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Durante o CES 2019 (Consumer Electronic Show), a maior feira de tecnologia do mundo, que aconteceu em Janeiro, a Intel anunciou o Project Athena (Projeto Athena, na tradução para o português), que visa criar os computadores do amanhã: além de finos e leves (como os ultrabooks), eles seriam construídos com melhor desempenho e maior duração da bateria. Com foco na necessidade do usuário, o objetivo é oferecer uma nova experiência e conseguir atender à demanda da computação moderna.
No Intel Day, que aconteceu na semana passada, evento no qual a empresa apresenta as novidades do ano, a Intel revelou mais detalhes sobre o Project Athena. Segundo ela, na “era das distrações” – caracterizada por todo mundo querendo fazer tudo ao mesmo tempo -, a ideia é trazer a rapidez e o desempenho dos smartphones e tablets para os notebooks.
Project Athena
Há menos de 8 anos, a Intel fez parte do processo de lançamento dos ultrabooks, que são os notebooks mais finos e leves, tirando um peso das costas (literalmente) de muita gente que precisava carregar o computador para cima e para baixo. Agora, é a vez de fazer uma nova revolução nos notebooks, elevando-os a um outro conceito.
Dentre os parceiros do projeto estão: Acer, Asus, Dell, HP, Lenovo, Microsoft, Samsung, Sharp e Google (com os Chromebooks). Nesse sentido, criar um ecossistema colaborativo pode contribuir para a aceleração do desenvolvimento de computadores. Ainda, para a Intel, envolver as empresas do setor é essencial para manter o crescimento da plataforma de modo geral.
Há quem afirme que o Project Athena seja uma forma da Intel de combater o uso do Windows em dispositivos com processadores com arquitetura ARM e notebooks com hardware Qualcomm Snapdragon. Tais equipamentos possuem uma grande duração da bateria e não usam o hardware Intel.
Processadores com arquitetura ARM são mais simples, oferecem conectividade sempre ativa (por possuírem suporte 4G LTE integrado) e gastam pouquíssima bateria, mas deixam a desejar no quesito desempenho. ARM é a sigla para Advanced RISC Machine (máquina de RISC avançada, em tradução livre) – sendo que RISC é a abreviação de Reduced Instruction Set Computer (Conjunto Reduzido de Instruções de Computador). É diferente de uma arquitetura CISC – Complex Instruction Set Computers (Conjunto Complexo de Instruções de Computador) na qual é baseado um processador x86, por exemplo.
Os notebooks do futuro
Com o Project Athena, a Intel deve orientar os fabricantes de equipamentos e componentes de computadores na criação de notebooks mais inteligentes, mais rápidos (devido ao 5G) e mais eficientes. A empresa está criando especificações anuais que os fabricantes devem aderir, semelhante ao processo de certificação que as empresas passaram para produzir os ultrabooks. Com isso, os consumidores podem ter certeza de que o produto que estão adquirindo é mesmo tudo o que promete.
Ainda não há uma lista definitiva sobre o que a Intel pode ou não exigir dos fabricantes, mas alguns itens essenciais já são cogitados. Eles consistem em tecnologias mais recentes que fornecem melhores experiências para os usuários e são baseados em 3 pilares básicos: foco, prontidão e adaptabilidade. A ideia é que eles possam te acompanhar durante as tarefas diárias, sejam rápidos e não te deixem na mão.
Basicamente, eles terão a mesma funcionalidade que o celular tem hoje em dia: não importa onde você esteja, é só tirar o notebook da mochila, abrir e usar. É preciso destacar que a expectativa não é de que fiquem mais finos que os ultrabooks atuais, mas que tenham melhor de desempenho, conectividade e vida útil da bateria. É por isso que, dentre as exigências, é provável que estejam presentes:
Conectividade 5G
Este é um dos grandes recursos do Project Athena. A conexão com redes celulares 5G será feita por meio de um cartão SIM e o objetivo é de que fique muito mais fácil navegar na internet. O acesso poderá ser feito sem conexão Wi-Fi (em locais onde há coberturas de rede 5G, é claro) e será muito mais rápido que o 4G e mais seguro (justamente por não precisar de se conectar a redes Wi-Fi públicas).
Esse aumento de velocidade também pode permitir fazer streaming de conteúdo 4K, jogar e usar serviços como o Nvidia GeForce Now (que, a partir da nuvem, conecta os jogadores, renderiza games e transmite jogos via streaming e mais) e o Google Stadia (o serviço de streaming de jogos da Google).
Inclusive, se analisarmos, um dentre os principais públicos-alvo do Project Athena é justamente o gamer. Com os recursos que oferece, a Intel visa produzir um notebook cujo uso pode ir muito mais além do que para realizar tarefas simples (como trabalhos de escola/faculdade), o que deixaria os gamers muito contentes.
Bateria com alta duração
A duração das baterias de notebooks já melhorou bastante de uns tempos para cá, mas ainda não é tão satisfatória assim. Com a redução do tamanho dos computadores, então, o espaço para a bateria também é menor. Ainda, um notebook mais potente também consome mais energia (com grandes poderes vem grandes… consumos de energia?).
Um dos objetivos do Project Athena é melhorar a vida útil da bateria, chegando a até 9 horas de duração. Isso é muito atraente, mas ainda não chega aos pés das mais de 24 horas de duração de um notebook com um Snapdragon, por exemplo. Porém, é injusto fazer tal comparação porque o desempenho de um Snapdragon deixa muito a desejar.
