Instituto butantan visto de frente

Anvisa autoriza testes do soro anti-covid do Butantan em humanos

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Como é o soro anti-Covid do Instituto Butantan? Como ele funciona? Onde será testado? Descubra a resposta para todas essas perguntas conosco

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, na quarta feira (24), o começo dos testes em humanos do soro anti-Covid produzido pelo Instituto Butantan. A autorização chega depois de várias críticas ao órgão regulatório, inclusive por parte do governador do Estado de São Paulo, João Dória, acerca da demora no processo burocrático. Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, afirma que o pedido estava circulando desde dezembro; a ANVISA, por sua vez, rebateu dizendo que os documentos oficiais só foram enviados no início deste mês.

No meio das discussões, a Anvisa também liberou seu histórico de pedidos, no qual consta que o Instituto Butantan não enviou “documentos básicos” — terminologia do próprio órgão — para a aprovação do soro responsável por combater a COVID-19. Antes tarde do que nunca, a realização de testes nos primeiros humanos com o soro anti-Covid foi aprovada, mediante envio de “documentos complementares” por parte do Butantan. De acordo com a nota oficial da Anvisa:

A autorização foi condicionada a um Termo de Compromisso que prevê a entrega de informações complementares. Isso significa que, para o início do estudo, o Butantan ainda deverá apresentar as informações complementares que não foram integralmente disponibilizadas. Para isso, será enviado um ofício com apontamento das pendências ao Butantan, o que já estava acordado entre a Anvisa e o Instituto. 

Esta será a primeira vez que o soro do Butantan será testado em pessoas, o que exigiu da Agência uma avaliação criteriosa dos aspectos técnicos e de segurança do produto. Até o momento, o soro foi testado somente em animais. 

Nota oficial no site da Anvisa

A autorização chega em boa hora, dado que os casos de COVID-19 no país estão em alta e as mortes diárias atingem patamares preocupantes. Considerando a falta de gerenciamento em todas as esferas governamentais, resta torcer para que a ciência e a pesquisa brasileira superem essas adversidades e consigam combater o vírus da melhor maneira possível, mesmo que precisem enfrentar o negacionismo e a inaptidão de certos setores da sociedade.

Tudo que você precisa saber sobre o soro anti-Covid do Butantan

Cavalos no qual o soro anti-covid foi testado em primeira mão
Estes simpáticos animais da Fazenda São Joaquim, uma das fazendas que fornece animais para o Instituto Butantan, são extremamente importantes na hora de produzir soros e vacinas. (Imagem: YouTube oficial do Butantan)

A estimativa é que o soro anti-Covid seja aplicado nos primeiros pacientes humanos já nesta semana ou, no máximo, na próxima. Mas as perguntas que ficam para muitos são:

  • Como ele funciona?
  • De onde ele veio?
  • Ele é eficaz?

Em primeiro lugar, é importante explicar o que é um soro e em que medida ele se diferencia de uma vacina. Para tal, o Showmetech pediu a opinião do especialista Ian Soares Ribeiro, analista laboratorial em Microbiologia na Fleury Medicina e Saúde, em Brasília.

O soro é o anticorpo pronto, ou seja, ele vai ser injetado no ser humano para combater o patógeno/molécula que está causando dano. Por exemplo, o soro antiofídico, que apresenta uma ação imediata contra a molécula do veneno da cobra. Ele possui um anticorpo pronto para lutar justamente contra essa molécula. É feito um processo de preparação, normalmente em animais de grande porte, como cavalos, com retirada de sangue e separação dos anticorpos. Assim, ele vai lutar contra o patógeno e vai ser descartado do organismo — não há memória dele.

Isso significa, na prática, que, se você for picado por uma cobra, será necessário tomar o soro novamente, considerando que ele funciona como um remédio instantâneo. O Ian também explicou a diferença também sobre o processo da vacina:

A vacina, por outro lado, é um composto feito para criar uma memória celular no organismo que vai gerar a criação de anticorpos. Para tal, o patógeno inativado, enfraquecido ou somente uma de suas partes (este que produz a vacina recombinante, que é a melhor) é injetado no corpo, que vai considerar a molécula como uma ameaça e vai lutar contra ela. A partir disso, tem toda uma cadeia de eventos que acontece no organismo que estimula a criação de anticorpos – por isso, é um processo mais demorado.

O que é e como ele funciona?

É importante citar que os estudos clínicos serão realizados em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e com o Hospital do Rim e Hipertensão, ambos em São Paulo. Os estudos terão 3 fases – a primeira terá alguns pacientes selecionados para o teste; a segunda visa determinar a quantidade precisa de soro para viabilizar o tratamento; e a terceira pretende analisar a eficácia da dose.

Feita essa análise, a pergunta que fica é como o soro anti-Covid do Instituto Butantan funciona. Para tal, é interessante mostrar também como ele foi produzido: os pesquisadores injetam vírus inativados, ou seja, incapazes de gerar a doença, em cavalos — estudos mostram que esses animais possuem uma carga de anticorpos muito mais concentrada e forte que a dos humanos. Mesmo inativados, eles possuem a mesma estrutura molecular, o que estimula a produção de anticorpos no organismo dos equinos, como.

Feita essa etapa, os cientistas retiram o plasma sanguíneo do animal – lembrando que o plasma constitui cerca de 55% do sangue e é nele que ficam os glóbulos brancos (ligados à resposta imune), vermelhos e as plaquetas — e, por um processo de filtragem, retiram todos os componentes plasmáticos, com exceção dos anticorpos, como o Ian explicou acima. Esses anticorpos são os que constituem o soro anti-Covid, que vai agir diretamente no organismo receptor.

Segundo nota oficial do Instituto Butantan acerca do soro anti-Covid:

A pesquisa será conduzida pelo infectologista Esper Kallás, da USP, e pelo nefrologista José Medina, ambos integrantes do Centro de Contingência do Coronavírus do governo estadual.

O soro é feito a partir de um vírus inativado por radiação, em colaboração com o IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), também da USP, e aplicado em cavalos, que produzem anticorpos do tipo IgG, extraídos do sangue e purificados com uma técnica usada há décadas no Butantan.

Os pacientes que receberão primeiro o soro anti-Covid serão aqueles com maior probabilidade de desenvolver quadros graves da doença, como pacientes imunossuprimidos, que passaram por transplante recente e outros do grupo de maior risco. Depois, será medida a eficácia do medicamento em pessoas que contraíram o vírus há pouco tempo, para impedir que o quadro da doença se agrave.

E você? Já fez o pré-cadastro para vacinação em São Paulo?

Fontes: CNN | UOL | G1 | Facebook do Instituto Butantan | Twitter do Instituto Butantan | Site do Instituto Butantan | Canal Butantan


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