Índice
- O que é subcultura
- Biohackers
- Bike Polo
- BookTube & BookTok
- Bushcraft
- Caçadores de Fantasmas
- Chiptune
- Clowncore
- Colecionadores de VHS
- Coletores e colecionadores de escovas de dentes
- Cócegas competitivas
- Dumpster Diving
- Extreme Ironing
- Freeganismo
- Goblincore
- Haul Girls
- Mallsoft
- Modders corporais extremos
- Neo-Tribalismo
- Otherkin
- Pastafarianismo
- Planking
- Quadribol
- Sneakerheads
- Surf Ferroviário
- Tecnoxamanismo
- Toy Voyaging
- Tulpamancia
- Undertale (RPG)
- Weirdcore
- Zentai
Em meio à fascinante diversidade da sociedade, encontramos grupos que compartilham interesses, valores e atividades únicas. Conheça nessa lista algumas das subculturas e comunidades alternativas que são mais populares do que você possa imaginar.
O que é subcultura
Uma subcultura é um grupo menor em uma cultura maior que compartilha características, valores e comportamentos distintos. Esses grupos podem se formar com base em interesses comuns, como música, moda, esportes, estilo de vida, ideologia, entre outros. Essas comunidades nascem do desejo de desafiar o convencional, mas também oferecem um refúgio acolhedor para aqueles que se sentem estranhos na maioria.
Movimentos sociais e ideias de mudança moldam e influenciam essas subculturas, como o hip-hop, o grunge, o hippie e o punk. Alguns grupos têm origem regional, mas conquistam o mundo, como os Otakus, apaixonados por anime, mangá e a cultura pop japonesa, ou o fenômeno Kawaii, que celebra o “fofo” e o encantador.
No entanto, a “Era da Imagem” e as mídias sociais transformaram a estética em um rei, muitas vezes deixando o significado para trás. O consumismo se infiltra, transformando essas subculturas em produtos a serem consumidos, e a busca por autenticidade é substituída pela busca por estar na moda. As identidades subculturais se fragmentam, e as pessoas transitam entre estilos sem o compromisso ideológico de antes.
Subculturas inusitadas e comunidades alternativas existem, como os Furries, pessoas que se identificam e se vestem como animais antropomórficos, desafiando as normas e oferecendo um lar para aqueles que não se encaixam nas definições tradicionais.
O futuro dessas subculturas é uma incógnita. Serão engolidas pela cultura consumista ou encontrarão uma maneira de se manterem fiéis a si mesmas? A resposta está nas mãos do tempo e nas mãos daqueles que buscam um lugar para chamar de lar, longe das convenções.
Preparado para mergulhar em um mar de subculturas e comunidades alternativas que celebram a diversidade humana?
Biohackers
O movimento do biohacking, ou Biologia DYI, que visa aprimorar a saúde e o desempenho humanos por meio de técnicas experimentais, está ganhando cada vez mais seguidores globalmente. Biohackers já conquistaram feitos notáveis, como melhorias na memória e na imunidade, por práticas como monitoramento do sono, jejum intermitente e uso de suplementos.
Alguns entusiastas do biohacking vão além e optam por procedimentos mais invasivos, como a implantação de chips. Por exemplo, Neil Harbisson inseriu uma antena em seu crânio para perceber novas cores, enquanto outros buscam prolongar a vida por meio da terapia gênica. Além disso, laboratórios amadores experimentam com hormônios de crescimento e modificações genéticas.
Universidades de renome, como Harvard, estão investindo em pesquisas nessa área. Ao mesmo tempo, empresas como a 23andMe oferecem testes genéticos para personalizar abordagens de saúde. Avanços recentes de biohacking como o do chip Neuralink que permitiu um tetraplégico jogar Civilization com a mente, são revolucionários. No entanto, há preocupações com a falta de regulamentação, dado o potencial de riscos envolvidos, principalmente nas intervenções do tipo “faça você mesmo“.