Vale ressaltar que escolher entre desempenho e bateria é complicado, visto que, normalmente, pela lógica da demanda de energia necessária para executar as tarefas, elas são características excludentes. Atualmente, ou você tem um bom desempenho e uma bateria com vida média de poucas horas ou tem uma bateria que dura muito, mas que o desempenho te deixa limitado na hora de executar as tarefas que precisa. Por isso, ao buscar oferecer um ótimo desempenho com uma bateria que dura quase 1/3 do dia, a Intel está realmente quebrando algumas barreiras.
É claro que, neste item, há uma ressalva. A duração de uma bateria depende muito do usuário. Usar o computador para jogar é diferente de usar para digitar um arquivo de texto, por exemplo. Repetindo: quando maior o desempenho demandado, maior tende a ser o gasto de bateria. Então, como tudo ainda é muito incerto, as 9 horas talvez sejam mais para uns e menos para outros. Só aguardando mesmo para saber.
Instant-on
Esta característica pode ser traduzida como algo semelhante a inicialização rápida. Isso acontece porque, por experiência própria, quase todo mundo sabe o quanto um computador com Windows pode demorar para ligar (isso quando ele não resolve atualizar antes). É por isso que a Intel quer levar a inicialização rápida para notebooks com Windows, de modo que ele tenha uma resposta quase que instantânea.
Em dispositivos com ARM, a lentidão do Windows para inicializar não é um problema e eles também permanecem conectados mesmo quando suspensos, de modo que os e-mails são sincronizados, por exemplo. O que se espera (e deseja) é que o Project Athena faça algo semelhante.
Especificação de hardware
Com a certificação, acredita-se que sejam definidas algumas especificações mínimas de hardware, como armazenamento SSD (disco sólido, diferente do tradicional HD, o disco rígido) – que normalmente acaba contribuindo para inicialização mais rápida – e suporte para Wi-Fi 6 (que é a tecnologia de rede sem fio mais recente).
Observe que, no vídeo abaixo, da introdução do Project Athena pela Intel, são justamente os benefícios proporcionados por esses 4 itens citados que estão em destaque:
Então, já é possível ter uma prévia do que esperar: um notebook fino, leve, rápido, com boa duração de bateria, sem necessidade de conexão com internet (se você estiver na área de cobertura da rede celular), com bom desempenho para jogos, sempre pronto para o uso e mais. Basicamente, um computador que pode ser usado em qualquer situação e que será seu companheiro para todo lado.
Um elemento que não está nos itens acima mas que é esperado é a inteligência artificial. No entanto, não pense que será um assistente virtual como o dos celulares atuais. A ideia é fazer algo que otimize o seu uso do computador, abrindo arquivos relacionados ao que você estiver usando, filtrando distrações, etc.
Ainda, outro item que é um palpite (mas é considerado por algumas pessoas) é sobre a possibilidade de, no futuro, a Intel incorporar as telas dobráveis ao Project Athena. Se essa moda realmente pega, nada impede a empresa de acrescentar mais um item no seu já ambicioso projeto. Será?
Lançamento e preço dos notebooks
Durante o Project Athena Ecosystem Symposium, que aconteceu em Taiwan, a Intel revelou que abrirá dois laboratórios do Project Athena na China e um na Califórnia, nos Estados Unidos. Neles, poderá trabalhar com os fabricantes e testar os produtos desenvolvidos. Os fabricantes, por exemplo, também poderão enviar peças para serem avaliadas, testadas e receberem recomendações do time de engenheiros da Intel. Os laboratórios devem ser inaugurados até o mês de julho de 2019.
O esperado é que os primeiros notebooks do Project Athena sejam liberados ainda no segundo semestre deste ano, mas, com a inauguração dos laboratórios em julho, eles devem fazer alguma aparição até 2020. Aqui no Brasil, por exemplo, é bem provável que ele chegue em 2020 (ou depois).
Com relação ao preço, acredita-se que os notebooks variem bastante, mas não se sabe ao certo qual pode ser. Enquanto alguns consideram que pode ser vendido a preço acessível, outros acreditam que eles serão caros, visto que o desempenho oferecido será bem satisfatório. Estima-se que, se virmos os notebooks do Project Athena fabricados pela própria Intel ainda este ano (e de terceiros no ano que vem), a primeira leva deve ser bem cara. Porém, os preços devem diminuir quando outros fabricantes começarem a vender também, visto que haverá competição.
Se forem realmente lançados como alternativas aos notebooks ARM (como o HP Envy x2, lançado no final de 2017), o preço deve ficar em torno de US$ 1,000 a US$ 1,500 dólares. No entanto, algumas pistas sugerem que será possível ver alguns notebooks com a certificação Athena mais acessíveis.
Ainda, o Project Athena também pode ser visto como uma forma de despertar as necessidades das pessoas pelo computador. Tal necessidade teve uma pequena queda nos últimos anos com a ascensão dos smartphones. Afinal, atualmente, para quem faz só o uso do “básico” no computador, um celular pode ser mais rápido e atender muito bem a demanda.
É assim, com esse “pacote completo” de hardware e software em harmonia – e que preenche várias lacunas que os computadores atuais deixam a desejar – que o Project Athena promete ser a próxima fase na evolução dos PCs. Porém, até que os notebooks sejam lançados e aprimorados, só nos resta esperar (ansiosamente).