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Nos últimos dias, diversos vídeos no TikTok e Reels do Instagram começaram a viralizar por um motivo um tanto curioso: os criadores estão mostrando como ganhar dinheiro por meio da venda de íris. Isso mesmo: uma empresa chamada World atua no Brasil há dois meses comprando imagens das íris oculares das pessoas. Entenda de onde ela surgiu e porque vem fazendo isso.
O viral no TikTok
Enquanto esta matéria estava em desenvolvimento um vídeo postado pela conta glaubherm no TikTok, em que o usuário conta que aceitou fazer a venda íris já tinha ultrapassado mais de 2 milhões de visualizações em cerca de três dias. Muitas pessoas nos comentários da postagem estão perguntando como isso foi feito e como ganhar dinheiro de forma fácil. Assista:
No Instagram, vídeos contando a experiência também estão fazendo sucesso e a pergunta que fica na cabeça dos mais atentos é: para onde vão nossos dados?
No X/Twitter, o mesmo acontece: algumas pessoas apoiam e querem saber mais sobre a compra de íris, enquanto outras se perguntam o motivo e principalmente o porquê uma empresa está investindo tanto em compra de uma identidade tão importante para as pessoas.
História da World
A World foi lançada no final de 2023 e, neste meio tempo, já até mudou de nome, pois antes se chamava Worldcoin. A ideia é financiada e atualmente comandada por Alex Blania e Sam Altman, CEO da OpenAI, mas atualmente administrada pela Tools for Humanity, instituição que se define como “um rede que desenvolve uma identidade digital baseada na leitura da íris, capaz de distinguir humanos de robôs”.
A empresa começou a operar no Brasil em meados de 2023, mas realizou apenas alguns testes. Nesta época, 2.681 pessoas fizeram a venda de íris. Em novembro de 2024, a World voltou ao Brasil e desde então já fez o cadastro fotográfico de mais de 150 mil pessoas. Ao mesmo tempo, mais de 500 mil brasileiros já baixaram o aplicativo até o momento, o que significa que este número de verificações pode subir ainda mais.
Em todo o mundo, a companhia alcançou a marca de 10 milhões de escaneamentos de íris e, apenas em 43 dias de 2025, mais de 1,5 milhão de pessoas realizaram a verificação da empresa.
A World também diz estar se preparando para web3, também chamada de Web 3.0, em que os usuários terão maior controle sobre seus dados e conteúdos. E isso inclui a oferta de recompensas para fornecerem suas informações mais pessoais (como a íris do olho), já que fazem isso sem ganhar na nada na Web 2.0.
Desde que foi criada, a empresa já passou a ter sua própria criptomoeda e até mesmo uma rede blockchain.
World ID
O World ID é o documento que a World diz estar criando para que todas as informações sejam agrupadas em um só lugar. A justificativa da empresa é evitar que seus dados sejam replicados por robôs, prevenindo fraudes e garantindo maior segurança em transações e interações on-line.
Quando baixa o aplicativo, uma pessoa não é obrigada a enviar informações como e-mail, nome completo e telefone, mas pode fazer isso para deixar seu perfil mais completo. Para conseguir realizar o agendamento, é necessário usar o aplicativo e fazer o agendamento até um dos 10 centros de atendimento, que, no Brasil, foram abertos apenas na cidade de São Paulo.
Quando o agendamento for confirmado, o usuário precisa ir até o local indicado e fazer o escaneamento de sua íris com apoio de uma câmera 3D que leva o nome de OrB: serão tiradas fotos do rosto e os dados conectados à conta. Veja a OrB:
Os ganhos financeiros acontecem apenas quando você faz esta “verificação humana” e vende sua íris. Na verdade, não há ganhos financeiros imediatos, pois você receberá quantidades variadas da criptomoeda criada pela World, que leva o nome de Worldcoin (WLD). Durante o fechamento desta matéria, uma Worldcoin equivalia a cerca de US$ 2 (R$ 12). Algumas pessoas estão recebendo 25 criptomoedas, outras o dobro disso.
Atendentes da World informam que, mensalmente, mais criptomoedas serão depositadas nas contas dos usuários. O valor do saque em reais também varia bastante, uma vez que a cotação da criptomoeda se altera com o passar dos meses.
A escolha da íris tem uma explicação: além de ser mais segura e mais acessível de ser captada, é possível chegar a mais de duas bilhões de pessoas sem nenhum falso positivo. Também é necessário uma câmera especial como a OrB para os dados da íris de uma pessoa serem captados, o que exige um maior investimento de pessoas mal intencionadas.
Casos em outros países
A World tem enfrentado problemas judicias em diversas partes do mundo desde seu lançamento. Na Espanha, ela foi proibida de funcionar em março de 2024, por falta de informações sobre como os dados são tratados e utilizados, assim como até dados de menores de idade chegaram a ser captados pela empresa.
Também em março de 2024, Portugal proibiu o funcionamento da World em seu território, justificando que tomou a decisão para “salvaguardar o direito fundamental à proteção de dados pessoais, em especial dos menores”.
A Coreia do Sul foi mais longe e em setembro de 2024 aplicou uma multa de R$ 5 milhões de dólares (US$ 830 mil) por quebra de leis de privacidade. Segundo a Comissão para Proteção de Informações Pessoais do país, uma investigação revelou que o projeto violou medidas voltadas à coleta e transferência de dados pessoais. As violações teriam ocorrido ao menos até o dia 22 de março do ano passado, segundo a investigação.
A Argentina foi outro país que aplicou uma multa a pouco mais de R$ 1 milhão. Em um comunicado, autoridades afirmaram que a medida busca “garantir o cumprimento dos direitos dos consumidores” e envolve ainda a exigência para a empresa eliminar “as cláusulas abusivas contidas em seus contratos” de adesão para novos usuários.
Dúvidas e inseguranças
Quando retornou ao Brasil no final de 2024, a World afirmou um compromisso de trabalhar com autoridades para prestar esclarecimentos, além de estar em contato com reguladores. A empresa também disse que não deseja substituir os documentos emitidos pelo governo, mas ainda há uma grande dúvida sobre o que é feito com seus dados.
A legislação brasileira informa que o consentimento do uso de dados pessoais precisa ser livre de remunerações. As pessoas irem até o local de escaneamento de íris é uma forma de se colocarem à disposição, mas o que será feito com os demais dados ainda é um grande mistério.
Em comunicado á imprensa, a World cita que as imagens da íris captadas pela câmera OrB são automaticamente deletadas e substituídas por um código anônimo. A empresa também se defende dizendo que as autoridades não entendem o funcionamento do World ID e como isso pode ajudar na prática.
Em 2024, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados iniciou um processo de fiscalização para obter mais informações sobre o projeto e avaliar a sua conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, mas o caso não tem atualizações desde novembro de 2024.
Você venderia fotos de sua íris em troca de criptomoedas ou esperaria mais um tempo para entender o verdadeiro propósito da World? Diga pra gente nos comentários!
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Com informações: Exame l CNN l World
Revisão do texto feita por: Daniel Coutinho em 14/01/2025
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