Bike Polo
O Bike Polo, ou Cycle Polo, é um esporte que combina a agilidade do ciclismo com a estratégia do polo tradicional. Criado em 1891 por Richard J. Mecredy, na Irlanda, o esporte é jogado em equipes de três a seis jogadores, cada um montado em uma bicicleta e utilizando um taco longo para acertar uma bola de plástico e marcar gols.
Desde 2007, o Bike Polo vem conquistando adeptos em todo o mundo, sendo praticado em países como Estados Unidos, França, Índia e Brasil, onde chegou por volta de 2009. As competições organizadas, como o Campeonato Brasileiro de Bike Polo, e iniciativas de instituições como a League of Bike Polo e a European Hardcourt Bike Polo Association, fomentam o crescimento e a profissionalização do esporte, que se destaca pela combinação única de adrenalina, destreza e trabalho em equipe. Ah, sem falar que os cavalinhos agradecem!
BookTube & BookTok
O BookTube e o BookTok são comunidades online apaixonadas por livros, surgidas respectivamente no YouTube e TikTok.
No BookTube, iniciado em 2011, os entusiastas criam vídeos sobre livros, influenciando leitores com suas opiniões. Já o BookTok, emergente desde 2020, é uma comunidade onde vídeos curtos sobre livros viralizam, impulsionando até best-sellers. Ambas as plataformas impactam o mercado literário, aumentando vendas e sendo aproveitadas por editoras e autores para promover seus trabalhos.
A hashtag #BookTok acumula mais de 100 bilhões de visualizações e a hashtag #BookTokBrasil acumula cerca de 20 bilhões de visualizações. Uma pesquisa da Nielsen BookScan revelou que, de janeiro a setembro de 2021, as vendas alcançaram cerca de 36 milhões de exemplares, representando um aumento de 39% em relação ao mesmo período de 2020. A combinação do conteúdo dos influenciadores com o algoritmo das plataformas tem sido fundamental para o sucesso.
Bushcraft
O Bushcraft, traduzido livremente como “artes do mato”, é uma prática que envolve habilidades de sobrevivência na natureza, utilizando recursos naturais e técnicas ancestrais para se adaptar e viver em ambientes selvagens. É uma combinação de conhecimentos de acampamento, habilidades de caça, construção de abrigos, identificação de plantas comestíveis, técnicas de fogo e muito mais.
Popularizado por especialistas como Ray Mears na década de 1990, o Bushcraft atrai cada vez mais entusiastas ao redor do mundo, buscando não apenas sobreviver, mas também reconectar-se com a terra e desenvolver resiliência.
Existem grupos de bushcrafters em todo o mundo, por exemplo, o inglês British Bushcraft Association e o brasileiro Bushcraft Brasília, promovem eventos e encontros, fomentando a comunidade. Canais do YouTube como o Survival Lilly e Survival Builder contam com milhões de visualizações. Com uma vasta bibliografia sobre o assunto e crescente número de adeptos e cursos, o Bushcraft é um fenômeno estabelecido.
Caçadores de Fantasmas
Caçadores de Fantasmas, ou Ghost Hunters, é uma cultura intrigante de investigação paranormal, explorando locais supostamente assombrados. Usando uma variedade de dispositivos eletrônicos, como detectores de campos magnéticos (EMF), termômetros digitais e câmeras de vídeo (inclusive termográficas e de visão noturna), os praticantes, também chamados de investigadores paranormais, buscam evidências espirituais.
Embora seja difícil estimar, milhares de entusiastas participam globalmente, com grupos como a Sociedade Paranormal do Atlântico testemunhando um aumento de membros desde os anos 2000. Empresas especializadas também cresceram, oferecendo equipamentos e serviços para a investigação paranormal.
Chiptune
O Chiptune, ou Chipmusic, é uma comunidade e gênero musical eletrônico nascidos na era dos computadores 8-bit e videogames clássicos como Nintendo Entertainment System (NES), Game Boy e Commodore 64. Utiliza sons característicos desses dispositivos para criar melodias contagiantes.
