, querendo ter os próprios softwares e games vendidos pela plataforma.

Day of Defeat, Rag Doll Kung Fu e Darwinia são nomes conhecidos por aqueles que sabem a história da Steam. O nostálgico Day of Defeat fez história ao ser o primeiro jogo a ser lançado inteiramente pelo sistema de downloads da plataforma, em 2003. Já os dois últimos estiveram entre os primeiros títulos terceirizados lançados, o que mostrou o interesse da Valve em comercializar produtos de outras empresas, em 2005.

Além de loja, uma rede social

Não é de se estranhar que uma rede com tantos participantes logo pensou em uma ferramenta que pudesse ajudar na comunicação entre eles. A importância da comunicação e de jogadores unidos deu o pontapé nos primeiros testes da Comunidade Steam.

Essa foi uma jogada de mestre da Valve, já que, pela primeira vez, jogadores não precisavam recorrer a outras plataformas para conversar e encontrar amigos com gostos em comum. Com a biblioteca pessoal visível, qualquer um poderia saber do que o outro gosta. A Comunidade Steam trouxe maior interatividade entre povos distintos, encurtou a distância entre pessoas e facilitou o intercâmbio cultural.

Depois, veio a Steamworks, que possibilitou que os desenvolvedores trabalhassem em projetos próprios e compartilhassem mods de seus games favoritos, e a Steam Cloud, que armazenava saves de jogos e outros dados na nuvem.

Por fim, também tivemos a Steam Greenlight, sistema onde os jogadores da plataforma podiam votar nos projetos mais interessantes de desenvolvedores independentes para serem adicionados na plataforma. Esse sistema contribuiu para que alguns clássicos chegassem ao conhecimento do público e se tornassem verdadeiros sucessos, sendo alguns exemplos o Stardew Valley, Undertale e Papers, Please!

Ou seja, apesar desse projeto trazer algumas reclamações por conta da qualidade dos jogos que eram apresentados e aprovados, sem ele, ficaríamos também sem conhecer muitos outros que hoje em dia fazem parte da nossa lista de favoritos.

A Steam que conhecemos

Atualmente, a plataforma Steam possui aproximadamente 95 milhões de usuários no mundo todo e é sucesso entre os gamers. Para qualquer pessoa que tenha comprado um computador e esteja desembarcando no mundo dos jogos para PC, a Steam é indicada.

Neste ano teve um recorde de pico de usuários online na plataforma, com um total de 33 milhões, números que são superados todos os anos pelo site, com uma comunidade cada vez mais ativa e em constante expansão. Durante esses números que ficaram marcados no site, o TOP 3 de jogos no momento foram formados pelos jogos Counter-Strike: Global Offensive, Dota 2 e Goose Goose Duck.

Além disso, a plataforma também é conhecida por ter uma forte presença no cenário competitivo de jogos digitais, com o seu MOBA, a cada campeonato internacional, oferecendo um prêmio ainda maior para os competidores e reunindo a comunidade em partidas de tirar o fôlego.

Steam Machine, Steam VR, Steam Deck

Pelo histórico até aqui, sabemos que a Valve não gosta de ficar parada. Entre erros e acertos, falaremos agora de três criações notórias da empresa. Foi buscando sempre inovar que a Valve apostou na Steam Machine, que era a ideia de criar um dispositivo que usasse o modo Big Picture, feito em 2012, como uma opção melhor para a visualização da plataforma, como uma TV. 

A ideia era ser compatível com um console de mesa, mas como uma espécie de hardware próprio para rodar o sistema Steam. Isso abriria caminho para que os jogadores acessassem todos os títulos da plataforma fora do PC. Uma boa ideia, não acha? Entretanto, ela não convenceu. Por ser terceirizada, desenvolvida por empresas como Alienware, Maingera e Zotac NEN, o preço das Steam Machines eram altos, variando entre US$450 e US$5 mil, dependendo de cada modelo, ou seja, a ideia atingia apenas um nicho minúsculo.

