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A Ambev, gigante do ramo de bebidas, sofreu forte queda na bolsa de valores após acusações de inconsistências e rombo fiscal, assim como nas Lojas Americanas – ambas com grande parte de ações do grupo 3G Capital. As ações da empresa sofreram forte queda na quarta-feira passada e ainda não se recuperaram.
Acusações de rombo de R$30 bilhões
Na quarta-feira passada, a Ambev foi acusada de evasão fiscal da ordem de R$30 bilhões, fazendo suas ações despencarem em queda livre na B3. Isto ocorre pouco tempo depois das Lojas Americanas, que possuem participação acionária do mesmo grupo econômico que possui uma boa fatia da Ambev, ter declarado recuperação judicial.
As Lojas Americanas estão protagonizando um dos maiores escândalos financeiros de uma instituição privada no país após seu último CEO, Sérgio Rial, descobrir e divulgar um rombo que se suspeitava inicialmente ser de R$20 bilhões, mas que até agora já chega aos R$40 bilhões. Para fins de comparações, a empresa tinha R$ 11 bilhões de valor, antes de suas ações derreterem no mercado em decorrência da notícia.
Assim como as Lojas Americanas, o grupo 3G Capital é acionista da Ambev. O grupo é formado por Carlos Alberto Sicupira, Marcel Telles e Jorge Paulo Lemann, e enquanto na Americanas eles possuíam 29% em ações, na Ambev o grupo soma 19%, sendo a holding (empresa controladora) Eugènie Patri Sébastien a maior acionista, com 23%. Essa informação tem sido importante para a empresa se defender, alegando que os boatos não são só falsos, mas maliciosos.
Enquanto o problema das Lojas Americanas acontece em âmbito privado, o suposto rombo da Ambev seria relacionado a problemas públicos da ordem de impostos federais, estaduais e municipais.
A acusação é feita pelo diretor-geral da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), Paulo Petroni, que levanta relatórios desde 2017 onde a Receita Federal apontaria bilhões em manobras realizadas pela empresa para desviar ou deixar de pagar impostos.
Esse estudo da CervBrasil foi publicado no Radar Econômico, da revista Veja, e os efeitos nas ações da Ambev foram imediatos.
A posição da Ambev
A Ambev se posicionou de forma muito contundente em relação ao assunto, afirmando que essa acusação acontece de forma oportunista pelos problemas enfrentados nas Lojas Americanas, e não tem qualquer fundamentação ou embasamento concreto.
As acusações da Cervbrasil não têm qualquer embasamento. Calculamos todos os nossos créditos tributários estritamente com base na lei. Nossas demonstrações financeiras cumprem com todas as regras regulatórias e contábeis, as quais incluem a transparência do contencioso tributário. A Ambev está entre os 5 maiores pagadores de impostos no Brasil.
– Ambev, para o Radar Econômico da Revista Veja
O fato é que na CervBrasil há também concorrentes da Ambev, então até que o estudo seja averiguado e avaliado, não se pode afirmar qual das partes fala a verdade.
Na CervBrasil há concorrentes da Ambev, então a associação não é isenta para falar sobre a companhia. Esse setor de cervejaria já teve problemas com impostos várias vezes na história, então tem que ser provado. O benefício da dúvida é pró-Ambev.
Flavio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos.
A Ambev afirma haver litígios tributários em que diverge da interpretação da Receita Federal, alegando ser fruto do complexo sistema tributário do Brasil e comum a muitas empresas. A origem destes litígios se dá na fabricação de concentrados de refrigerante na Zona Franca de Manaus: empresas que possuem operação na ZFM estão isentas de IPI, mas as compradoras dos concentrados podem reconhecer os créditos tributários baseando-se na alíquota nominal do IPI.
Analistas do banco BTG Pactual afirmam que o montante de R$ 30 bilhões se referem a todo o setor de refrigerantes, e a fatia relacionada à Ambev seria “indiscutivelmente muito menor”, sendo a Coca-Cola a maior afetada pelos litígios tributários. A fabricante de cervejas reportou, no terceiro trimestre, “possíveis” perdas de R$ 5,6 bilhões em créditos tributários associados à Zona Franca de Manaus.
Caso a acusação se confirme ser verdadeira, a situação não é tão desesperadora como nas Lojas Americanas porque o valor de mercado da Ambev é de R$200 bi — bem diferente da Americanas, na qual o rombo é 4 vezes seu valor de mercado.
Um ponto que não podemos ignorar é que, até que se confirme se a empresa diz a verdade, suas ações dificilmente se recuperam na bolsa, e em certo ponto um grande estrago já foi feito.
Suspeita será averiguada
Caso o rombo se confirme, porém, as coisas ficaram realmente feias para a 3G Capital, não só do ponto de vista de credibilidade, mas também na Justiça. A maior preocupação é que essa prática seja algo comum dentro do grupo, o que acabaria completamente com as estruturas da 3G Capital.
Vale lembrar que um de seus acionistas, Jorge Paulo Lemann — o homem mais rico do Brasil, segundo o ranking da revista Forbes — já perdeu mais de R$ 300 milhões desde que o escândalo da Americanas eclodiu.
Atualmente os bancos credores da Americanas querem que os acionistas como Lemann injetem no mínimo R$ 15 bilhões de aporte na empresa, caso contrário podem ignorar a pessoa jurídica da Americanas no processo, ou seja, partir para os bens pessoais dos acionistas. Nos resta aguardar.
Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim
Revisão conforme nota da Ambev por Glauco
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