Surgido nos anos 80, o Chiptune ganhou força nos anos 2000, atraindo uma comunidade diversificada de entusiastas que exploram suas possibilidades criativas. A comunidade Chiptune é diversificada, com artistas explorando estilos musicais que vão do techno ao jazz. Nomes como Bit Shifter e Chipzel se destacam no gênero, e comunidades online como o Chipmusic, agrega os entusiastas.
Clowncore
O Clowncore é a mais recente tendência de subcultura na moda a ganhar destaque nas redes sociais, especialmente no TikTok. Esse estilo excêntrico e divertido é inspirado no visual dos palhaços, com roupas e acessórios super coloridos, estampas vibrantes e maquiagem exagerada. Surgido na década de 2010, artistas e influenciadores experimentam maquiagens e roupas de forma irônica e provocativa.
O Clowncore na moda é uma explosão de cores e irreverência, com sapatos grandes e coloridos, acessórios extravagantes e maquiagem pesada. Filmes, músicas e jogos como “Popee The Performer” e “Killer Klowns from Outer Space” fazem parte desse universo único.
Além do visual colorido e alegre, o Clowncore também pode ter uma vertente mais sombria e gótica. Aqueles que preferem um look mais “edgy” podem apostar em roupas escuras com estampas ousadas, cabelos e maquiagem inspirados nos palhaços, mas com um toque mais sombrio e emo. Mais que uma estética, o Clowncore é uma comunidade acolhedora, promovendo diversidade e quebrando estereótipos, defendendo a liberdade individual de expressão.
Colecionadores de VHS
No cenário digital atual, os colecionadores de fitas VHS assumem o papel de preservadores do passado, mantendo viva não apenas a arte cinematográfica, mas também as memórias de uma era analógica. Apesar da obsolescência do formato, a procura por raridades VHS é significativa, com preços que variam de acessíveis a valores estratosféricos.
Essa comunidade diversificada, composta por nostálgicos e jovens entusiastas do estilo retrô, encontra apoio em instituições como museus e cinematecas, que desempenham um papel crucial na preservação desse patrimônio cultural. O crescente interesse pelos clássicos das décadas de 80 e 90 impulsiona o mercado de colecionismo, atribuindo às fitas VHS um valor simbólico e emocional inestimável.
Coletores e colecionadores de escovas de dentes
A comunidade de coletores de escovas de dentes usadas, impulsionada pelo projeto Curacycle da Curaprox, cresce ao coletar escovas dentais usadas e outros itens, visando à sustentabilidade e apoiando a ONG Amigo da Vez.
Paralelamente, os colecionadores de escovas de dentes, entusiastas dessa prática peculiar, encontram valor em escovas novas e usadas como relíquias carregadas de histórias pessoais, unindo-se em torno desse interesse singular. É possível visitar o Museu de Escovas de Dentes em Yangzhou na China, ou o museu online sueco Tandborstmuseet e apreciar coleções incríveis.
Cócegas competitivas
A Competição de Cócegas, um fenômeno online que surgiu após o lançamento do documentário “Tickled” em 2016, que segue o jornalista neozelandês David Farrier em sua investigação sobre o mundo do “competitive endurance tickling“, revela um mundo intrigante por trás de uma aparente brincadeira.
Produzidos pela empresa Jane O’Brien Media, os vídeos mostram jovens masculinos em trajes esportivos realizando cócegas uns nos outros, porém, o que parecia ser apenas diversão inocente esconde uma indústria obscura com relatos de cyberbullying e abusos de poder.
O documentário desvenda um “império das cócegas“, revelando um submundo onde o dinheiro flui abundantemente, mas também onde sombras de manipulação e intenções questionáveis pairam. Apesar de não haver um número exato de adeptos, a grande disponibilidade de vídeos online sugere uma comunidade considerável, levantando questões éticas sobre consentimento, poder e limites no contexto competitivo.