Em 2014, o desejo pelo novo motivou mais uma vez a Valve Corporation, que lançou a plataforma de distribuição de conteúdo digital e jogos digitais com Realidade Virtual: Steam VR. Já ouviu falar dos populares Oculus, HTC Vive e até do PlayStation VR? Toda essa popularidade reflete a ideia da Valve em colocar um espaço na Steam para os desenvolvedores interessados em realidade virtual, facilitando para os usuários o acesso ao conteúdo no hardware que o jogador escolher.

Se você acha que a Valve parou, errou. Em 2022, a última novidade foi lançada. Vamos falar agora do híbrido de console de jogos eletrônicos e tablet desenvolvido pela Valve. Isso mesmo, o Steam Deck. Embora muitos jogadores acreditem que a Valve tem uma lista bem ruim quando o assunto é hardware, o Deck foi bem recebido pelo público. O videogame portátil foi visto como “libertador” para muitos jogadores, graças ao fato de permitir que se instale o software que quiser no sistema operacional baseado em Linux do dispositivo. A novidade ainda foi premiada por melhor hardware de 2022 no Golden Joystick Awards. 

Relevância no mercado hoje

A Steam ainda é a maior loja de jogos digitais no PC. Entretanto, com o passar dos anos, apesar de cada vez mais popular entre os jogadores, a Steam não se manteve como a única plataforma popular de jogos no mercado digital para computadores e alguns concorrentes apareceram, sendo a batalha mais acirrada contra a EPIC Games Store. 

Ambas as empresas buscam conquistar a maior fatia possível do mercado de jogadores de PC, o que gera uma competição intensa e têm trazido mudanças significativas para o setor.

De acordo com dados divulgados pelo Mobile Marketing Trends, em 2022, a Steam ainda é a plataforma líder de distribuição de jogos para PC, com uma receita estimada em US$ 3,1 bilhões apenas no primeiro semestre do ano. No entanto, a EPIC Games Store tem ganhado espaço rapidamente, com uma receita de US$ 820 milhões, mas os dados são referentes ao ano inteiro.

Uma das principais estratégias adotadas pela EPIC Games Store para atrair jogadores tem sido oferecer jogos gratuitamente em períodos limitados. A empresa já distribuiu títulos como “Grand Theft Auto V“, “Control” e “Among Us” de forma gratuita, o que atrai muitos jogadores para a plataforma. Além disso, a loja investe em exclusividades, fechando acordos com desenvolvedoras para lançar jogos somente em sua plataforma, como aconteceu com “Metro Exodus” e “Borderlands 3“.

A Steam, por sua vez, tem mantido sua posição de liderança por meio de sua ampla biblioteca de jogos e de recursos como o Steam Workshop, que permite que os jogadores criem e compartilhem conteúdo para seus jogos favoritos. Além disso, a plataforma oferece ferramentas de comunidade, como fóruns de discussão e grupos de jogadores, o que tem ajudado a fidelizar seus usuários.

Existem, também, outras lojas no mercado de jogos digitais, entretanto, nenhuma delas consegue ter uma fatia tão grande quanto as duas já citadas aqui. Podemos citar como exemplo de destaque a GOG, da desenvolvedora CD Projekt RED, responsável por The Witcher e Cyberpunk. A loja foca em oferecer jogos antigos e clássicos, além de versões remasterizadas de títulos populares, com ênfase em DRM-free e jogos sem nenhum tipo de proteção contra cópias ilegais.

Além disso, a loja Uplay, da desenvolvedora Ubisoft, também tem ganhado espaço no mercado de jogos digitais para PC, com uma biblioteca de jogos populares como “Assassin’s Creed” e “Far Cry“. 

E com isso, chega ao fim a nossa história do dia sobre uma das lojas pioneiras no mercado de jogos digitais e que mesmo sendo uma das primeiras a serem lançadas, segue sendo a mais popular até os dias atuais. Entretanto, para você, caro leitor, qual é o jogo que mais tempo te acompanhou na Steam? Nos conte pelos comentários!

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FONTES: EuroGamer, Steam e PC Gamer

Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim (23/03/23)