Dumpster Diving
O Dumpster Diving, conhecido como “mergulho em lixeiras“, surgiu nos anos 1980 como uma atividade de busca por itens úteis descartados em contêineres comerciais, residenciais e industriais. Hoje, sua popularidade se estende para além das lixeiras, incluindo contêineres de resíduos domésticos regulares e até beiradas de calçadas.
As motivações são diversas, indo desde a busca por sobrevivência econômica até o compromisso com a sustentabilidade ambiental e a oposição ao consumismo desenfreado. Com uma comunidade global presente em plataformas online e dedicadas, como Reddit, Facebook, Dumpstermap e Dumpsterdiving.info, os praticantes compartilham dicas e descobertas, tornando o Dumpster Diving uma prática amplamente reconhecida e discutida.
Extreme Ironing
O Extreme Ironing, ou “passando roupa ao extremo” é uma fusão única entre o cotidiano e o extremo, onde a emoção se encontra com a necessidade de uma camisa bem passada. Originado em 1997 por Phil Shaw, da Inglaterra, esse esporte desafia os praticantes, conhecidos como “ironists“, a passarem roupa em locais improváveis, como encostas de montanhas, florestas, e até mesmo debaixo d’água.
Com uma comunidade global ativa e diversificada, o Extreme Ironing Bureau, fundado em 2002, promove o esporte e organiza competições, refletindo a crescente popularidade dessa atividade que transforma o comum em extraordinário.
Embora seja difícil estimar o número exato de praticantes, um recorde mundial foi estabelecido em março de 2011, quando uma equipe de 173 mergulhadores realizou uma sessão de passar roupa simultaneamente debaixo d’água por 10 minutos.
Freeganismo
O Freeganismo, um estilo de vida alternativo surgido nos anos 1990, combina os princípios do veganismo com uma postura anticonsumista. Os freegans buscam reduzir sua participação na economia capitalista e minimizar o impacto ambiental através de práticas como vasculhar em vez de comprar, fazer voluntariado em vez de trabalhar e coletar comida no lixo (Dumpster Diving).
Descentralizada e baseada em práticas individuais, a comunidade freegan defende a ocupação de moradias urbanas abandonadas e a criação de hortas comunitárias em terrenos baldios. Embora seja difícil determinar o número exato de adeptos, o movimento ganhou impulso nas últimas décadas, especialmente nos Estados Unidos, onde continua a expandir sua influência.
Goblincore
O Goblincore surgiu no final de 2022 como uma lufada de ar fresco na cena cultural, impulsionado principalmente pelo TikTok. Inspirado pela natureza exuberante e pelo folclore nórdico, o Goblincore tece uma estética encantadora, onde duendes, gnomos e elfos coexistem harmoniosamente com cogumelos e florestas densas.
Mais do que apenas uma tendência estética, o Goblincore é uma resposta consciente à cultura capitalista e à crise climática, um chamado para reconectar-se com o mundo natural e valorizar sua preservação. A comunidade abraça especialmente jovens LGBTQIA+ e autistas, que encontram um santuário de expressão e pertencimento.
A hashtag #Goblincore testemunhou mais de 700 milhões de visualizações no TikTok, ecoando também em fóruns e redes sociais. Sua influência vai muito além do mundo digital e começa a impregnar a moda e o design de interiores com seu apelo confortável e conectado à terra.
Haul Girls
A subcultura Haul Girl emergiu como um fenômeno vibrante do YouTube, onde jovens, especialmente meninas, compartilham suas últimas aquisições em vídeos cativantes. Desde roupas até produtos de beleza e decoração para casa, essa comunidade floresce em meio à expressão criativa. Cada vídeo é meticulosamente elaborado, desde a seleção da trilha sonora até a edição habilidosa, proporcionando não apenas uma visão das compras, mas uma janela para o mundo da criatividade.
Essa comunidade não é apenas um grupo de indivíduos, mas uma verdadeira comunidade online. Muitas Haul Girls encontram nesses vídeos uma forma de conexão, permitindo-lhes compartilhar interesses comuns sem sair de casa.
Além disso, as marcas perceberam o impacto dessas influenciadoras digitais, muitas vezes presenteando produtos ou até mesmo investindo pesadamente para garantir visibilidade. Com milhares de vídeos sendo compartilhados diariamente, a subcultura Haul se estabeleceu como um fenômeno global inegável.
Mallsoft
Mallsoft, também conhecido como Mallwave, é um subgênero musical do Vaporwave que surgiu na metade dos anos 2010. Inspirado pela música lounge corporativa, busca evocar imagens de shoppings, supermercados e lobbies, despertando memórias nostálgicas mesmo para aqueles que não experimentaram esses ambientes em primeira mão.
Artistas como Macintosh Plus, Eco Virtual e Luxury Elite são alguns dos principais expoentes desse estilo musical, criando desde atmosferas que remetem à infância até cenários surreais de shoppings abandonados, onde os sons suaves de Muzak ecoam pelos corredores vazios e em desuso.
Além de oferecer uma imersão nostálgica, a subcultura Mallsoft também oferece uma crítica sutil ao consumismo e ao capitalismo corporativo. Ao modificar e reverberar músicas pop dos anos 80, os artistas deste gênero conseguem criar uma atmosfera que transporta os ouvintes para um mundo imaginário, repleto de referências à cultura pop e ao frenesi do consumismo.
Modders corporais extremos
O universo da modificação corporal extrema, conhecido como “body modding“, transcende os limites da estética convencional, criando uma subcultura complexa que desafia as normas estabelecidas de beleza e identidade. Com práticas que incluem desde implantes de chifres e língua dividida ao meio até piercings e tatuagens, esses indivíduos buscam expressar sua individualidade, desafiar convenções sociais e alcançar estéticas únicas.
Alguns veem a modificação corporal como uma forma de expressão única e inconfundível, enquanto outros a utilizam para superar traumas ou celebrar suas heranças culturais. O exemplo de Chiara Dell’Abate, uma italiana que desde os 11 anos está se transformando em uma “gata humana”, e Wildson Santos, conhecido como Dark Vírus, que ostenta quatro implantes de chifres, ilustram a diversidade e a profundidade dessa comunidade.
Com o crescimento da internet e das redes sociais, as modificações corporais extremas ganharam visibilidade, impulsionando o surgimento de instituições e profissionais especializados ao redor do mundo.
Neo-Tribalismo
O Neo-Tribalismo, uma subcultura contemporânea, resgata os laços comunitários e a conexão com a natureza em contraposição ao individualismo moderno. Motivados pela busca de pertencimento e autenticidade, os “neo-tribais” se reúnem em pequenos grupos, compartilhando valores e interesses como artesanato, agricultura sustentável e espiritualidade.
Michel Maffesoli, sociólogo francês, introduziu a teoria do Neo-Tribalismo em 1985, argumentando que, com o declínio das instituições modernas, as sociedades buscarão estruturas sociais tribais do passado. Essa tendência é observada principalmente em contextos urbanos, onde as neo-tribos funcionam como fontes de expressão cultural e emocional, alimentando uma necessidade humana essencial: a conexão comunitária em meio à desconexão moderna.
Otherkin
Os Otherkin são indivíduos que, de alguma forma, transcendem a humanidade, identificando-se parcial ou totalmente como seres não humanos. Essa identidade pode se manifestar de várias formas, seja espiritualmente, através de crenças em almas não humanas ou reencarnação, ou psicologicamente, como uma expressão de singularidade e pertencimento incomum.
Desde elfos a dragões, passando por personagens da mitologia e até figuras da cultura pop, os “kingêneros” abrangem uma vasta gama de seres e entidades. A subcultura emergiu nas comunidades online no início dos anos 1990, quando indivíduos começaram a se reunir virtualmente para compartilhar experiências e encontrar apoio mútuo.
Apesar da dificuldade em quantificar exatamente o número de membros, a presença significativa de comunidades Otherkin online sugere uma adesão substancial. Entre recursos como o Otherkin.net, que serve como um ponto central para essa comunidade, e obras como “A Field Guide to Otherkin” de Lupa, que oferecem uma compreensão mais profunda dessa subcultura, os Otherkin encontram espaço para explorar e celebrar suas identidades únicas dentro de um contexto de respeito e compreensão.
Pastafarianismo
O Pastafarianismo, uma religião satírica e irreverente, teve origem em 2005 quando Bobby Henderson, um físico americano, redigiu uma carta aberta ao Conselho de Educação do Kansas, nos Estados Unidos, em protesto à inclusão do Criacionismo no currículo escolar. Henderson propôs a “Teoria do Monstro de Espaguete Voador” como uma alternativa igualmente válida. Um Criador sobrenatural, composto por espaguete e almôndegas, e solicitou que o Pastafarianismo fosse incluído no ensino de ciências.
Os seguidores do Pastafarianismo, conhecidos como Pastafaris, são impulsionados pela sátira, humor e crítica à inclusão de ensinamentos religiosos em aulas de ciências. Um exemplo é Lukas Novy, que obteve permissão de um tribunal da República Tcheca para usar um escorredor de macarrão na cabeça em suas fotos oficiais, considerando-o um símbolo de sua fé Pastafari.
Apesar de suas origens satíricas, o Pastafarianismo ganhou popularidade e reconhecimento oficial em países como Polônia, Holanda e Nova Zelândia, sendo frequentemente citado por ateus, agnósticos, deístas e outros como uma religião válida, com crenças estruturadas, ritos e seguidores em todo o mundo.
Planking
O Planking, conhecido como “Jogo de Deitar“, é uma subcultura fascinante que tem conquistado adeptos ao redor do mundo. Essa prática consiste em deitar-se de bruços em locais inusitados, adotando uma posição rígida, de modo a criar uma imagem semelhante a uma tábua.
Originada como uma brincadeira entre jovens britânicos entediados em 1997, o planking ganhou popularidade global em 2011, após um praticante australiano cair de um prédio de sete andares durante a atividade. Motivados pela busca do local mais original e inusitado, os praticantes veem o planking como uma forma de expressão criativa e conexão com uma comunidade global de entusiastas.
A prática, além de desafiar fisicamente, principalmente os músculos abdominais, também atrai celebridades e figuras públicas, aumentando sua visibilidade. Embora várias instituições, como mídia e organizações de saúde, tenham se envolvido na divulgação e orientação sobre o planking, é importante reconhecer os riscos associados à atividade quando realizada sem precaução.
Quadribol
O Quidditch Muggle, também chamado de Quadball ou Quadribol, é uma adaptação sem magia do famoso jogo dos livros de Harry Potter. Originado em 2005 em Middlebury, Vermont, Estados Unidos, o esporte ganhou popularidade internacional, com várias versões surgindo em diferentes comunidades.
No Quadball, sete jogadores de cada equipe devem manter uma vassoura entre as pernas durante o jogo. Pontos são marcados ao lançar o “quaffle” (uma bola de vôlei) pelos aros adversários ou capturar o “snitch“, com diferentes posições estratégicas para os jogadores.
Governado pela Associação Internacional de Quadball, o esporte tem ampla participação global, com mais de 300 equipes em 20 países. Universidades, comunidades e ligas como a Major League Quadball (MLQ) e a US Quadball (USQ) organizam competições, expandindo a subcultura que combina amor pela série de livros e a paixão por um esporte físico e estratégico. Inclusive, no Brasil, temos a Asociação Brasileira de Quadribol (ABRQ).
Sneakerheads
A comunidade Sneakerhead, termo derivado da junção de “sneaker” (tênis) e “head” (apaixonado), é uma união apaixonada de entusiastas de tênis, transcendendo o simples uso do calçado para transformá-lo em uma expressão de estilo e colecionismo.
Originada nos Estados Unidos nas décadas de 80 e 90, essa subcultura tem como destaque a busca incessante por modelos exclusivos e raros, muitas vezes associados a gigantes do mercado como Nike, Adidas e Jordan. O interesse desses aficionados variam desde o investimento até a expressão de identidade e nostalgia, com os icônicos Air Jordans frequentemente no centro das atenções devido à sua história e influência cultural.
No Brasil, os Sneakerheads compartilham essa mesma paixão e dedicação, sendo colecionadores, fashionistas e admiradores ávidos por narrativas exclusivas por trás de cada par de tênis. Eventos como a Sneaker Con e a presença de marcas renomadas colaboram para fortalecer e expandir essa comunidade apaixonada.
Surf Ferroviário
Surfar em trens é quando alguém vai na parte de fora de um trem, metrô ou bonde em movimento. Tanto no teto quanto pendurado. Inicialmente, surgiu como uma forma de sobrevivência para pessoas sem dinheiro no final do século XIX. Mais tarde, na década de 1980, virou algo emocionante para adolescentes na África do Sul e no Brasil.
As razões para surfar em trens são variadas. Alguns gostam da adrenalina e da sensação de velocidade, enquanto outros o fazem para escapar de problemas sociais. Apesar dos perigos evidentes, como morte ou ferimentos graves, muitos ainda o fazem pela emoção e liberdade de desafiar o perigo em alta velocidade.
A comunidade de surf ferroviário é diversa e global, com praticantes em muitos países. Embora seja difícil saber quantos são por causa da clandestinidade, é claro que continua, especialmente onde os trens estão lotados. Eles se organizam principalmente através das redes sociais, compartilhando experiências e planejando viagens em pequenos grupos. No entanto, é importante mencionar que é ilegal em muitos lugares e fortemente desencorajado devido aos riscos envolvidos.
Tecnoxamanismo
O Tecnoxamanismo , ou Tecnomagia, é uma subcultura que mescla tecnologia e xamanismo, buscando influenciar o pensamento contemporâneo e as práticas cotidianas ao ver os seres vivos como um sistema co-evolutivo de seres orgânicos e sua tecnologia.
Surgindo como uma rede internacional de colaboração, atrai acadêmicos, ativistas e indígenas, transcendendo a lógica instrumental do capital. Embora sem números precisos, a comunidade é diversificada, incluindo artistas, xamãs, profissionais de saúde e engenheiros de software, unidos em buscar ideias além do convencional.
A cultura rave tem sido descrita como um tipo de tecnoshamanismo, onde participantes usam drogas psicodélicas como meio de experienciar estados alterados de consciência e espiritualidade. Surgiram os “curandeiros psicodélicos” ou “xamãs tecnológicos”, auxiliando participantes sob efeito de drogas com massagens e conversas para atravessar estados alterados de consciência. Realizam também rituais de cura espiritual e limpezas energéticas, vistos como guias facilitadores de insights e curas interiores na experiência das raves.
Toy Voyaging
A subcultura de Toy Voyaging, ou “Viagem de Brinquedos”, é uma comunidade global fascinante que envolve o envio de brinquedos em viagens ao redor do mundo. Inspirada pelo gnomo viajante do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, a ideia foi concebida para permitir que os brinquedos se tornassem companheiros de viagem, capazes de ir a lugares, fazer coisas, conhecer pessoas e ter suas aventuras capturadas em fotografias.
Criada como um experimento, a comunidade Toy Voyagers cresceu rapidamente desde o seu início. Agora, com milhares pessoas de todo o mundo se juntando ao projeto, os membros enviam seus brinquedos em aventuras, aprendem sobre outras culturas, oferecem-se para ‘hospedar’ os Toy Voyagers de outras pessoas e formam amizades no processo.
Tulpamancia
Tulpamancia, uma prática intrigante com raízes profundas no budismo tibetano, ressurgiu no século XX e encontrou seu lar na era da internet. Conhecidos como “tulpamancistas”, os praticantes criam amigos imaginários dentro de suas mentes, vistos como conscientes e independentes. Alguns veem suas “tulpas” como companheiros aprimorados, enquanto outros as exploram como uma jornada de autoconhecimento.
A comunidade online de tulpamancia cresceu exponencialmente desde sua popularização em fóruns, dando origem a sites como o Tulpa.info dedicados ao assunto. Embora seja difícil estimar o número exato de praticantes, ela está em constante crescimento, com fóruns e redes sociais reunindo milhares de membros.
Existem recursos e apoio para quem deseja explorar essa jornada mental única. No entanto, é importante ressaltar que cada prática é pessoal e singular, refletindo as experiências e caminhos individuais de cada participante.
Undertale (RPG)
Undertale começou como um jogo de RPG 2D de baixo orçamento criado por Toby Fox em 2015. Rapidamente, porém, seu humor, mensagem pacifista e níveis de profundidade tranquilos fizeram com que encontrasse uma audiência cult entre os jogadores. Mas enquanto a maioria dos sucessos cults teria sua base apenas no jogo em si, Undertale era apenas o começo.
Logo as coisas se expandiram para web comics, que reimaginavam certas cenas de maneira diferente e melhoravam as animações de batalha criadas pelos fãs. Mas isso não foi o suficiente para os fãs, então logo universos alternativos inteiros de Undertale foram criados, incluindo Underfell, Underswap, Outertale e até mesmo o desdobramento de um desdobramento, o Fellswap, apenas para citar alguns.
E como se isso não fosse selvagem o suficiente, todos esses têm seus próprios jogos de fãs totalmente desenvolvidos e comunidades separadas, com vídeos no YouTube sobre eles frequentemente alcançando milhões de visualizações.
Weirdcore
A subcultura Weirdcore, surgida nas profundezas da internet, tem conquistado um vasto espectro de artistas, músicos e criativos desde sua aparição nos anos 2010. Esta estética, também conhecida como Oddcore ou Strangecore, destaca-se por seu uso de imagens, vídeos e arte de baixa qualidade, manipulados para evocar uma gama de emoções que vão desde a nostalgia até o desconforto.
Utilizando ferramentas como Photoshop e MS Paint, os praticantes de Weirdcore desafiam as normas convencionais da estética visual, optando por uma abordagem crua e rudimentar. O resultado final pode parecer desconcertante à primeira vista, mas é exatamente essa abordagem que provoca sensações de inquietação, alienação e um estranho sentimento de familiaridade perdida.
Ao explorar espaços liminares e abraçar a ausência de uma narrativa definida, o Weirdcore se estabelece como um refúgio de escapismo, transportando seus espectadores para um reino onde a realidade é distorcida e o estranho é celebrado.
Zentai
Originária do Japão, a subcultura Zentai é fascinante, envolvendo o uso de trajes de elastano que cobrem todo o corpo. O termo “Zentai” vem de “zenshin taitsu“, que significa literalmente “collants de corpo inteiro” em japonês. Seu surgimento ganha destaque nas experimentações com trajes de corpo inteiro de Marcy Anarchy nos anos 80.
A motivação por trás do Zentai é multifacetada. Muitos veem nele uma maneira de explorar identidades para além das barreiras físicas e sociais. Ao remover não só a identidade, mas também a individualidade, o Zentai transforma grupos em uma única energia. Proporciona anonimato e expressão, oferecendo uma sensação de liberdade única.
Embora o número exato de adeptos seja difícil de determinar, a prática tem conquistado seguidores em todo o mundo, inclusive no Brasil. Artistas como Yuzuru Maeda têm desempenhado um papel crucial na sua promoção, organizando festivais e explorando-o como forma de arte. Além disso, pesquisadores como Violetta Zentai, da Central European University, têm estudado subculturas como essa, acrescentando camadas de compreensão ao fenômeno.
Chegamos ao fim dessa jornada incrível pela pluralidade humana, suas diversas subculturas e culturas alternativas. Espero que tenha ampliado sua mente tanto quanto eu expandi a minha ao escrever sobre elas. Que possamos continuar celebrando a diversidade e explorando os limites do que significa ser humano.
Veja mais:
Fonte: ListVerse, Practical Psychology, Aesthetics Wiki
Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim